segunda-feira, janeiro 22, 2018

Um bom filme, mas....

Confesso que foi uma desilusão para mim assistir a este último filme de Luca Guadagnino, que faz parte da Trilogia sobre o Desejo onde o primeiro foi Eu Sou o Amor com a fantástica Tilda Swinson, o segundo Mergulho Profundo e este ,Chama-me pelo Teu Nome. 
De facto, estava a espera de outra coisa bem mais profunda, até porque o que aqui vemos, já assistimos em outras obras sobre a descoberta do amor na adolescência, só que aqui é a descoberta da homossexualidade, por parte de um jovem culto oriundo de uma família bem estruturada a nível monetário e cultural. 
Ambientado nos anos de 1983,  a fotografia é lindíssima, as paisagens mostram-nos  uma Itália  de postal de sonho, os lugares onde tudo é passado são sítios de nos tirar o fôlego, o casarão onde se passa a ação um must, toda aquela envolvência cultural do qual faz parte um pai professor de História das Artes e uma mãe tradutora, são de nos babarmos para cima deles de tanta  saber que ali há, a música absolutamente fantástica e muito bem entrosada com o decorrer da  ação...mas...e aqui está o busílis da questão...ali nada se passa a não ser mesmo o amor daquele belo, culto e interessante  jovem, pelo aluno do seu pai que vai fazer com que aquele acabe por descobrir a sua homossexualidade e com ela a dor da perda e por conseguinte as dores do crescimento com tudo o que isso acarreta.
 Aflorando de revês a turbulenta Itália política daqueles tempos(pena essa parte não ter sido mais aprofundada) a maior parte do filme somos confrontados com paisagens e pouco mais. Mesmo as cenas de amor entre ambos, nada têm de especial posto  que já vimos aquilo em outros filmes e bem mais aprofundadas e até bem mais interessantes.
 Talvez devido à sua longa duração, o filme  a páginas tantas acaba até por ser algo maçador porque realmente ali nada acontece de importante e mesmo os diálogos acabam por se fundir em duplas intenções, recurso algo já batido.
 Não podemos deixar de verificar que a prestação tanto de Armie Hammer e   principalmente de Timothée Chalamet são soberbas, até porque isso nem está em causa. Contudo, penso que deveriam ter explorado bem mais o papel do pai deste último, o fantástico Michael Stulhbarg, porque de cada vez que este aparece  rouba as cenas visto ele ser mesmo  muito bom, e podemos constatar isso mesmo, na cena quase final em que ele tem uma conversa com o filho que para mim salva o filme todo.Tirando isso, e resumindo, julgo que este Call Me by Your Name, não terá grande hipóteses nos Oscares, se bem que vem rodeado de vários prémios em diversos festivais de cinema, nomeadamente o de Sundance.
 O filme baseia-se na obra do Italiano (de origem egípcia André Aciman) e tem argumento de James Ivory, o mesmo do incomparável Despojos de Dia, Quarto com Vista Sobre a Cidade...
Um filme a vermos e a esquecermos pouco depois, o que é pena.

terça-feira, janeiro 16, 2018

Dois Bons Filmes em Cartaz

Está em cartaz neste momento bons filmes e alguns deles são sérios candidatos a ganhar Oscares sejam eles de Melhor Ator , no caso Gary Oldman no  A Hora Mais Negra do realizador Joe Wright (Expiação,Orgulho e Preconceito, Anna Karenina...) e com uma interpretação super incrível e que amei do principio ao fim deste actor totalmente irreconhecível no papel de Winston Churchill, Um Desastre de Artista de James Franco, com James Franco e o irmão Dave Franco, e que também amei visto o realizador não reduzir o seu filme a uma mera caricatura do que foi a realização do filme The Room, tornado hoje em dia como um dos piores filmes algum dia realizado, interpretado por uma personagem algo sinistra de seu nome Tommy Wiseau, Três Cartazes à Beira da Estrada, filme esse que detestei do principio ao fim e que não entendo o porquê de tanto bruá em seu redor, e The Showman um filme que penso que não terá grandes hipóteses no que respeita a prémios se bem que  é um filme honesto e onde todos se esforçam para dali tirar algo de grandioso. 
Como referi anteriormente eu gostei muito do A Hora Mais Negra, não só pela interpretação do actor em causa como também pela história que se passa no espaço de um mês, onde o primeiro ministro  W.Churchill acabado de tomar posse, tem de decidir se faz frente ao avanço das tropas de Hitler (já com a França invadida) ou resiste com todas as consequências dessa decisão optando por esta última.
 Eu amei os discursos deste homem tão dotado da palavra. De facto ouvir os seus discursos é ouvir o que de de melhor o homem possui que de facto é o dom da palavra.
Nunca pensei que alguém pudesse ter um dom assim e de facto WC tinha-o e sabia fazer uso dela. Gary Oldman soube de uma forma magistral mimetizar este personagem tão singular na história da Grã Bretanha, quiça de toda a Europa. Sai do filme com a certeza de que já não se fazem estadista deste calibre.Está de parabéns este actor, K.S.Thomas como esposa de W.Churchill , Lily James e todo a a entourage a começar pelo realizador.
 
No campo oposto, ou seja, o da comédia ou tragicomédia a meu ver, temos o Um Desastre de Artista, filme realizado por James Franco como referi anteriormente. O que mais me espantou neste filme é que o mesmo poderia resvalar muito facilmente para uma mera caricatura do personagem em causa que é (ele ainda é vivo) Tommy Wiseau, um ser que ninguém sabe onde nasceu, posto que ele nunca o disse, mas que fala de uma forma que mostra claramente que não é americano, que possui uma fortuna que também ninguém sabe a sua proveniência e que prosseguindo um sonho, o de ser actor, vai de fracasso em fracasso até se juntar a outro fracassado da vida Greg Sestero e criarem um filme, hoje um marco da história do cinema pelos piores motivos que é o The Room. É pois a história da realização desse filme que J.Franco vai retratar neste Um Desastre de Artista e para isso vai fazer ele próprio o papel de Wiseau tendo o seu irmão Dave Franco (grande actor!) no de Greg Sestero. 
O filme é de facto fantástico porque JF consegue mimetizar passo a passo não só o que foi a realização desse filme ( e o fim do filme mostra esse processo onde o ecran é dividido em dois e de um lado vemos as cenas verdadeiras do The Room e do outro lado aquilo que J.Franco filmou), conseguindo assim dar-nos a visão de quem foi esse homem tão estranho que é Tommy Wiseau. 
Está de parabéns J.Franco e julgo que  o mesmo é de facto merecedor de todos os prémios que vier arrecadar.  


Deixei para o fim O Três Cartazes à Beira da Estrada, pelo sentimento que o mesmo deixou em mim. Eu quando vi a atribuição do  Globo de Ouro na semana passada a Frances MCDorman (atriz que eu gosto muito) e o filme ser tão aplaudido confesso que criei grandes expectativas acerca do mesmo. Quando o fui ver no domingo  foi uma desilusão total. Eu não saí ao meio do filme porque não gosto de fazer isso, mas que foi para mim uma estopada aguentá-lo até ao fim...aí isso foi.
 Há ali no filme qualquer coisa que me incomodou bastante. Achei tudo aquilo forçado, pesado, demasiadamente e esforçadamente pesado, com personagens todas elas à beira do abismo, demasiado longo sem ser necessário, com situações incoerentes e que são ali metidas "a martelo" para dar ao filme uma aura de grandiosidade que o mesmo a meu ver não possui e nem mesmo a prestação de Frances McDormand me convenceu posto que e a todo o momento só me lembrava dela em Fargo, esse sim um grande papel da parte da mesma.
 Penso que ela aqui mimetiza muito essa sua prestação em Fargo e isso vê-se nas suas expressões faciais. Ela por si só, já tem um rosto a " William Dafoe" , ou seja, o mesmo é vincadamente marcado e penso que dali não pode sair  (porque ela própria não o consegue) grandes expressões.
Assim vão buscá-la para a colocar sempre zangada coisa que ela o faz durante todo o filme, penso que...sem grande esforço.Nunca vi aquela mulher rir-se, suavizar a sua expressão...nada! Colocou uma máscara facial  e vai com ela até ao fim. Vestida com um macacão de ganga do principio ao fim,o  que aqui vemos é alguém em busca de justiça sem que contudo nos crie (a mim não criou) qualquer empatia pela sua dor. Penso que o realizador Martin McDonagh  acabou quase por reduzir a personagem a  uma mera caricatura de uma mãe em grande sofrimento pela morte de uma filha de forma bárbara, numa América profunda, aquela América onde o poder central praticamente não chega e mandam os que lá vivem. Aquela demanda desta mãe por justiça suou-me a coisa muito forçada, nada daquilo me convenceu e ainda estou também  para saber como é que Sam Rocwell está a ser tido como um grande actor e a ganhar prémios quando o papel dele é de um mero bronco sem qualquer consistência e consciência moral e a sua prestação por vezes algo forçada a meu ver.
 Enfim...dá-me ideia que estes Oscares a consagrarem este Três Cartazes.... vão ser como os que consagraram o Este País Não é Para Velhos,  um filme para mim simplesmente detestável e sem qualquer interesse, e que  foi tido como uma obra prima.
Por último, The Showman. O que há a dizer acerca dele?Bom filme com uma esforçada interpretação de Hugh Jackman. Pouco mais há a acrescentar.
A colocar as minhas fichas em todos estes filmes eu poria em um que ainda não estreou em Portugal que é A Forma da Água de Guilermo del Toro, o mesmo realizador do soberbo O Labirinto do Fauno.
 Esse sim...parece-me ser um bom   filme e que ao estrear estarei lá em menos de nada. Até lá há que ir ver A Hora Mais Negra e Um Desastre de Artista. Dois magníficos filmes em cartaz.

quarta-feira, janeiro 10, 2018

Claude Monet-Madame Monet sobre o Canapé

Num dia como o de hoje cheio de chuva, vento e frio apetece (quem pode) ficar sentadinha num sofá a ler e daí me ter lembrado de me debruçar sobre esta tela do pintor francês Claude Monet, onde denominada de Meditação-Madame Monet sobre o Canapé onde o que nela vemos é a mulher do pintor, a descansar sobre um canapé com um livro fechado nas mãos e em atitude de quem medita sobre a vida ou sobre o que acabou de ler. 
Monet é muito conhecido pelas suas telas feitas ao ar livre, procurando através delas captar a atmosfera através da luz e da cor. Contudo, na década de 1870 (esta tela aqui foi pintada entre 1870/71) Monet resolve recolher-se e cria este esplendor aqui presente. O que aqui vemos é um trabalho de contrate luz e cor e no qual a figura da mulher fica ligeiramente deslocada do centro, permitindo assim que o espaço seja plenamente apreciado que rodeia a personagem retratada. 
Como tal, acaba por ser dada alguma importância aos aspectos decorativos da sala onde podemos apreciar os gostos decorativos da época em questão como e o caso da jarra  do leque colocados numa prateleira por cima da cabeça de Madame Monet, e que reflectem uma estética japonesa muito apreciada à época.. O canapé e o elemento colorido da composição que vai fazer contrate com o vestido escuro de Camille Monet onde o único elemento de cor vai ser a gola vermelha e a capa do livro num também num vermelho vivo. 
A luz penetra através das cortinas  iluminando parcialmente o espaço, deixando uma pequena zona  na sombra fazendo a sim realçar o tapete de cores garridas. Essa iluminação natural ressalta das pinceladas curtas e livres. O rosto Melancólico da mulher de Monet está perfeitamente recortado pela luz que incide na sala, e ao mesmo tempo, demarcado pelo penteado insinuante e pelo dito laço vermelho colocado por debaixo do seu queixo. Meditando tranquilamente Camille Monet segura um livro com naturalidade e delicadeza. 
 Adoro esta composição porque ela reflecte tranquilidade e melancolia mas ao mesmo tempo através das pinceladas coloridas a composição transformasse em algo de atraente ao olhar de quem aprecia a tela.A mesma, um óleo sobre tela, pode ser apreciada no Museu D'Orsay em Paris.