segunda-feira, agosto 11, 2014

Belém


Está em exibição um filme muito bom e tal como já o tinha dito em anterior post cinematográfico, muitos bons filmes estreados nesta silly season correm o risco de passar despercebidos não só pelo mês que é  mas também por ficarem submersos por estreias  de blockbusters, o que é pena, pois este Belém do realizador israelita Yuval Adler  é Magnífico, magnífico e terrível, pois o que ali vemos não só ajuda a compreender e muito o conflito israelo/palestiniano que dura há décadas, como nos dá  uma perspetiva de ambos os lados da barricada sem que o realizador penda para qualquer dos lados, o que é algo de muito difícil de ser feito dado o mesmo ser judeu e ter podido cair na tentação de ser faccioso. Refiro que esta é a primeira longa metragem de Yuval Adler que partindo da sua própria experiência pessoal como alguém que sempre viveu este conflito, fez uma pesquisa vastíssima, assim como ouviu vários testemunhos antes de realizar o filme. 
 Tal não acontece aqui, e o que vemos (já o mesmo se passava no também magnífico Omar do realizador árabe  Hany Abu-Assad  (candidato ao Oscar de melhor Filme estrangeiro) que já nos tinha dado o soberbo Paradise Now, é a duplicidade, o engano, a mentira, as lealdades algo trocadas, o patriotismo exacerbado , num conflito quase que incompreensível para nós, visto que aquelas pessoas que  vivem paredes meias umas com as outras mas, possuem contudo pontos de vista diametralmente opostos e  muito dificilmente algum dia viverão em paz e harmonia!
Este Belém mostra-nos a relação e amizade entre um judeu de seu nome Razi (Tsahi Halevi um operacional das secretas israelitas e Sanfur (Shadi Mar'i), cada um deles travando conflitos vários, que vão da descoberta de actividades terroristas por parte de Razi, e a denuncia dos seus, por parte de Sanfur, ambos procurando ser mais do que informador e informante, vivendo ambos no fio da navalha e em que as mortes, as traições, os conflitos de consciência e as lealdades várias pastam em terrenos totalmente minados pela desconfiança, a violência, o ódio quase irracional, e por fim a morte.
Um filme fantástico, muito duro, triste, pesado, muito bem realizado e com atores em completo estado de graça. Adorei a prestação de Shadi Mar'i, um soberbo jovem ator, uma presença marcante no êcran, com uns fantásticos olhos  tristes onde nele vemos todo o horror da guerra e por onde perpassa a desesperança total no ser humano.
O filme ganhou seis prémios da Academia do Cinema Israelita, incluindo os de melhor filme, realização e argumento (co-escrito por Adler e Ali Wakad). Foi ainda apresentado na selecção oficial do Festival Internacional de Cinema de Toronto e nos Dias de Veneza
 Uma obra Magnífica!

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