terça-feira, novembro 25, 2014

Rafael-A Sagrada Família do Carvalho


A exemplo de um post anterior, publicado aqui, trago-vos outra vez uma obra do pintor Rafael Sanzio, conhecido apenas por Rafael  (1483-1520) que eu amo de coração.
Desta vez a obra em apreço  é  "A Sagrada Família do Carvalho" (1518), realizada dois anos antes da sua morte  e onde podemos observar a sagrada Família com São João.
Como já o referi anteriormente este tema foi representado por Rafael em várias ocasiões, ao longo da sua trajetória artística.
 Nesta tela o pintor italiano dispõe das personagens atendendo a uma composição em diagonal conseguindo, deste modo, um grande dinamismo. Este recurso será mais tarde adotado pelos artistas do Barroco. Ao fundo da composição podemos contemplar um vale, o vale do rio Tibre e um carvalho sob o qual estão as personagens da composição. O que mais salta à vista são os rostos das figuras representadas, posto estas serem  doces e celestiais em especial  o de São João.
É aqui por demais notório que Rafael idealiza e humaniza ao mesmo tempo estas personagens sagradas para que as mesmas se  tornarem próximas de nós, o que de facto acontece. O gosto em representar elementos da Antiguidade Clássica torna-se evidente nesta obra. Assim, vemos São João apoiando-se num friso clássico, olhando ternamente para o menino.O modo como Rafael representa as pregas das roupagens da Virgem é de um enorme naturalismo, muito próprio da época. O emprego do claro-escuro dá imensa corporeidade aos volumes assim como o modo modo como o pintor dispondo o berço do Menino Jesus na tela acaba por acentuar a composição na diagonal, antecipando-se deste modo ao estilo Barroco.
Como disse anteriormente esta composição é uma das últimas obras de Rafael. Pensa-se que vários autores estiveram na origem da mesma, entre elas Gianfrancesco Perri um pintor seu amigo.
Esta ternurenta e muito bem realizada "Sagrada Família do Carvalho"  é um óleo sobre madeira e pode ser apreciada no Museu do Prado em Madrid/Espanha.

sábado, novembro 22, 2014

Por Dois Dias e uma Noite

Não é raro surgirem filmes que abordem esta chaga social que é o desemprego. O último que eu vi foi o Homens de Negócios ( The Company Men) do realizador  John Wells e com Bem Affleck muito bem secundarizado por Chris Cooper, Craig T. Nelson, Kevin Costner, Maria Bello e                     Tommy Lee Jones. É um tema que nos deita sempre abaixo, porque o que está em causa é muitas vezes aquilo que permite um ser humano sobreviver a este mundo 'cão' com um mínimo de dignidade.
O filme belga  que estreou esta semana de seu nome Dois Dias, uma Noite (Deux jours, une nuit) dos irmãos  Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, com uma portentosa e muito talentosa Marion Cotillard é a meu ver um objecto cinematográfico raro no que diz respeito à abordagem desse problema que aflige minhões de pessoas por este mundo fora que é precisamente o desemprego. Marion Cotillhard tem-nos vindo a habituar a vê-la em grande papéis e aqui não foge a regra, quanto mais não seja porque ao longo de 120 minutos vêmo-la em todas as cenas, dominando todo o filme com uma  presença completamente despojada, onde vestida apenas com  umas singelas calças de canga e um pobre top ela percorre todo o filme com a grandeza  de uma das personagens mais trágicas que há muito me foi dado a ver.
Esta mulher de seu nome Sandra, mãe de dois filhos e casada com um homem infatigável (o excelente actor Fabrizio Rongione) no apoio que lhe presta até ao fim vê-se de um momento para o outro e a sair de uma profunda depressão, em  risco de perder o emprego e ainda pior fica ao saber da monstruosidade que os seus empregadores fazem  ao  oferecer um prémio aos restantes trabalhadores se eles votarem para que Sandra não regresse à empresa.
É então que esta personagem divinamente  representada por Cotilhard, decide no fim de semana anterior ao seu despedimento, (visto este ir-se dar  segunda feira a seguir durante uma votação)  e ajudada pelo seu incansável marido, visitar os colegas e convencê-los a abdicarem do seu prémio  no intuito de ela manter o seu posto de trabalho. Partindo de uma premissa algo singela dentro da monstruosidade do acto proposto pelos seus empregadores, o que vemos aqui é a demanda de uma mulher que à beira da exaustão física e mental,( temos sempre a ideia que de um momento para o outro veremos esta mulher sucumbir em plena rua) percorrer esta via do calvário e onde também vemos em cada universo familiar que ela visita, todo o  desespero com que hoje em dia as pessoas e em concreto os trabalhadores passam para sobreviver numa Europa em crise e onde mil euros valem bem o desemprego de um seu colega de trabalho, por mais anos que o mesmo ali esteja ao lado no seu posto de trabalho.
É um filme muito desesperante, triste e  onde apesar da luz da esperança ser  muito ténue,  mesmo assim os realizadores  conseguem dar-nos  a conhecer a bondade intrínseca de algumas  pessoas que nada tendo e de tudo precisarem, não abdicam mesmo assim de um gesto de bondade e de solidariedade para um seu semelhante.
A esperança ainda existe e ela está bem espelhada na cena final onde sem música ( o filme praticamente não ao tem) vemos o sorriso desta desesperada mulher e ouvimos os seus passos a caminho de casa. Para mim este Dois Dias, Uma Noite é decididamente um dos melhores filmes do ano.

terça-feira, novembro 18, 2014

Nightcrawler - Repórter na Noite

Com realização e argumento do norte americano  Dan Gilroy está em exibição um fantástico e soturno filme de seu nome Nightcrawler - Repórter na Noite, com um soberbo Jake Gyllenhaal no papel principal coadjuvado por uma não menos sublime Rene Russo, naquele que eu acho ser os melhores papéis que ambos tiveram até agora ,principalmente no que diz respeito ao primeiro.
 De facto, Jake Gyllenhaal  tem aqui neste seu Lou Bloom, um psicopata, destrambelhado anti social, louco...enfim  um ser abjeto  um papel que o marcará para sempre em termos de representação, de tão 'irreconhecível' que o mesmo está, seja  em termos físicos, pois o actor está magríssimo, como também em termos psicológicos, sendo que  ao longo de 120 minutos o que vemos neste Nightcrawler é a personificação de um dos personagens mais repulsivos que o cinema já nos deu, sem que contudo deixemos de simpatizar com o mesmo tal o modo como o actor consegue levar a bom porto esta tarefa  ciclópica e que não está ao alcance de qualquer um.
O  filme é um murro no estômago, pois o que ali vemos é aquilo que muitas vemos  nada mais é do que o puro voyarismo ,do qual qualquer um de nós já sofreu quando no recesso do nosso lar damos por nós a olhar para a televisão e a seguir a desgraça alheia sem nos questionarmos até que ponto aquelas imagens são licitas serem passadas na televisão.
 E é precisamente aqui que este filme põe o dedo na ferida,ao dar-nos a conhecer estes Nightcrawlers, estes abjectos pseudo repórteres  que pululam na noite qual vampiros sedentos de sangue e que de câmara ao ombro e  seguindo  noite após noite as   emissões de rádio da polícia não hesitam em filmar o mais sangrento e brutal  acidente rodoviário, fogo, assassínio, massacre na ânsia de o entregar a quem detentor do poder de as passar na televisão não só não hesita em fazê-lo como exige que as mesmas só passarão com o máximo de sangue e de horror e não é de estranhar que uma incrível René Russo dê o toque ao dizer para Lou, o seu mais dileto e  monstruoso freelancer, que o tipo de imagens que ela quer e que o público anseia passa por ser 'o de uma mulher aos gritos na rua com a garganta cortada'.
 Por aí vemos o tipo de gente que Dan Gilroy nos dá a conhecer e que quando saímos da sala de cinema, ficamos a questionar a quantidade de vezes que já demos por nós a olhar para a televisão e a ver a desgraça alheia sem nos importarmos muito com isso até que a desgraça nos toque à porta como é o caso da sublime cena em que Lou filma o acidente do  seu colega de profissão e vemos todo o horror espelhado no olhar deste último.
Um filme que recomendo vivamente quanto mais não seja pela temática e pelo papel deste grande actor que é Jake Gyllenhaal. Fantástico.

terça-feira, novembro 11, 2014

A Nossa Pequenez

A máxima preocupação com aquilo que comemos, bebemos  e pelo modo e estilo de vida que levamos,entrou de tal modo no nosso quotidiano que quer queiramos ou não isto acaba por ser quase uma ditadura. Não basta a publicidade diária nos mais diversos meios de comunicação audiovisuais. Ela entra também pela internet, revistas das especialidade ou não, cartazes publicitários, o boca a boca e tutti quanti. Se estamos num consultório médico, cabeleireiro, hospital, etc e apanhamos uma revista para ajudar a passar o tempo, é só virar duas ou três página e lá está o avisozinho de como viver bem comendo ou bebendo coisas saudáveis ou indo para sítios onde o nosso corpo será massajado, acariciado, até nos sentirmos em pleno Nirvana. Hoje passando os olhos por noticias na net dou com uma em que exaustivamente se fazia a lista dos melhores Spas do mundo, aqueles onde pessoas famosas iam para relaxar, comer, beber, ler, e entrar em comunhão consigo próprias expurgando do corpo e da alma tudo o que seja negativo e impuro. Uma autêntica maravilha, a mais fina flor da bem estar da cabeça às pontas dos pés. Claro que a coisa era tão cara que por lá andava só gente do cinema ( e nem todos/as) da política, estilistas, do show biz, ou  gente ociosa mas cheia de dinheiro.....
Há dias entrando numa mercearia gourmet, e estando a ver  latas de patê  a proprietária abeira-se de mim toda e diz muito simpaticamente que os mesmo  serem feitos sem glúten. Foi aí que dei por mim a pensar nos inúmeros vezes que vamos comprar algo e somos confrontados com coisas do género: estas batatas foram fritas em óleo de amendoim, o que há de mais saudável para o organismo, isto não tem gemas, é feito só com claras, olha... não tem farinha, se reparar isto é feito apenas com soja e legumes... este bolo não leva açucar  branco, só o amarelo e o chocolate não é chocolate é alfarroba...ah estas empadas parecem de carne, mas não...é feito de soja ...e o leite também é só leite de soja...parece que leva natas...mas não leva ...esta água é do mais cristalino que existe...e a cerveja que aqui se serve é só artesanal, muito mais saudável e que não tem nada, mas nada a ver com as feitas industrialmente....etc...etc.
Vimos para casa satisfeitíssimos com o produtos adquiridos e/ou consumidos. Fomos ou seremos expurgados de tudo que que faz mal, e neste caso inclui-se a carne, o peixe, as farinhas, o leite de vaca, os ovos, o maléfico chocolate e seus derivados, as natas, os açucares brancos, o malfadado glúten, tudo numa ou ideia mirífica de uma vida saudável e longínqua.
Mas...de repente eis que surge uma sorrateira e microscópica  bactéria de seu nome legionella e que que pode ser inalada através de gotículas de água (podemos ser inalá-la num inocente e singelo duche) e eis que todo um modo saudável modo de vida que levamos anos a construir é destruído num abrir e fechar de olhos.
De facto não somos nada, vivemos na ideia que somos tudo sem o sermos,e na mais pequena e invisível bactéria ou no mais pequeno vírus o homem é simplesmente derrubado dando conta então da sua pequenez e insignificância perante determinadas forças da natureza.

segunda-feira, novembro 10, 2014

Rafael-A Virgem do Peixe

Parece impossível, mas já estamos a quase um mês do Natal.. Ainda 'ontem' andávamos em calções de praia e já estamos quase em Dezembro. O tempo passa a correr.
 Em homenagem à quadra postarei aqui algumas telas alusivas a esta época de grande religiosidade cristã. Começo então pelo pintor ialiano  Rafael Sanzio, (1483/1520), conhecido apenas por Rafael.
Esta obra a par de uma outra que já coloquei aqui num post anterior trata mais uma vez o tema da Virgem e do Menino Jesus. Aqui o artista aborda o tema da Sagrada Conversação. A Virgem Maria aparece aqui entronizada,e tem nos braços o menino Jesus. Junto a Ela vemos representado São Jerónimo e o arcanjo Rafael, enquanto este último apresenta o jovem Tobias, que tem um peixe entre as mãos.O peixe faz alusão ao episódio que está registado no Livro de Tobias no Antigo Testamento, em que se explica que uma noite, o pai de Tobias, que era coveiro, para evitar dormir em casa depois de ter acabado o seu trabalho, optou por dormir no pátio.Enquanto dormia, umas fezes de pássaros caíram sobre os seus olhos, deixando-o cego. O arcanjo Rafael disse a Tobias que o seu pai recobraria a vista se besuntasse os seus olhos com fel de um peixe, dando-se assim o milagre da restituição da visão. Resulta também interessante observar as cores vivas que Rafael aplica na indumentária das personagens, que se potenciam de forma assombrosa graças à luz que incide nelas. Rafael realizou esta obra para o Mosteiro de San Domenico de Nápoles por volta de 1513.Não posso deixar de referir que o trono da Virgem que foi diretamente inspirado numa escultura antiga de Júpiter que se conserva em Roma, reflete o interesse do pintor e dos seus contemporâneos pela arqueologia.Esta obra  denominada de "A Virgem do Peixe",é um óleo sobre tábua passada à tela e tem as dimensões de 2.15x1.58 cm.

domingo, novembro 09, 2014

A Queda do Muro

A Google que tem sempre ideias maravilhosas no que respeita a homenagear datas de instituições pessoas, acontecimentos...desta vez esmerou-se com o aniversário dos 25 anos da Queda do infame Muro de Berlim, com um Doodle muito assertivo e muito elegante nas suas imagens.
Parabéns à Google por este singelo e muito emotivo filme.

sábado, novembro 08, 2014

Belle


Partindo da belíssima tela que supõe-se  que foi pintada por Johann Zoffany, e onde aparece a verdadeira  Dido Elizabeth Belle ao lado da sua prima Elizabeth Murray (ambas personagens que existiram na realidade) a realizadora britânica Amma Asante, com argumento de  Misan Sagay fez neste belo filme intitulado de Belle a recriação da vida de Dido Elizabeth Belle um drama histórico que tem como pano de fundo a Inglaterra do século XVIII.
Fui vê-lo e adorei o filme.
 Belle com sua prima Elizabeth Murray
Muito bem realizado e com actores seguríssimos como é o caso da actriz  Gugu Mbatha-Raw ( no papel principal) Matthew Goode , Emily Watson, Tom Wilkinson, Sarah Gadon, Miranda Richardson, James Norton, Tom Felton entre outros, começamos por conhecer nas primeiras cenas a pequena Dido (como depois será chamada por todos)  e o encontro que tem com o pai,o capitão John Lindsay que por obrigações de trabalho (era oficial da marinha) vê-se na contingência de a entregar a pequena Dido a  um irmão(Lorde Mansfield) que por sua vez já tinha  a  seu cargo a criação de Elizabeth Lindsay, sua outra sobrinha. É assim desde pequenas que as duas primas (que se consideram como irmãs)  ficarão  para sempre ligadas por laços de  parentesco e sobretudo de grande amizade e cumplicidade, sofrendo ambas o martírio típico de uma época de terem de arranjar noivo que as mantenha ou as eleve socialmente agruras essas que Elizabeth Lindsay terá em duplicado visto não ter fortuna ao contrário de Dido a grande herdeira do capitão Lindsay. É neste panorama de gente abastada e com a escravatura como pano de fundo que Anna Asante nos dá um portentoso filme com prestações muito boas, como não é por demais sublinhar e onde a procura do amor vai esbarrar com os preconceitos raciais e onde a cor da pele era até impeditivo de Dido se poder sentar à mesa quando o seu abastado tio Lorde Mansfield (a que ambas as primas chamam de pai num gesto de carinho incomensurável) dava algum jantar ou realizava alguma festa. Este filme  tem também o condão de ser  extremamente sensível, emotivo  e muito inteligente  no modo como trata , o   amor, os laços familiares,  amizade e até as questões raciais . Um filme muito bem e que aconselho vivamente. Não posso deixar de realçar o facto do filme ter ganho o prémio Bafta de Cinema para melhor estreia de cinema.

Interstellar

Com realização de Christopher Nolan e com  argumento do mesmo em parceria com o seu irmão Jonathan Nolan,estreou em Portugal o tão aguardado  Interstellar, cheio de nomes sonantes como Matthew McConaughey,  Anne Hathaway, Jessica Chastain , Wes Bentley, Michael Caine, Casey Affleck, Matt Damon David Gyasi, Mackenzie Foy e Topher GraceJohn, Lithgow, entre mais uns quantos. Eu amo de coação o C. Nolan e para mim os seus filmes Memento e Inception, configuram-se como o que de melhor já se fez em termos cinematográficos. 
Foi por isso com alguma expectativa que fui ver está sua nova incursão no mundo da ficção científica e para meu grande desgosto detestei o filme. Este até pode ser uma obra prima e há quem diga que ele  já se posiciona como um dos grandes vencedores dos próximos Oscares. Contudo, eu só ansiava que o mesmo terminasse para me ir embora tal era o tédio que se apoderou de mim e olha lá que o filme tem a duração de 3 horas e por isso o tamanho do meu tédio era incomensurável.  Pelo que li o realizador até teve como consultor   Kip Thorne, um dos mais conceituados físicos da comunidade científica da actualidade e este  teve aqui o  papel de consultor teórico do argumento. Isso não invalida que eu considere o filme um grande pastelão, mesmo que o que aqui está em jogo até nem seja a dimensão ficcional mas sim a família como último reduto do ser humano e que a ligação entre aquele pai e a sua filha que ele tem de deixar para trás seja o que de melhor o filme tem.
 É um filme lento, pesado, triste, a espaços cheio de desesperança, e onde a vertente ecologista não deixa de estar presente na desruição que paulatinamente o homem vai fazendo ao planeta terra, chegando a um ponto onde não lhe resta mais nada do que procurar novos mundos. É então que entra em cena a teoria de Einstein-Rosen (ou "buracos de minhoca"), portais que possibilitam a ligação entre mundos paralelos, independentemente da distância entre eles. É constituída  uma equipa de exploradores espaciais que é  enviada na missão mais importante da História humana: entrar num desses portais e encontrar um mundo onde a vida possa prosseguir.... blá,blá, blá....
Há certas  falas do filme que os mais leigos como eu em matéria de portais  e quejandos, ficam a apanhar 'bonés', pois não se entende o que ali está a ser dito e também o realizador não se esforça muito para  explicar, tão deslumbrado que está com a fotografia, os planos de camara,a mensagem ficcional, o cenário, e tutti quanti. O que fica do filme é a prestação de alguns actores tais como a pequena Mackenzie Foy um portento de jovem actriz e de Jessica Chastain que é um valor sempre seguro.
 No que respeita a Matthew McConaughey, bem...eu simplesmente acho na minha modéstia que o nosso querido Matthew não leva jeito nenhum nesse tipo de papéis (o homem leva jeito é em papéis cómicos e excêntricos) e aqui em particular há qualquer coisa nele que não convence e até só desvaloriza o filme.
 Num termo comparativo (se bem que ambos partem de premissas bem diferentes), o filme de Alfonso Cuarón,  Gravidade e que no ano passado foi um dos grandes vencedores dos Oscares, mete este no chinelo a...120 à hora! 
 Se é um bom filme? Há melhores.
 Se vale a pena ir ver? Sim, pois sempre se aprende alguma coisa sobre esses portais que fazem a ligação a outros mundos e que  pelo andar da carruagem e pela velocidade com que o ser humano destrói este planeta não tarda nada bem vamos todos precisar deles! 

segunda-feira, novembro 03, 2014

Um Santo Vizinho

Com realização de Theodore Melfi, fui ver o filme Um Santo Vizinho (St. Vincent De Van Nuys ) com este grande actor muito injustamente esquecido que é Bill Murray, coadjuvado por uma sempre segura Melissa McCarthy, ( que para mim é  muito boa em papéis sérios e que eu não acho muito graça em papéis cómicos),  Naomi Watts, numa impagável prostituta russa grávida, Terrence Howard, Chris O'Dowd e o estreante e muito franzino Jaeden Lieberher nos papéis principais. Confesso que fui ver o filme   com grandes expectativas  e apesar do mesmo cumprir o seu papel de comédia  e a espaços até  fazer-nos soltar uma boa gargalhada, no fim saí do cinema algo desiludida pois estava a espera de bem mais. É claro que todos os actores cumprem muito bem o seu papel, o mesmo está uns belos furos acima de muitas comédias que se vêm por aí em cartaz, Bill Murray está incrível, mas a história é simplista, o guião  algo preguiçoso e  por vezes muito previsível nas situações criadas. 
O que fica desta obra é  mesmo uma boa prestação dos seus actores, que dão o litro durante todo o filme e  admirar-nos com  Jaeden Lieberher que para primeiro papel está surpreendente dando boa réplica a Bill Murray com que contracena em quase todas as cenas.
Quanto à  história  essa não  tem nada de surpreendente. O que vemos é um  rezingão e solitário personagem de seu nome Vincent (Bill Murray) que devido à falta de dinheiro se vê a páginas tantas a fazer  de baby sitter de um rapazinho também muito solitário e inteligente, com uma mãe divorciada, trabalhadora e algo ausente e que  vai  paulatinamente mudando o mundo deste homem que apenas vivia  egoistamente para o seu gato, as suas falhadas  apostas em corridas de cavalos, as suas constante bebedeiras e sexo ocasional com uma prostituta cheia de genica, carpindo a dor de ver a sua adorada mulher ir definhando num lar com esta doença terrível que é o Alzeimer.
Não é uma má comédia, é uma comédia sofrível que tem bons  e esforçados actores.
Se se vê com agrado? Claro que sim! Uma grande obra? Claro que não.

terça-feira, outubro 21, 2014

H.Avercamp-Cena sobre o Gelo

Apesar do tempo cá em Portugal e em outros pontos da Europa, estar mais para Agosto de tão quente que está, do que para Outubro, não resisto aqui a escrever sobre esta  bonita pintura que aqui se vê e  que nos mostra  um típico dia de inverno na aldeia holandesa de Kampen, a noroeste de Amesterdão. O autor desta pitoresca obra é Hendrick Avercamp, pintor que eu aprecio imenso e que era natural desta terra e por isso era conhecido como o "mudo de Kampen" pois Avercamp padecia desta enfermidade.
A obra reflecte a vida quotidiana do lago existente em Kampen, e é uma vida que decorre sem qualquer problema sobre o gelo. Os homens e as mulheres realizam o seu trabalho profissional do dia-a-dia, enquanto as crianças e alguns adultos patinam livremente sobre o gelo.
Essas crianças estão a jogar uma mistura de hóquei moderno com golfe e não nos podemos esquecer que os desportos de inverno eram ( e ainda são)  muito apreciados pela sociedade holandesa. Há também no meio desta multidão de figurinhas personagens mais ricas que podem ser distinguidas através das suas vestes e, sobretudo, através das suas golas gomadas (muito caras na altura) e que cruzam o lago em bonitas carruagens. É também interessante observar o reflexo da carruagem da frente sobre a água gelada, efeito muito bem conseguido por Avercamp, um verdadeiro especialista em paisagens de inverno.  
É de referir que na sociedade holandesa a patinagem sobre o gelo era muito comum, existindo, inclusivamente carruagens com patins para as pessoas se poderem locomover de um lado para o outro do lago, tal como podemos observar no quadro.
Os pormenores extremos da narrativa, descrevendo todos os pormenores, é característica da pintura flamenga, e tem a sua origem na obra de Brueghel, o Velho, pintor que influenciou muito Avercamp. As cores frias, brancas e cinzentas, dominam a composição, elemento característico da paleta o pintor, mestre da paisagem e, sobretudo, de cenas de inverno que na sua época tinham muito êxito. 
Esta obra muito bonita e singela  de Hendrick Avercamp denomina-se de Cena sobre o Gelo, foi realizada por volta de 1625, é um óleo sobre madeira e pode ser apreciada no National Gallery of Art de Washington.

sábado, outubro 11, 2014

Malcovich

Che Guevara
A primeira vez que dei conta do grande actor que John Malcovich era foi quando vi o filme Ligações Perigosas em que nele entravam uma estupenda e muito ressabiada  Glenn Close e uma novíssima  e muito bela Michelle Pfeiffer.Era e ainda é  um bom  filme realizado   por Stephen Frears,  cujo argumento foi  baseado na peça homónima de  Christopher Hampton.
Fiquei logo a gostar de Malcovich e a partir daí fui seguindo com alguma atenção a sua variadíssima e extensa carreira, feita de muitos altos e alguns (poucos) baixos, isto porque mesmo que o filme não seja uma grande obra de arte, estando Malcovich as coisas sempre vai andando e não se perde tudo.
A.Einstein
Depois vi aquela loucura que foi Quem quer ser John Malcovich,um estranho filme de Spike Jonze e onde entrava John Cusack, Cameron Diaz, e obviamente um sarapantado Malcovich e achei que estava ali um génio na representação, certeza que se cimentou com outros filmes entre os quais o Destruir Depois de Ler, outra pérola desta vez dos irmãos Coen, com os incríveis Jorge Clooney, Brad Pitt e uma incrível Frances McDormand ( que eu adoro de coração) e ali vi que este actor é mesmo uma coisa extraordinária, não esquecendo ainda o amor que o mesmo tem por Portugal, onde se não me engano até tem um restaurante em parceria com mais alguns sócios portugueses.

Andy Warhol
Hitchcock
Quando eu já julgava que ele tinha feito tudo eis que o homem resolve fazer uma exposição em que ele serve de modelo para homenagear uma série de figuras conhecidas que vão do cinema  à pintura, passando pela literatura. As fotos foram tiradas por Sandro Miller, e vemos nessas fotos, que já vão aparecendo em diversos órgãos de comunicação social e revistas, um Malcovich, metamorfoseado em  Pablo Picasso, Marilyn Monroe, Andy Warhol, M.Jagger, Alfred  Hitchcock,Che Guevara, Einstein, Truman Capote, Ernest  Hemingway, entre  tantos outros....
Ernest Hemingway
Esta exposição denominada, "Malkovich, Malkovich, Malkovich:  Homage to photographic masters", estará então patente na galeria Catherine Edelman em Chicago a partir de 7 de Novembro.
Dar-se-á com certeza  um belo e muito original encontro entre o grande público e as saudáveis loucuras deste grande actor que é John Malcovich.
A ver vamos....


 

J.Paul Gautier








John Lenon



Marilyn Monroe

Mike Jagger

Pablo Picasso

segunda-feira, outubro 06, 2014

Um passeio por esta Lisboa

De vez em quando vou de metro até ao Cais de Sodré, depois vou andando a pé para o Rossio e daí apanho o autocarro para casa. O que mais me surpreende nesta caminhada é a Ribeira das Naus que está tão diferente, mas tão diferente que muitas vezes me quedo parada ou sentada nos degraus que dão acesso ao rio surpreendida com as novíssimas modificações aí operadas e lembrando anos atrás em que o trânsito ali era tão caótico e estava tudo tão degradado que só por lá passava quem manifestamente tinha que por lá passar!
Agora  tudo está diferente, o rio abriu-se para a cidade de Lisboa. Tudo está mais desafogado, limpo, bonito e os turistas e os nacionais adoram. Estar ali sentada a ver o  rio Tejo e a nossa vista  abranger uma grande parte da outra margem e com  os barcos a fazerem a sua entrada no cais e respectiva saída faz-nos perceber o porquê deste ponto da cidade de Lisboa ser uma atracção para milhares de turistas que nos visitam todos os anos. Também a Praça do Município com os seus restaurantes e esplanadas tornou-se um lugar de passeio deveras interessante. 
De facto, vale a pena visitar o Mercado da Ribeira e os seus novíssimos pontos de restauração, alguns deles 'comandados´ por bons chefes de cozinha, vale a pena dar uma espreitadela a algumas ruelas adjacentes aos mercado e ir circundando devagar até aos restauradores, passando pelas movimentadas ruas do rossio e para quem gosta de andar a pé ('alma até Almeida', como dizia a minha falecida avõ) subir a Av. da Liberdade até ao Marquês  de Pombal, espreitando as monstras das grandes marcas que ali estão instaladas.
Lisboa está muito bem situada  na lista das capitais onde vale muito a pena passar um fim de semana. Tem boa comida, gente simpática, e uma luz única. Os seus miradouros são o que de mais bonito há e não é de surpreender que já está à frente de lindas cidades como Madrid e Amesterdão.
Está de parabéns a câmara da cidade e quem investe nesta cidade maravilhosa.
Clicando no link abaixo poderão dar uma espreitadela à nova Ribeira das Naus e clicando no  power point poderão deliciar-se com os maravilhosos miradouros e esplanadas  de Lisboa.
Uma boa visita a esta encantadora cidade.
http://vimeo.com/101176605


quinta-feira, outubro 02, 2014

Em Parte Incerta

Com realização do grande realizador  David Fincher eis que estreou hoje nas salas de cinema a sua novíssima obra "Em Parte Incerta", (Gone Girl) com Ben Affleck e  uma surpreendente Rosamund Pike nos principais papéis. O filme foi retirado da obra de Gillian Flynn que também é aqui a autora da adaptação cinematográfica.
 Este Em parte Incerta é para mim  um acontecimento cinematográfico, (como quase todos as obras deste realizador), visto que o filme é mesmo muito bom e não me admiraria nada que aquando dos Óscares não só o víssemos nomeado para várias categorias, tais como o de Melhor Filme, como Rosemund Pike a receber o de Melhor Actriz Principal e autenticamente merecido, pois embora a sua carreira seja feita de altos e baixos e ela não seja uma estrela ao nível de uma Amy Adams, para lá caminha rapidamente.
 O filme é extremamente bom e fantasticamente soturno. É o desmanchar paulatino de um casamento, em que se no início tudo parece muito bem, com o andamento do mesmo brechas vão surgindo e o que vemos não é nada bonito de se ver.
É um filme longo, violento, muito negro e triste, a espaços extremamente surpreendente, desconfortável, amargo, por vezes irónico, com prestações avassaladoras de ambos os actores  coadjuvado pelos fantásticos Tyler Perry (num impagável advogado) Neil Patrick Harris,Carrie Coon, Kim Dickens, Patrick Fugit , entre outros.
É uma obra cinematográfica que deixa-nos um sabor amargo durante e no fim, e em que a 'instituição matrimonial' é completamente estraçalhada não ficando pedra sobre pedra.
No fim...bem no fim cada um sai do cinema muito descrente da vida conjugal (habitua-te....isto é o casamento! diz a páginas tantas Amy a personagem principal para um atónito e assustado marido) e o que vemos ali, de delicioso ele nada tem, muito pelo contrário!
Pelo que eu li,  Gillian Flynn, a autora do livro não quis que o fim do filme não fosse igual à da obra para surpreender o espectador. Eu como não li a obra(faço intenções de o fazer depois de hoje ter visto o filme) saí do cinema  completamente surpreendida, com um sabor amargo na boca e com a cabeça muito cansada de tanta maldade e atónita com o que um ser humano é capaz de fazer a outro mesmo vivendo durante anos sob o mesmo tecto.
Realmente o ser humano não me deixa de surpreender nunca, e talvez seja isso que faça a sua riqueza e grandeza.
Um grande filme de um grande realizador, merecedor de todos os prémios que poder ganhar.
 Ah...Ben Affleck está um must, pois para mim  tem tanto de bom actor como de bom realizador.
 Temos homem!

sábado, setembro 27, 2014

Cenas da Vida Romântica

Fui ver faz hoje oito dias o filme de João Botelho Os Mais-Cenas da Vida Romântica e com os actores Adriano Luz,, Ana Moreira, Catarina Wallenstein, Filipe Vargas, Graciano Dias, João Perry, Maria FlorRita Blanco, entre outros tantos bons actores.
 Gostei muito do filme da  sua estética, daqueles cenários pintados à mão, daquela corrida de cavalos quem  é um must, amei ver o grande actor que é João Perry e também não desgostei nada de ver a actriz brasileira Maria Flor no papel de Maria Eduarda. Tive foi uma pequena desilusão com  o personagem Carlos da Maia que Adriano Luz interpreta. Gostaria que tivesse sido escolhido um actor mais velho e mais louro porque como li e reli várias vezes esta obra fantástica de Eça de Queiroz, não sei porquê sempre coloquei na minha cabeça um Carlos diferente. Este aqui, não vai mal mas achei-o muito novo e muito imberbe, mas isso não invalida que vá muito bem assim como este personagem único que é João da Ega que cada vez que aparece em cena, brilha tanto que só nos apetece levantar e aplaudir. Um filme muito bem feito e  com bons actores . Parabéns a  João Botelho e toda a sua trupe.

terça-feira, setembro 23, 2014

Paisagem Outonal

Como praticamente não tivemos verão, era espectável que o Outono caísse em força e cá está ele, cheio de chuva, enxurradas, gente com as casas alagadas, ruas da cidade transformadas em rios, e até centros comerciais com água a cair do teto como se de um chuveiro se tratasse. Como é possível uma coisa dessas vai para lá da minha compreensão, porque se isto é assim que estamos no Outono, quando vier o Inverno e chover  'forte e feio' não sei o que será. O que nos vale é que a temperatura está bem amena mas existe sempre aquele dilema da pessoa não saber o que vestir. Se veste e calça-se muito a verão arrisca a ficar com os pés e o corpinho  todo molhados com estas constantes trovoadas, se veste roupa mais quente arrisca a atabafar de calor. Estamos em plena 'Verdade Inconveniente' do Al Gore e não há dúvida  que o clima se alterou totalmente. Penso que a Cimeira que hoje começa em Nova Iorque ( e em que Leonardo diCaprio é um dos oradores) não irá trazer grandes novidades, devido aos interesses  vários que cada país possui.
Contudo, o que eu vos queria aqui hoje falar é de uma tela muito outonal do pintor holandês Meindert Hobbema. Na paisagem que aqui surge em  tons quentes de castanho domina uma cena muito calma e outonal. Os bonitos caminhos sinuosos que conduzem o nosso olhar através da tela criam a  ilusão de profundidade. Este  pintor revelou-se exímio na reprodução muito precisa da incidência da luz em cada folha, ou tufo de relva. Os animais e os humanos que aqui surgem são elementos secundários, em relação à beleza da paisagem em si. De facto só um olhar mais atento consegue descortinar as casas , meios escondidas pelas árvores.
Nas minhas pesquisas sobre este pintor holandês, descobri que durante a década de 1670 e no auge das  suas faculdades artísticas, Hobbema tornou-se por casamento cobrador de taxas de vinhos em Amesterdão e a partir de então o seu trabalho de pintura reduziu-se a quase nada, o que não deixa de nos surpreender.Enfim...
Esta tela denominada Estrada ao Longo de um Dique foi realizada por volta de 1663, é um óleo sobre tela e faz parte de uma Colecção Particular.

sábado, setembro 20, 2014

Eu Sou o Amor

Há dias passou na RTP 1, às tantas da madrugada um filme que quando esteve em cartaz eu não tive oportunidade de ver com  grande pena minha. O filme denominado Eu Sou o Amor  é do realizador italiano Luca Guadagnino e a única coisa que posso dizer é que o filme é belíssimo, daquelas obras que vou guardar no meu coração e que irei ver se o mesmo está à venda porque procurarei revê-lo algumas vezes. Tem a grande Tilda Swinton ( que eu amo de coração) como protagonista principal coadjuvada por Alba Rohrwacher, Edoardo Gabbriellini, Flavio Parenti, Pippo Delbono e a grande Marisa Berenson.
Assistir a este filme é para mim como assistir a uma Ópera, uma ópera de cariz puramente familiar, em que Tilda Swinton, é o pilar básico e que quando desmorona, vai levando atrás dela o resto da família. Ela aqui é uma russa, que apenas dialoga em russo com o seu filho do meio e é  através deste e da sua filha mais nova (nunca através do marido, que a vê apenas e só como figura decorativa)  que vamos descobrindo um pouco do pensar desta mulher que sendo a matriarca de uma abastadíssima família milanesa, os Recchi é também o seu elemento mais opaco, quase transparente para  o marido, ('tu não existes'!) diz ele a páginas tantas, e  que contudo é o elemento mais apaixonado e mais vivo deles todos!
O realizador consegue desde o primeiro momento que vemos esta mulher Emma de seu nome, dar-nos a ver uma mulher que reprime continuamente as suas paixões, sendo uma delas pela culinária e não deixa de ser espantoso e quase antológico vê-la degustar gulosamente o prato de marisco cozinhado por António, a sua grande paixão! E é  ao dar-se o encontro entre ela e António, o melhor amigo do filho, ambos amantes da comida que se inflamam as paixões e se dá  início ao desmoronar da frieza desta matriarca, arrastada sem freio para uma paixão incomensurável  por um homem que  desde o primeiro momento vemos que ele é tudo aquilo que o filho mais novo queria ser e não pode, arreigado   que tem de estar aos valores familiares.
Vemos também aqui ao desmembramento de uma família através do seu tecido empresarial, quando o patriarca decide vender a fábrica que deu nome a esta família e os unia como fios entrelaçados numa tela e não é sem razão que vemos que o que sempre fez a grandeza da família foi a produção de tecidos, agora vendidos a terceiros sem grandes remorsos e pruridos por parte do patriarca mas com grande dor por parte de Edo, o filho mais velho que procura manter a tradição familiar. E não é sem razão que Edo  vai ser o elemento trágico, aquele que vai fazer Emma dar o passo definitivo rumo a uma outra vida.
O filme tem uma fotografia linda, imagens fabulosas, Milão é  quase sempre visto de cima através das cúpulas das catedrais, elementos artísticos  muito  presentes em toda a história.
 A própria homossexualidade da filha mais nova , o elemento artístico da família e que por isso se distancia dela procurando outras vivências, é-nos mostrada de um ponto de vista extremamente sensível e tocante e  através da sua transformação física . Não  podemos esquecer Ida a governanta que assiste  silenciosamente toda a família, sofrendo por ela e que no fim faz as malas à matriarca e sendo  quem mais chora por ela.
Tilda Swinton, despe-se sem preconceitos, mostra o seu corpo sem qualquer pudor, não há retoques de imagem, aquilo que ela mostra, é aquilo que ela é, vemos, cada sinal e cada pequena rugosidade  do seu corpo, e o mais espantoso para mim é a imagem final, em que despojada de riquezas, maquilhagem, cabelos cortados  ela finalmente mostra toda a sua paixão e então não hesita e sai! Caí o pano sobre o filme e termina a "ópera". 
 A música é também aqui um  elemento chave, e o título do filme o realizador vai busca-lo à cena capital e espantosa  do filme Filadélfia em que Tom Hanks já quase no fim da vida ouve Maria Callas e o seu  Io sono l'amore, perante um Denzel Washington perfeitamente estarrecido.
Se há algumas dúvidas que Tilda Swinton é uma atriz divina, elas aqui são perfeitamente confirmadas, e para mim este é um filme sublime!

terça-feira, setembro 16, 2014

Primeiras Fotos Coloridas

Essas cenas são apenas de um século atrás !São as primeiras fotos coloridas do mundo, tidas como feitas pelos irmãos Lumière .Explicação do método usado à época : Eram usados grânulos de amido de batata ( fécula ), tingidos de verde, laranja e violeta, para criar imagens coloridas em placas de vidro semelhante a slides. Ao passar pelos grãos, a luz se decompõe e cria o colorido suave que se vê nas fotos produzidas dessa maneira , cores pastéis, com um ligeiro efeito granulado. Basicamente é isso um autocromo: uma chapa de vidro coberta por minúsculos grãos coloridos transparentes, sobrepostos a uma imagem fotográfica preto e branco.
A seguir, eram cobertos por uma camada de verniz impermeável que isola dos banhos de processamentos. Em seguida, imersos numa emulsão pancromática, que é sensível a todas as cores. Em baixo poderão apreciar esta técnica que criou fotos tão bonitas e tão raras.


sábado, setembro 13, 2014

Frida Kahlo-Uma Vida de Sofrimento

 "Lembro-me que tinha sete anos quando se deu a "Decena Trágica.Testemunhei com os meus próprios olhos a batalha dos camponeses de Zapata contra os Carrancistas".
Foi com estas palavras que Frida Kahlo (1907/1954), ao escrever no seu diário nos princípios de 1940, descreveu as suas recordações da Decena Trágica, "os dez dias trágicos" de Fevereiro de 1913.
De facto, a sua identificação com a Revolução Mexicana (1910/1920) foi tão forte que ela sempre disse ter nascido em 1910. Seguindo-se à era colonial e aos trinta anos de ditadura do general Porfírio Díaz, a revolução procurou implantar mudanças fundamentais na estrutura social do país.
Frida Kahlo decidira aparentemente que ela e o novo México tinham nascido ao mesmo tempo. Na verdade, Frida era três anos mais velha, até porque Magdalena Carmen Frieda Kahlo Calderón nasceu a 6 de Julho de 1907 em Coyocán, mais tarde um subúrbio da Cidade do México, terceira das quatro filhas de Matilde e Guilerme Kahlo.
Numa conversa com a crítica de arte Raquel Tibol, a artista descreve pormenores da sua infância."A minha mãe não me podia dar de mamar porque a minha irmã Cristina tinha nascido apenas onze meses depois de mim. Fui amamentada por uma ama, cujos seios eram lavados imediatamente antes de eu mamar. Num dos meus quadros apareço, com cara de mulher adulta e corpo de criança, nos braços da minha ama, com leite a escorrer dos seios dela como se fossem do céu." A obra em questão é A Minha Ama e Eu", de 1937.Por outro lado descreve o pai como sendo cordial e carinhoso, "A minha infância foi maravilhosa", escreveu ela no seu diário, "porque apesar do meu pai ser um homem doente (sofria de tonturas frequentes), foi para mim um grande exemplo de ternura, de trabalho (como fotógrafo e também como pintor) e, acima de tudo, de compreensão de todos os meus problemas."
Também se recorda, quando teve poliomielite aos seis anos, o modo especial como o pai tomou conta dela durante os nove meses de convalescência. A sua perna direita ficou muito magra e o pé esquerdo atrofiado. Apesar do pai se certificar de que ela fazia regularmente exercícios de fisioterapia para fortalecer os músculos debilitados, a perna e o pé ficaram deformados para sempre. Esse foi um sofrimento que, enquanto adolescente, ela procurou esconder dentro das calças e, mais tarde, debaixo de compridas saias mexicanas, que acabaram por lhe definir para sempre uma extremamente imagem original e ao mesmo tempo algo trágica.
Tendo-lhe sido na infância posta a alcunha de "Frida da perna de pau",  algo que a magoava profundamente, ela veio  contudo mais tarde a ser o centro das atenções com as suas vestes exóticas que usou até morrer. Acompanhou várias vezes o pai, um entusiasta artista amador, nos seus passeios, como pintor, pelas zonas campestres locais. Ele ensinou-a também a usar máquina fotográfica e a revelar, retocar e colorir fotografias-experiências que vieram todas elas a ser muito úteis para a sua pintura.
No dia 17 de Setembro de 1952, ao voltar da escola para casa, Frida Kahlo e o namorado apanharam um autocarro para Coyoacán.Poudo depois deu-se um terrível acidente: o autocarro chocou com um eléctrico e várias pessoas sofreram morte imediata.Frida também ficou muito ferida, o que levou os médicos a duvidarem da sua sobrevivência.
Um ano depois, num pequeno esboço a lápis, a que ela vai intitular de "Acidente", regista o trágico acontecimento que viria a modificar-lhe a vida de maneira decisiva.Devido ao acidente ficou de cama durante três meses.
Passou um mês no hospital.Depois de inicialmente parecer ter recuperado por completo, começou a sentir dores na coluna e no pé direito. Também se sentia sempre cansada. Aproximadamente um ano depois, deu de novo entrada no hospital. A coluna não fora radiografada na altura do acidente, e só então se descobriu que tinha várias vertebras deslocadas. Durante o nove meses seguintes teve de usar uma série de coletes de gesso, que depois vieram a ser pintados por ela. Nas inúmeras cartas que escreveu a Alexandro Gómez Arias desabafou tudo o que sentiu durante este período em que esteve completamente privada de liberdade de movimentos corporais e em que por vezes tinha de ficar imóvel na cama. Foi nesses meses que começou a pintar, como um modo de evitar o aborrecimento e a dor. "Eu senti que tinha energia suficiente para fazer outras coisas sem ser estudar para vir a ser médica"."Comecei a pintar sem dar muita importância a essa actividade", disse ela mais tarde ao crítico de arte Antonio Rodríguez. "O meu pai, teve durante muitos anos, uma caixa de tinas de óleo e pincéis dentro de uma jarra antiga e uma paleta a um canto do seu estúdio fotográfico. Ele gostava de pintar e de desenhar paisagens de Coyoacán junto ao rio e por vezes copiava cromolitografias.Desde pequenita, eu não tirava os olhos daquela caixa de tintas. Não sabia explicar porquê! Como ia ficar presa a uma cama durante tanto tempo aproveitei a oportunidade para pedir a caixa ao meu pai. Como um miúdo pequeno a quem tiram o brinquedo para dar ao irmão doente, ele emprestou-ma. A minha mãe pediu a um carpinteiro que me fizesse um cavalete de pintor, se é que isso se podia chamar ao material especial que se conseguiu montar na minha cama, pois eu não me podia sentar por causa do colete de gesso. E assim comecei o meu primeiro quadro: o retrato de um amigo".Também se colocou um dossel com um espelho que cobria toda a parte de baixo da cama de modo que Frida se pudesse ver e ser o seu próprio modelo. Num dos seus quadros Kahlo retrata-se, precisamente deitada nesta cama de dossel, em que o seu esqueleto paira sobre ela, num prenúncio do infortúnio que se tornaria a sua vida.
Assim começaram os auto retratos (que pintava quase que obsessivamente) e que vieram a dominar a obra de Frida Kahlo, permitindo-nos ver todas as etapas do desenvolvimento desta grande artista mexicana.
"Eu pinto-me porque estou muitas vezes sózinha e porque sou o tema que conheço melhor".
O pequeno filme que realizei procura mostrar alguns dos auto retratos desta pintora excepcional, que nos deixou inúmeras obras e que procurava neles reflectir o momento pelo qual passava e que embora fossem bastante "fortes", não eram surrealistas: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade". Frida contraiu uma pneumonia e morreu em 1954 de embolia pulmonar, mas no seu diário a última frase causa dúvidas: "Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar - Frida".
Talvez Frida não suportasse mais, tanta dor física e tanto sofrimento emocional.

terça-feira, setembro 09, 2014

Sem Qualquer Magia

Escrito e realizado por Woody Allen, fui ver este fim de semana o seu último filme denominado de   Magia ao Luar. Uma desilusão! Nada de magia, nada de luar e se por magia se entende o personagem principal ser um mágico...então isso é nuito pouco!
Mas que deu neste homem que é tão bom realizador e  capaz de criar histórias tão absorventes? Para mim a veia artística de W. Allen esgotou-se no Meia Noite em Paris, pois que a meu ver a partir daí só tem saído coisas absolutamente insossas, com atores que me parecem estar ali a fazer um frete....aí que belos tempos em que trabalhar com este realizador era um must e toda a gente dava o "couro e o cabelo", e que saudades da antiga trupe que o acompanhou durante anos! Até o grande Colin Firth está para ali feito um mono, a Emma Stone (que eu adoro de coração) está para ali feita uma parvinha, e os restantes atores apenas a ganharem o seu, que isso não está fácil nem para as bandas dos States.
Mais uma vez o nosso querido Woody Allen, vem filmar à Europa, desta vez não foi meigo e toca de ir para a Riviera francesa, toca de mostrar as suas belíssimas paisagens, as suas deslumbrantes casas, o glamour de uma época lindíssima que já não volta nunca mais (os anos vinte) com um guarda roupa que é a única coisa digna de nota e que se espera não ser esquecido para o ano na noite dos Óscares e...mais nada. Nada ali tem alma, nada ali nos seduz, um tédio, um bocejo, uma calmaria sem fim, um pasmo enorme. É uma pena, uma pena mesmo, porque Woody Allen,  e os atores ali presentes, não desaprenderam e se o que ali vemos é este "pão sem sal" é porque assim quis o realizador, mas a mim  e penso que a mais gente que gosta dos filmes de W.Allen isso sabe a muito pouco, porque todos sabemos que este realizador é capaz de coisas muito boas.
Não é que o filme seja de fugirmos a "sete pés", mas daquele 'mato não sai nenhum cachorro', e por sua vez nós  saímos do cinema com a sensação que daqui a 5 minutos ninguém mais se lembrará do que ali se passou.
O elenco conta  Colin Firth, Emma Stone,  Hamish Linklater, Marcia Gay Harden, Jacki Weaver, Erica Leerhsen, Eileen Atkins e  Simon McBurney nos principais papéis.
Uma desperdício de talentos e no fundo quem ganha não somos nós mas sim os atores que se devem ter divertido a passear por aquelas paisagens maravilhosas, por andarem naqueles carros lindíssimos e por se divertirem naqueles decors simplesmente sumptuosos, o que  manifestamente  é muito pouco.

sábado, agosto 30, 2014

Destruição de Mitos

Criou-se há muito, mas muito tempo atrás este bizantino mito de que são sempre os homens a esperar pelas mulheres quando vão ambos sair. Vemos isso em filmes, em que invariavelmente o homem está na sala fumando cigarros atrás de cigarros em furiosa impaciência enquanto a sua senhora está sentada em frente a um espelho  arranjando-se calmamente como se nada fosse,vemos isso em cartoons
banda desenhada, anedotas, etc, etc. Até no momento do parto vemos os pobres coitados roendo as unhas até ao cotovelo ou fumando o sempre eterno cigarro, enquanto a mulher (quase fazendo-o propositadamente!!!) pare calmamente um filho!
 Sempre vi essa imagem e durante muito tempo enraizou-se em mim que tal coisa acontecia mesmo.... até ter um homem que vai ao arrepio de tudo o que até aí tinha visto e ouvido.
Pela primeira vez vi uma mulher  (moi) esperando sempre pelo seu homem. Sou eu que quando vamos sair para fim de semana ou até para um simples passeio  me levanto mais cedo, sou eu que tomo banho primeiro, sou eu que me arranjo num ápice e sou eu que sempre mas sempre espera por ele. Quando digo espera é mesmo espera! Do género estar a escrever este post enquanto o homem se arranja. Não é que ele seja um metrossexual, um David Beckham que pelo que me consta está tempo infinitos a colocar cremes anti tudo e até vai ao pormenor de escolher  a dedo e com as cores certas a roupa interior (dixit Victoria Beckham),...não, não é nada disso!
O meu  homem é simplesmente lento no acordar, lento no arranjar o saco, ou a  mala, lento em tomar o pequeno almoço, lento em arranjar o necessaire, lento em sair de casa. Eu, mais expedita, já nada digo. Arranjo-me e fico a ler uma revista, um livro, a ver televisão ou a ir tomar o pequeno almoço quando estamos num hotel e quando volto ver ainda  o homem feito uma barata atarantada a rolar pelo quarto sem saber bem o que fazer, de tão estremunhado de sono.
O mito da sempre eterna espera das mulheres pelos homens foi deste modo estilhaçado na minha cabeça, nada restou e  pior, passei a generalizar a coisa.
 Para mim, são sempre as mulheres as que esperam pelos homens e não o contrário. Qual Penélope que passou anos esperando pelo seu Ulisses, eu não me ponho a tecer uma manta, fico é a pensar quantos mitos acerca de ambos os sexos ainda persistem, mitos completamente estapafúrdios e que nada têm a a ver  com a realidade, como por exemplo o mito de serem sempre os homens a comporem, a arranjarem tudo em casa, enquanto as mulheres ficam sentada a dizer: mais para a direita, mais para a esquerda...bolas este quadro não está nada centrado...e outros disparates do género!
A destruição deste embuste ficará para um outro post, em qua aí também irei dizer o que realmente acontece!

segunda-feira, agosto 25, 2014

Ideias Desperdiçadas

O que mais me irrita em Luc Bresson é ver o mesmo ter boas ideias como  roteirista e depois quando passa as mesma à realização o resultado ser  uma boa  m.......!
Aqui enquadra-se este seu novo filme o Lucy com a  Scarlett Johansson, que descobri ser muito  multifacetada  pois tão depressa está a fazer obras incríveis como o seu último filme denominado de  "Debaixo da Pele", como rapidamente passa a estar em estado catatónico como mulher que atinge os limites das suas capacidades mentais atingindo os 100% e passando a ser qualquer coisa que nem ela e muito menos nós como espectadores sabemos bem o que é isso.
Este Lucy é um flop na minha modesta opinião. Tal como outros filmes do realizador, a coisa até começa bem, as ideias são boas, a fotografia é do melhor que há, mas depois Luc Bresson achando que tem que vender o filme e até a ideia aos americanos (a série  'Nilkita' rendeu-lhe bom dinheiro, pois a ideia original é dele, assim como outros filmes) e sabendo como esses são chegados em tiros, correrias  de automóveis, muita ficção científica de pacotilha, embrulhada com algumas ideias intelectuais, e onde aparece sempre um professor universitário para dar substância a coisa, vai daí e toca a pôr a nossa heroína a  ser uma super mulher, a guiar feita uma maluca destruindo Paris inteira,(ah...já tínhamos visto isso nem Táxi, também do mesmo realizador!) a lançar bandidos ao ar, a transfigurar-se de loira a morena, misturando tudo isso com muitos tiros , mafias chinesas com gente  má como cascáveis, muito sangue e morte.
Saí do cinema  híper desiludida, pois para além de gostar deste realizador apesar dessas maluqueiras e vaipes que lhe dão constantemente, esperava muito mais da história  até porque lá estava o grande Morgan Freeman e a belíssima Scarlett Johansson.
 Contudo, reconheço que a culpa é minha por reincidir nos filmes de Bresson. Já devia estar precavida devido ao "5ª Elemento", outro filme de ficção científica que até tinha uma ideia boa, mas completamente estraçalhado pelas correrias e tiros a despropósito e pela "Joana D'Arc", outra desgraça, mas mesmo assim minimizada pela prestação dos actores Milla Jovovich e John Malkovich.
Sem me armar a intelectual, (que não sou nada dada a isso) aconselho a quem  quiser estar duas horas a apreciar o corpão da S. Johansson e ver  de passagem o  talentoso  Morgan Freeman  completamente perdido no meio desta desgraça a dirigir-se ao cinema mais próximo e pedir um bilhete para este Lucy pois não é por aí que vai o "gato às filhoses" e até acabará por ver fotos  lindíssimas do nosso planeta, mas quem quiser ver um bom filme...olhe vá ver o "Belém", "O Homem mais Procurado" ou o "Ilo Ilo".

sábado, agosto 16, 2014

O Homem Mais Procurado

Com realização do cineasta holandês Anton Corbijn conhecido pelos filmes 'O Americano' e 'Control '(sobre a vida do vocalista dos Joy Division,Ian Curtis) está desde a semana passada em cartaz o filme O Homem Mais Procurado.
Fui vê-lo ontem e gostei muito. Não é um filme para quem gosta de correrias, tiros, sangue, mulheres fatais,homens bonitos ...e tutti quanti. Tirado de uma das obras de John lé Carré que aparece também nos créditos se não me engano como um dos argumentistas, o filme é lento,t riste, pesado, doloroso, passado numa Hamburgo portuária, muito propícia a esse tipo de ação, Hamburgo essa que não é a dos cartazes turísticos, e com esse 'monstro sagrado (pelo menos para mim) que é  o já infelizmente  desaparecido Philip Seymour Hoffman , num dos seus últimos ou mesmo o último papel, onde já o vemos, muito pesado, muito triste, fumando e bebendo compulsivamente e com grande prazer, parecendo e talvez mesmo carregando o peso do mundo, e que leva magistralmente o filme às costas, coadjuvado por uma radiosa e sempre fantástica Nina Hoss ( adorei-a vê-la no filme Bárbara), William Dafoe (sempre muito seguro de si) Daniel Brühl  (adoro este actor desde que o vi em Adeus Lenine), Raquel Adams (linda e soberba actriz) e the last but no the least a grande Robin Wright, que aparece pouca vezes, mas quando o faz tem a segurança permanente de uma grande senhora do cinema, muito pouco aproveitada no meu ver.
O filme tem a precisão de um relógio suíço. Tudo se encaixa no seu devido lugar. É um puzzle intrincado, mas perfeitamente compreensível, e o  que ali vemos é um jogo de espiões que espiam outros espiões, onde nada é o  que aparenta ser, toda a gente mente a toda a gente, há enganos e traições, há gente graúda ( os barracudas, como alguém a páginas tantas diz) tentando lixar os mais pequenos tudo em  proveito próprio, e onde nesse jogo de enganos o personagem principal, um desgraçado  imigrante, meio-checheno, meio russo que aparece em Hamburgo reclamando uma herança do pai,  e sendo o tal homem muito procurado, acaba por ser o verdadeiro personagem digno da nossa compaixão.
De referir que o filme implicitamente ou não tão implicitamente assim abre as feridas deixadas pelo 11 de Setembro, acontecimento dramático este que veio abrir as portas ao total desrespeito pela liberdade dos cidadãos, tudo em nome da segurança e da luta antiterrorista, luta essa que muitas vezes nada mais é do que o espiar indiscriminadamente a vida alheia.
Está de parabéns o realizador, porque o  filme é mesmo muito bom, está de parabéns todos os actores  e durante o visionamento do filme não me cansava de pensar como de facto há actores que passam por este mundo como cometas fulgurantes e quando nos deixam prematuramente legam obras de grandeza   incomensurável, e neste caso enquadra-se  perfeitamente o malogrado ator  Philip Seymour Hoffman. Que actor fantástico que ele era!
Um filme a ver com atenção.

segunda-feira, agosto 11, 2014

Belém


Está em exibição um filme muito bom e tal como já o tinha dito em anterior post cinematográfico, muitos bons filmes estreados nesta silly season correm o risco de passar despercebidos não só pelo mês que é  mas também por ficarem submersos por estreias  de blockbusters, o que é pena, pois este Belém do realizador israelita Yuval Adler  é Magnífico, magnífico e terrível, pois o que ali vemos não só ajuda a compreender e muito o conflito israelo/palestiniano que dura há décadas, como nos dá  uma perspetiva de ambos os lados da barricada sem que o realizador penda para qualquer dos lados, o que é algo de muito difícil de ser feito dado o mesmo ser judeu e ter podido cair na tentação de ser faccioso. Refiro que esta é a primeira longa metragem de Yuval Adler que partindo da sua própria experiência pessoal como alguém que sempre viveu este conflito, fez uma pesquisa vastíssima, assim como ouviu vários testemunhos antes de realizar o filme. 
 Tal não acontece aqui, e o que vemos (já o mesmo se passava no também magnífico Omar do realizador árabe  Hany Abu-Assad  (candidato ao Oscar de melhor Filme estrangeiro) que já nos tinha dado o soberbo Paradise Now, é a duplicidade, o engano, a mentira, as lealdades algo trocadas, o patriotismo exacerbado , num conflito quase que incompreensível para nós, visto que aquelas pessoas que  vivem paredes meias umas com as outras mas, possuem contudo pontos de vista diametralmente opostos e  muito dificilmente algum dia viverão em paz e harmonia!
Este Belém mostra-nos a relação e amizade entre um judeu de seu nome Razi (Tsahi Halevi um operacional das secretas israelitas e Sanfur (Shadi Mar'i), cada um deles travando conflitos vários, que vão da descoberta de actividades terroristas por parte de Razi, e a denuncia dos seus, por parte de Sanfur, ambos procurando ser mais do que informador e informante, vivendo ambos no fio da navalha e em que as mortes, as traições, os conflitos de consciência e as lealdades várias pastam em terrenos totalmente minados pela desconfiança, a violência, o ódio quase irracional, e por fim a morte.
Um filme fantástico, muito duro, triste, pesado, muito bem realizado e com atores em completo estado de graça. Adorei a prestação de Shadi Mar'i, um soberbo jovem ator, uma presença marcante no êcran, com uns fantásticos olhos  tristes onde nele vemos todo o horror da guerra e por onde perpassa a desesperança total no ser humano.
O filme ganhou seis prémios da Academia do Cinema Israelita, incluindo os de melhor filme, realização e argumento (co-escrito por Adler e Ali Wakad). Foi ainda apresentado na selecção oficial do Festival Internacional de Cinema de Toronto e nos Dias de Veneza
 Uma obra Magnífica!