domingo, maio 25, 2014

Edvard Hopper-Fim da Tarde em Cape Cod

Fim da Tarde em Cape Cod
Gosto muito das obras pictóricas do pintor norte americano Edvard  Hopper, e por isso já o abordei aqui num anterior post, voltando hoje a fazê-lo a  propósito da sua obra Fim da Tarde em Cape Cod.
A obra de E.Hopper sempre foi extremamente realista, e as suas imagens imóveis e muito precisas onde a desolação, solidão e tristeza do indivíduo está expressa como nenhum outro artista norte americano, sempre me atraíram imenso. Esses indivíduos, fossem eles homens ou mulheres, acabam por reflectir um certo espírito de época americano que Hopper tentou captar sempre de uma forma  ímpar.
E.Hopper, nascido em 1881 e falecido em 1967, procurou sempre imprimir uma certa austeridade solitária e muito peculiar em toda a sua obra. Ele procurava mostrar o mundo moderno, mas sempre impregnado de uma certa tristeza e quando as suas obras são alegres,  a tristeza está lá escondida sob a capa de uma desoladora paisagem ou de indivíduos que estando acompanhados estão isolados uns dos outros emersos no seu próprio mundinho.
Essa tristeza, solidão e até  miséria física e moral, fazia eco da desilusão que varreu os Estados Unidos após o começo da Grande Depressão de 1929 e que trouxe, fome, suicídios, emigração e desconsolo geral a toda uma sociedade.
A obra que aqui surge denominada de Fim da Tarde em Cape Cod, poderia até ser uma obra idílica, mas as pinceladas de Hopper tornam-na triste e desconsolada.
Nela vemos  um casal à soleira da sua bela casa e onde surge em pleno primeiro plano uma cão/cadela que de tão realista que é pensamos que em alguma altura ele/ela saltará da tela e aterrará perto de nós  pedindo algumas festas na cabeça.
O casal parece gozar o sol da tarde fora de casa, contudo, trata-se de um casal apenas em termos técnicos. Se repararmos bem, essa fruição é  totalmente passiva, visto que ambos estão isolados e envolvidos nos seus próprios devaneios.
Por sua vez, a sua bela casa está fechada ao nosso olhar e à nossa intimidade, posto que a porta está bem fechada e as janelas estão cobertas com cortinas claras mas impossíveis ao olhar humano.
O cão acaba por ser o único ser atento e 'vivo', mas até ele volta as costas à casa e olha o horizonte parecendo ver algo que nos é impossível de visualizar.
As árvores, densas, escuras e sinistras batem em algumas vidraças mas nem isso desperta o olhar do casal isolado em si mesmo. A erva clara que domina todo o plano a nível do chão quase que submergem o cão e os pés dos dois personagens.
É uma obra estranha, triste, em que o casal ensimesmado e fechado em si mesmo, tornam-se figuras rapidamente identificadoras de uma obra típica de Edvard Hopper.
Contudo,  e apesar dessa tristeza não deixa de ser uma  uma tela muito bonita, que atrai o nosso olhar e nos faz contemplá-la com bastante agrado.
Esta obra foi realizada em 1939 e pode ser vistas no National Gallery of Art, em Washington, D.C.

segunda-feira, maio 19, 2014

A Lancheira

 Eu já gosto  muito dos filmes de Ritesh Batra,  foi ele que nos deu obras muito inteligentes como é o caso A Vida de Pi e Quem quer ser Milionário. Foi por isso com grandes expectativas que fui ver este seu ultimo filme A Lancheira. Não sai desiludida, porque este filme é muito bom. Partindo de um engano  na entrega de lancheiras (os indianos dizem que tal nunca é possível, tal é a eficiência da entrega de lancheiras em Bombaim) Ritesh Batra dá-nos um filme em que dois personagens conseguem a partir desse engano, estabelecer contacto através  de cartas enviadas dentro da lancheira e com isso modificar para sempre o rumo das suas vidas! Adorei a premissa, achei-a muito credível, cheia de romantismo, os actores,fantásticos como sempre nos filmes deste realizador e no fim...bem no fim ficamos com a certeza que o amor sempre é possível, não importa a idade, credos, distâncias, basta o ser humano querer.
Um filme lindíssimo, com  actores em estado de graça, como é o caso de Irrfan Khan, Lillete DubeyNawazuddin SiddiquiNimrat Kaur.

Gravidez de ...Alto Risco

Com realização e  argumento  de Albert Dupontel  estreou na semana passada este Gravidez de...Alto Risco uma comédia muito engraçada em que o próprio realizador pontua como um dos actores principais.
A meu ver está de parabéns a comedie française, por mais uma vez nos dar um belo filme em que  brilha a actriz  Sandrine Kiberlain, numa prestação muito contida, mas muito cómica, e onde a mesma e Albert Dupontel  encaixam muito bem, sem que em nenhum momento tenhamos sentido que um estava a sobrepor-se ao outro.
 Levam ambos o filme às costas, predomina um humor muito  sadio e nada estriónico, há actores secundários muito bons, as situações hilariantes não são forçadas e no fim saímos do cinema com a certeza que o cinema francês está de boa saúde e a comédia está a ser feita por gente inteligente.
Este Gravidez de ...Alto Risco está uns bons furos acima de muita comédia americana que grassa pelos nossos cinemas, sem que muitas vezes saibamos bem quem os realiza e/ou  para quem estes filmes são realizados.
 Um filme para ver com um sorriso nos lábios e umas sonoras gargalhadas.

domingo, maio 11, 2014

Henri Matisse-A Conversa

A carreira artística do pintor Henri Matisse (1869/1954) foi longa e variada, abrangendo muitos estilos pictóricos diferentes, desde o Impressionismo até quase à Abstração. Na primeira fase da sua carreira Matisse era considerado um Fauvista e as suas celebrações das cores vivas atingiram o auge em 1917 quando se mudou para  a Riviera francesa, mais concretamente em Nice e Vence.
Aqui foi com grande empenho que começou a reproduzir as cores da natureza e acabou por criar os seus quadros mais empolgantes. Acabou por lhe ser diagnosticado um cancro no duodeno que o confinou a uma cadeira de rodas e foi nestas precárias condições que o pintor concluiu a Capela do Rosário, em Vence.
Na obra que aqui aparece denominado de A Conversa, um marido e mulher conversam. Estão implacavelmente opostos. O homem de pé domina a cena e domina-a a ela. Inclina-se de mau humor sobre a mulher que por sua vez está como que aprisiona na cadeira onde está sentada/enterrada.Os braços dessa cadeira como que a envolvem e no entanto essa mesma cadeira mal se distingue do fundo azul que domina o quadro. A mulher está numa prisão no seu próprio ambiente.
A janela aberta sugere a fuga, mas a mulher é retida por um parapeito de ferro. Ele eleva-se sobre ela, tão dinâmico como ela é passiva e todas as riscas do seu pijama estão impecavelmente direitas. É um homem totalmente decidido, aquele que aqui temos. O seu pescoço engrossa para lhe manter a silhueta direita hirta e firme, uma autêntica seta de energia concentrada. A barba está impecavelmente aparada e a mão direita firmemente enterrada no bolso do pijama. 
O quadro não pode abarcá-lo todo e por isso a sua cabeça continua para além dele, na direcção do mundo exterior.  Ele é maior que o mundo inteiro, e a única "palavra" desta conversa hostil está escrita nas volutas do corrimão: Non! Dirá ele não à passividade egoísta da mulher? Dirá ela não à intensidade da vida dele? Ambos se recusam um ao outro para sempre!
 Uma obra magnífica.
Esta tela de Henri Matisse denominada de A Conversa foi realizada em 1909.
Estava  na Colecção Schukin em  Moscovo, sendo posteriormente levada para o Museu Estatal de Arte Moderna Ocidental de Moscovo por volta de1948. Aliás, é nesta cidade que se encontra grande parte das obras de Henri Matisse um pintor muito amado pelo povo russo.

sexta-feira, maio 09, 2014

Com Pétalas de Flores




Esta estilista de seu nome Grace Ciao, cria os seus modelos de vestido a partir de pétalas de flores. Cria modelos super elegantes, etéreos e muitooooo bonitos.
É ver para acreditar.Lindoooossss!





quinta-feira, maio 08, 2014

As Palavras e o Silêncio

Há dias estava a ler uma crónica de João Miguel Tavares no seu blog Pais de Quatro e na introdução ao seu texto este referia uma reflexão do prémio Nobel da Literatura recentemente falecido Gabriel García Marquez a propósito das discussões entre os casais:
 
 
"Quando nos casais as pessoas se zangam, há quem diga que devem falar um com o outro, esclarecer tudo exaustivamente, até ao fim; pois eu dou o conselho oposto: quando há um problema no casal, um mal-entendido, uma zanga, o melhor é não falar e deixar passar um tempo. A conversa só vai agravar a situação."
Fiquei a matutar neste texto, pois a meu ver o mesmo ia ao arrepio de tudo o que eu poderia pensar do autor, pois sendo um belíssimo escritor era suposto pensar que gostaria de ter sempre as coisas esclarecidas e bem argumentadas até ao mais infímo pormenor, e mandando o texto para um amigo meu ele opinou , escrevendo-me o seguinte:
 
"Quanto a ser o silêncio mais benéfico que a conversa, são opiniões. Acho que depende das resistências, das imunidades.A conversa pode provocar episódios agudos, o silêncio causa doenças degenerativas. Cada um escolhe consoante o seu feitio. Porém, ambas as hipóteses são potencialmente letais. A vantagem do silêncio é que mata mais lentamente e com menos alarido. A desvantagem é que, enquanto a conversa oferece um interlocutor, mesmo que aguerrido, o silêncio acaba por nos fazer compreender que estamos irremediavelmente sós. Há uns que se resignam, outros não. Mas quando se chega a um certo ponto crítico, onde a vida se bifurca, para os conversadores ainda existe uma réstia de esperança, enquanto para os silenciosos nada haverá a dizer.Ou visto por outro ângulo: quando se briga, ainda importa o que se diz; quando se prefere o silêncio, virá o dia em que já nem isso importa.É uma chatice, não é? A vida é tudo menos linear. Cada escolha tem os seus riscos. E não há nada que sirva par toda a gente".
Fiquei ainda mais confusa do que aquilo que já estava, visto que esse meu amigo também é escritor e como tal possuía outra opinião diametralmente oposta a de García Marquez. Para este  último, o silêncio era a melhor forma de superar divergências, para o meu amigo o silencio era como água à solta nas paredes de um edifício. Aos poucos, vai minando os alicerces do mesmo e quando damos por nós está tudo a apodrecer lentamente e só resta das duas uma, ou deixar andar até tudo cair  ou então tentar deitar tudo a baixo e reconstruir de novo, mas aquilo que se reconstrói já não é idêntico ao edifício anterior, porque nada depois de reconstruído fica igual, disse-me ele depois em palavras e já não em email, quando lhe pedi que me esclarecesse mais sobre o silêncio e as palavras.
Sendo por norma uma pessoa que fala relativamente pouco, o silêncio sempre me foi muito caro e se a tese de García Marquez é-me muito querida, reconheço que nas relações entre os casais ela talvez não seja a mais adequada porque pode acabar num...deixa andar.
Parece-me que não foi isso que acontecia com os escritor e a sua mulher, a sua única mulher em muitos anos de casamento. Cada caso é um caso, temos de o reconhecer e aqui estamos no domínio dos afectos e como cada ser humano pode e deve lidar da melhor forma possível com os seu companheiro/a.
Quando as pessoas optam por viverem juntas, devem fazer cedências de parte a parte e parece-me que este é o segredo de uma boa relação. Sem cedências nada feito  com silêncio ou discussões.
Saber viver em conjunto é uma arte e viver quotidianamente esta arte requer esforços supremos e por isso não deixo de ficar agradavelmente surpreendida por saber que há quem consiga viver meio século com outra pessoa sempre amando-a como foi o caso do casal Gabriel Garcia Marquez e Mercedes Barcha.
E que vivas para sempre Gabriel García Marquez na memória colectiva do teu povo e de todos os povos deste mundo.
 

quinta-feira, maio 01, 2014

L.S.Lowry-Regressando da Fábrica

L.S.Lowry especializou-se num tipo de pintura que me encanta. Os seus quadros enchem-nos o olhar de pequenas figurinhas em que mal distinguimos os seus rostos e apenas conseguimos destacar o sexo pela vestimenta. O grande destaque vai para os grandes edifícios, de uma maneira geral, edifícios fabris e prédios de grandes dimensões que submergem quase por completo o ser humano, frágil perante a dimensão e a massa dessas construções.
Hoje, dia 1 de Maio, dia Mundial do Trabalhador trago aqui algumas telas deste pintor de entre as quais quero destacar o quadro "Regressando da Fábrica". Nele trabalhadores fabris saem em magote de uma fábrica, em Salford, cidade que o artista conhecia bem. Observada com grande sentimento e captada em cores suaves, esta cena foi pintada na tela sem que o artista tenha feito um esboço preliminar.
Lowry procura aqui nesta e noutras telas destacar o inferno que era trabalhar nessas fábricas escuras e mal arejadas, com grande empática e muito encanto.
Embora muitas vezes designadas por "paus de fósforos" as suas figuras não deixam de ser cheias de movimento e vitalidade, posto que ao olharmos para elas não deixarmos de ver gente que se movimenta submersas nos seus pensamentos e talvez desertas de chegar a casa.
Esta e outras obras deste pintor proporcionam para quem olha para elas um fascinante registo pictórico do norte industrial de Inglaterra, com as suas fábricas de algodão e filas de casas geminadas, cenas que actualmente existem apenas na memória, em quadros  ou em fotografias de época.
O estilo algo rude da pintura de Lowry é absolutamente individual, não sendo influenciado por qualquer movimento pós impressionista.
Sendo um empregado de escritório toda a sua vida, muito resguardado do olhar do público, Lowry estudou arte nas suas horas livres, e só foi descoberto como artista em 1939, quase acidentalmente.
Estas e outras obras de Lawrence Stephen Lowry que nasceu em Manchester em 1887 e morreu em Glossop em 1973, denominada de Regressando da Fábrica é um óleo sobre tela e pode ser apreciada no  Salford Museum and Art  Gallery.