domingo, julho 24, 2016

O Segredo dos Seus Olhos

Realizado por Juan José Campanella e baseado no livro La Pregunta de sus Ojos, de Eduardo Sacheri, este O Segredo dos Seus Olhos, filme argentino de  2009 é seguramente um dos filmes da minha vida. 
Com ele a  Argentina ganhou o seu segundo Oscar depois deste país já ter um com a película  A História Oficial (retrato muito negro  da ditadura).
Com Ricardo Dárin (actor que eu amo de corazon), a bonita e sempre segura Soledad Vilamil e o não menos estupendo Guillermo Francella, ver este filme é mergulhar no que de melhor o cinema tem. Um bom argumento adaptado de uma obra, uma soberba realização, um naipe de actores em estado de graça, diálogos inesquecíveis, encadeamento muito bem feito do passado no presente, um final assombroso e sobretudo a famosa cena de perseguição ao suspeito principal de um violento crime de violação seguido de assassinato de uma jovem mulher (locomotiv do filme)  feita de um só take e toda ela passada num estádio de futebol repleto de gente e com o jogo a decorrer. No mínimo, uma cena de antologia assim como aquele final que nunca irei esquecer.
Penso que não conheço ninguém que não ame este filme digno de todos os prémios que lhe possam ter sido atribuídos, pois o mesmo é uma autêntica obra de arte cinematográfica. 
Ontem sábado revi-o na RTP1 e foi como se nunca o tivesse visto, pois prendeu-me outra vez do princípio ao fim apesar de já saber o que ali se passava.
Refiro que Hollywood sempre atenta a esses fenómenos  vindo de fora e de considerável êxito, fez no ano passado um remake, ou antes, uma adaptação livre do mesmo filme. Resisti a ver essa incursão americana do filme de Juan Campanella feita pelo realizador Billy Ray.
Contudo, quando a vi não desgostei. Apesar de estar nos antípodas da obra original, as prestações seguras de Julia Roberts (quase irreconhecível de tão pouco maquilhada e arranjada que está) e de  Chiwetel Ejiofor conseguem segurar muito bem todo  o filme.
Esqueçanos Nicole Kidman que nada tem de parecido com o papel de Soledad Vilamil no filme original e foquemo-nos apenas e só nos dois primeiros. 
Se assim o fizermos acabamos por gostar dessa adaptação e apesar do mesmo se mover nas sequelas do  11 de Setembro, acaba por não desmerecer o tempo despendido a vê-lo. 
Apesar de tudo isso nada melhor que ver o fantástico filme argentino, posto que de  facto este é uma obra prima. 

De Cabeça Perdida

Com realização de Emmanuelle Bercot e com as magníficas prestações de Catherine Deneuve e um fantástico Rod Paradot ( seu primeiro filme), Benoit Magimel, Sara Forestier,Diane Rouxel, está em exibição em Portugal desde há uns tempos o imperdível filme francês,  "De Cabeça Erguida".
Filme de Abertura do Festival de Cannes em 2015 e vencedor de alguns prémios  como é o caso do César (2015) traça o retrato de Mallony Ferrando um adolescente que desde os seis anos é institucionalizado, ficando a cargo do Estado mais concretamente de uma juíza, papel desempenhado magistralmente por Catherine Deneuve. 
Durante duas horas o que ali vemos é a lento e desesperante trabalho de um conjunto de pessoas para trazer este jovem para o seio da sociedade.
 Não há facilitismo, pois o  que aqui se procurar mostrar é que este percurso é extremamente duro, penoso, violento, doloroso ,muito desesperante e com constantes recaídas por parte de quem vive mergulhado numa raiva quase surda em relação a uma sociedade que os não aceita e isso perpassa por todos os jovens que vemos  naquele centro de detenção juvenil onde a violência irrompe constantemente por "dá cá aquela palha".
 Ali há negros, árabes, asiáticos, europeus, jovens rapazes que  vivem constantemente no fio da navalha e a um passo da prisão e quando esta se dá muitos deles acabam por mergulhar num poço sem fundo  terminando nesse sítio a sua aprendizagem marginal. Quando finalmente saem, passam infelizmente a engrossar as estatísticas de  delinquentes que pululam as sociedades dos nossos dias. 
Em De Cabeça Erguida assistimos ao drama bastante penoso de Mallory que está em conflito com toda a gente e principiante com ele próprio. 
Vive permanentemente  em fúria.
 Parece que odeia tudo e todos e odeia-se principiante a sim próprio.
Perdeu-se o número de tutores que já teve. Vemos no início que os agride e só ganha amizade e respeito por um ( o magnifico Benoit Magimel)  que o irá enfrentar pois também ele já foi um "Mallony " e conseguiu sair de cabeça erguida. 
A própria relação que mantém, com a mãe (uma mulher totalmente desestruturada) é conflituosa, uma mistura de amor/ódio. 
Ama o irmão mais novo e parece-nos que a única pessoa que respeita no mundo é a juíza que o institucionalizou quando foi abandonado pela mãe. 
Respeita-a porque sabe ela é a única que sempre se interessou por ele. Manda-lhe postais ilustrados  do centro de detenções e alegra-se quando vê na sua secretária a pedra que ele lhe ofereceu.
 É semi analfabeto, pois abandonou sempre a escola. Ensiná-lo a ler e escrever é um trabalho hercúleo, só digno de ser feito por quem tem uma paciência de santo.
A sua raiva não o deixa atinar. Não relaxa, as mãos estão sempre fechadas.Os actos  sexuais  que tem com a namorada são sempre violentos e tumultuosas por mais carinhosa que ela tente ser. 
 Parece que de um momento para o outro vai sair da tela e esmurrar-nos. 
O pontapé que dá na mesa e atinge a educadora grávida atinge-nos também como espectadores.
 Incrível tudo o que faz e o pouco que diz.
Pouco fala porque traduz o que sente em actos. Rouba carros, guia como um louco e espatifa-os. 
Quer ser tatuador mas não sabe desenhar. Há a anotar que ali naquele centro de detenção juvenil ninguém quer trabalhos humildes. Todos querem ser grandiosos mas quase todos não sabem ler e escrever. Mallory também quer ser grandioso mas nada faz para isso.
Quase no fim do filme quando está a ser massajado pela terapeuta é aí que pela primeira vez o vemos baixar a guarda, abrir as mão e relaxar quase totalmente.
Contudo, os actos de violência não o largam e a juíza manda-o para a  prisão. Aí acalma  e começa a criar objectivos de vida.
Ao contrario da maioria dos filmes americanos que abordam o problema da delinquência, aqui não há happy end. Mesmo quando o vemos percorrer o Palácio da Justiça  finalmente livre e com o filho ao colo, interrogamo-nos se de facto ele está apto a viver em sociedade ou se aquele ciclo de violência não se perpetuará sempre...
A cena de despedida entre ele e a juíza onde esta diz  que se vai reformar é sintomática do desgaste de todo um sistema pedagógico e judicial que trabalha dia após dia e sem grandes meios para trazer centenas de jovens marginais a uma sociedade que  pouco ou nada  lhes diz.
Um filme soberbo, que nos faz pensar nesta sociedade em que vivemos e que no fim nos deixa com um sabor amargo na boca.

domingo, julho 17, 2016

A Banalidade do Mal

Sempre fui confessa admiradora da filósofa Hanna Arendt  (por causa dela e de Kant tirei este curso) e quanto mais leio sobre esta extraordinária pensadora mais admiro o quanto ela estava avançada em relação ao seu tempo.
Ao ver e ouvir jornalistas,comentadores, políticos/comentadores... sobre o tenebroso atentado em Nice e ver a  fraca e superficial reacção da pessoas ao mesmo, talvez exaustas de tanto sangue e de tanta maldade  e mais preocupadas em caçar pokémons, por jardins, casas, igrejas, museus, e outros sítios improváveis, lembrei-me das palavras de H.Arendt quando esta escreveu acerca da Banalidade do Mal e as Possibilidade da Educação Moral:

"Há alguns anos, em relato sobre o julgamento de *Eichmann em Jerusalém, mencionei a “banalidade do mal”. Não quis, com a expressão, referir-me a teoria ou doutrina de qualquer espécie, mas antes a algo bastante factual, o fenómeno dos atos maus, cometidos em proporções gigantescas – atos cuja raiz não iremos encontrar uma especial maldade, patologia ou convicção ideológica do agente. A sua personalidade destaca-se unicamente por uma extraordinária superficialidade."(Arendt, 1993, p. 145).

É precisamente esta superficialidade, desprendimento, e indiferença que é assustadora e quando mais atos bárbaros forem cometidos, mais essa banalidade do mal se introduzirá dentro das pessoas, passando os mesmos a fazer parte do seu quotidiano. 
Esta banalidade dos atos maus é a meu ver,  uma defesa humana
 para a supressão do medo e desta forma  conseguir ela mesma viver num planeta quase moribundo para os valores da paz, amizade, bondade e solidariedade para com as dores do próximo.



*Eichmann foi um nazi capturado pela Mossad, levado para Isrrael sendo depois julgado e condenado por crimes de guerra. H.Arendt a viver e a dar aulas  nos E.U.A. arte para Jerusalém onde decorre o julgamento, tendo posteriormente escrito a sua famosa obra obra "A Banalidade do Mal e as Possibilidades da Educação Moral", obra que lhe valeu fortes criticas da comunidade Judaica, mas que contudo é até hoje um marco da literatura filosófica.
O filme da realizadora Margarethe von Trotta  denominado precisamente de Hanna Arendt  com a actriz Barbara Sokowa retrata este julgamento e a postura desta filósofa perante o que ali se estava a passar. 

quarta-feira, julho 13, 2016

René Magritte- O Assassino Ameaçado

Ontem estava a ver num dos canais da cabo  um dos episódios (bastante bons) da série Poirot e dei por mim a pensar no pintor belga René Magritte( 1898/1967) 'compatriota' do famoso detective criado pela escritora Agatha  Christie.
 Ao pensar em Magritte e na associação com Poirot lembrei-me de abordar aqui uma das suas obras um tanto ou quanto misteriosa denominada de "O Assassino Ameaçado", um óleo sobre tela que se encontra no MoMa em Nova Iorque.  
Surrealista como era, Magritte criou obras ímpares dentro desse campo, obras essas que quase todas elas tinham uma componente muito misteriosa, talvez por o pintor ter um genuíno interesse por romances policiais e tentar transportar isso para as suas telas. 
Assim, o que aqui vemos é um quadro onde uns poucos de personagens masculinos e uma feminina encarnam papeis muito estranhos e ao mesmo tempo fascinantes. 
René Magritte
O corpo de uma jovem mulher assassinada jaz em cima de uma cama. Esta nua e sangue jorra-lhe pela boca, mostrando que foi brutalmente assassinada. Está deitada sobre uma colcha vermelho vivo a cor que dá vida à tela. Dois homens armados um com uma moca e outro com uma rede e aparentando ser policias esperam aquele que nos dá ideia de ser o assassino que alheado do corpo ouve atentamente música vindo de um grande gramofone.  Sobre uma cadeira repousa um sobretudo, um chapéu e no chão uma maleta. Completando esse estranho quadro existe uma janela aberta para uma paisagem de montanha onde  três personagens espreitam toda a cena, assemelhando-se a nós que como espectadores apreciamos esta obra. 

Magnificamente executada  esta tela assemelha-se a uma pequena peça de teatro pelo decór criado por Magritte, todo ele em tons cinza e negro e onde a cor mais viva vai ser precisamente a colcha onde se deita a vitima. A pouca expressividade dos personagens masculinos tornam tudo muito obscuro e misterioso, tornando fascinante toda a cena.
Uma obra soberba deste pintor que eu amo de coração.

terça-feira, julho 12, 2016

A Vida é Injusta

Para os miúdos que agora se encontram de férias e que julgam que têm uma mãe autoritária, mandona e que tudo o que diz parece ser a mais pura das injustiças, nada melhor que assistir uma série que eu adoro de coração e que voltou à Fox Comedy chamada de "Malcon the Middle" no original," A Vida é Injusta" em português e verem que a que têm em casa em comparação com esta, (magnífica actriz Jane Frances Kaczmarek), é uma  autêntica santa Teresa.
Rir até cair pró chão, assistir às loucuras desta
família absolutamente disfuncional!

segunda-feira, julho 11, 2016

Simplesmente...Campeões da Europa 2016

E QUE VIVA A NOSSA FANTÁSTICA SELECÇÃO, MAIS O ENGENHEIRO DA VITÓRIA, O GRANDE E CONFIANTE FERNANDO SANTOS.
AO ÉDER SÓ NOS RESTA AGRADECER O SEU FANTÁSTICO GOLAÇO!





domingo, julho 03, 2016

Revisitação de um Mito

Foi com agrado que vi chegar ao Meo, este fabuloso filme de Christopher Smith (2009) intitulado de Triangel ( Triângulo do Medo) com uma fabulosa e talentosa Melissa Jorge. Já o tinha visto há uns anos atrás e adorei o filme do princípio ao fim. Ontem fazendo zapping pelo video clube da Meo (passo a publicidade) fui dar com o filme e fiquei genuinamente feliz em poder revê-lo.
O filme é imperdível a todos os títulos quanto mais não seja porque eu gosto imenso da mitologia grega e ai o que vemos é nada mais do que a revisitação do Mito de Sísifico um dos personagens mais trágicos da mitologia, pois foi para sempre condenado a rolar uma pedra de mármore montanha acima, pedra essa que por força da sua  maldição rolava ladeira abaixo tendo que  Sísifico tornar a rolá-la montanha acima num movimento para toda a eternidade, sendo incapaz de mudar o seu fatal e amaldiçoado destino.  
Assim, o que aqui vemos neste soberbo filme nada mais é do que o castigo de alguém que faltando às suas obrigações de mãe de um filho deficiente, terá que eternamente repetir os mesmos actos para toda a eternidade, sempre metida dentro de um tenebroso barco de seu nome...Aeolus o nome do pai de Sísifico e Senhor os Ventos segundo a Mitologia grega. 
O filme a espaços é tão espantosamente agonizante e sufocante  que o espectador é genuinamente contagiado pela infelicidade da personagem principal, e esse mérito só um bom realizador e uma actriz talentosa conseguem produzir. 
Carregando o filme às costas pesar de o mesmo ter actores muito bons e alguns em inicio de carreira como é o caso de Liam Hemsworth, recomendo a todos este incrível e inteligente filme que tenho a certeza que muita gente fará aquilo que eu fiz, que foi de tornar a ver o filme outra vez para que algumas cenas pudessem então  ser entendidas, pois o modo que as mesmas foram colocadas são tão subtis que algumas só no fim fazem sentido.
Este Triange é algo a não se perder.