sábado, novembro 22, 2014

Por Dois Dias e uma Noite

Não é raro surgirem filmes que abordem esta chaga social que é o desemprego. O último que eu vi foi o Homens de Negócios ( The Company Men) do realizador  John Wells e com Bem Affleck muito bem secundarizado por Chris Cooper, Craig T. Nelson, Kevin Costner, Maria Bello e                     Tommy Lee Jones. É um tema que nos deita sempre abaixo, porque o que está em causa é muitas vezes aquilo que permite um ser humano sobreviver a este mundo 'cão' com um mínimo de dignidade.
O filme belga  que estreou esta semana de seu nome Dois Dias, uma Noite (Deux jours, une nuit) dos irmãos  Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, com uma portentosa e muito talentosa Marion Cotillard é a meu ver um objecto cinematográfico raro no que diz respeito à abordagem desse problema que aflige minhões de pessoas por este mundo fora que é precisamente o desemprego. Marion Cotillhard tem-nos vindo a habituar a vê-la em grande papéis e aqui não foge a regra, quanto mais não seja porque ao longo de 120 minutos vêmo-la em todas as cenas, dominando todo o filme com uma  presença completamente despojada, onde vestida apenas com  umas singelas calças de canga e um pobre top ela percorre todo o filme com a grandeza  de uma das personagens mais trágicas que há muito me foi dado a ver.
Esta mulher de seu nome Sandra, mãe de dois filhos e casada com um homem infatigável (o excelente actor Fabrizio Rongione) no apoio que lhe presta até ao fim vê-se de um momento para o outro e a sair de uma profunda depressão, em  risco de perder o emprego e ainda pior fica ao saber da monstruosidade que os seus empregadores fazem  ao  oferecer um prémio aos restantes trabalhadores se eles votarem para que Sandra não regresse à empresa.
É então que esta personagem divinamente  representada por Cotilhard, decide no fim de semana anterior ao seu despedimento, (visto este ir-se dar  segunda feira a seguir durante uma votação)  e ajudada pelo seu incansável marido, visitar os colegas e convencê-los a abdicarem do seu prémio  no intuito de ela manter o seu posto de trabalho. Partindo de uma premissa algo singela dentro da monstruosidade do acto proposto pelos seus empregadores, o que vemos aqui é a demanda de uma mulher que à beira da exaustão física e mental,( temos sempre a ideia que de um momento para o outro veremos esta mulher sucumbir em plena rua) percorrer esta via do calvário e onde também vemos em cada universo familiar que ela visita, todo o  desespero com que hoje em dia as pessoas e em concreto os trabalhadores passam para sobreviver numa Europa em crise e onde mil euros valem bem o desemprego de um seu colega de trabalho, por mais anos que o mesmo ali esteja ao lado no seu posto de trabalho.
É um filme muito desesperante, triste e  onde apesar da luz da esperança ser  muito ténue,  mesmo assim os realizadores  conseguem dar-nos  a conhecer a bondade intrínseca de algumas  pessoas que nada tendo e de tudo precisarem, não abdicam mesmo assim de um gesto de bondade e de solidariedade para um seu semelhante.
A esperança ainda existe e ela está bem espelhada na cena final onde sem música ( o filme praticamente não ao tem) vemos o sorriso desta desesperada mulher e ouvimos os seus passos a caminho de casa. Para mim este Dois Dias, Uma Noite é decididamente um dos melhores filmes do ano.

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