terça-feira, outubro 21, 2014

H.Avercamp-Cena sobre o Gelo

Apesar do tempo cá em Portugal e em outros pontos da Europa, estar mais para Agosto de tão quente que está, do que para Outubro, não resisto aqui a escrever sobre esta  bonita pintura que aqui se vê e  que nos mostra  um típico dia de inverno na aldeia holandesa de Kampen, a noroeste de Amesterdão. O autor desta pitoresca obra é Hendrick Avercamp, pintor que eu aprecio imenso e que era natural desta terra e por isso era conhecido como o "mudo de Kampen" pois Avercamp padecia desta enfermidade.
A obra reflecte a vida quotidiana do lago existente em Kampen, e é uma vida que decorre sem qualquer problema sobre o gelo. Os homens e as mulheres realizam o seu trabalho profissional do dia-a-dia, enquanto as crianças e alguns adultos patinam livremente sobre o gelo.
Essas crianças estão a jogar uma mistura de hóquei moderno com golfe e não nos podemos esquecer que os desportos de inverno eram ( e ainda são)  muito apreciados pela sociedade holandesa. Há também no meio desta multidão de figurinhas personagens mais ricas que podem ser distinguidas através das suas vestes e, sobretudo, através das suas golas gomadas (muito caras na altura) e que cruzam o lago em bonitas carruagens. É também interessante observar o reflexo da carruagem da frente sobre a água gelada, efeito muito bem conseguido por Avercamp, um verdadeiro especialista em paisagens de inverno.  
É de referir que na sociedade holandesa a patinagem sobre o gelo era muito comum, existindo, inclusivamente carruagens com patins para as pessoas se poderem locomover de um lado para o outro do lago, tal como podemos observar no quadro.
Os pormenores extremos da narrativa, descrevendo todos os pormenores, é característica da pintura flamenga, e tem a sua origem na obra de Brueghel, o Velho, pintor que influenciou muito Avercamp. As cores frias, brancas e cinzentas, dominam a composição, elemento característico da paleta o pintor, mestre da paisagem e, sobretudo, de cenas de inverno que na sua época tinham muito êxito. 
Esta obra muito bonita e singela  de Hendrick Avercamp denomina-se de Cena sobre o Gelo, foi realizada por volta de 1625, é um óleo sobre madeira e pode ser apreciada no National Gallery of Art de Washington.

sábado, outubro 11, 2014

Malcovich

Che Guevara
A primeira vez que dei conta do grande actor que John Malcovich era foi quando vi o filme Ligações Perigosas em que nele entravam uma estupenda e muito ressabiada  Glenn Close e uma novíssima  e muito bela Michelle Pfeiffer.Era e ainda é  um bom  filme realizado   por Stephen Frears,  cujo argumento foi  baseado na peça homónima de  Christopher Hampton.
Fiquei logo a gostar de Malcovich e a partir daí fui seguindo com alguma atenção a sua variadíssima e extensa carreira, feita de muitos altos e alguns (poucos) baixos, isto porque mesmo que o filme não seja uma grande obra de arte, estando Malcovich as coisas sempre vai andando e não se perde tudo.
A.Einstein
Depois vi aquela loucura que foi Quem quer ser John Malcovich,um estranho filme de Spike Jonze e onde entrava John Cusack, Cameron Diaz, e obviamente um sarapantado Malcovich e achei que estava ali um génio na representação, certeza que se cimentou com outros filmes entre os quais o Destruir Depois de Ler, outra pérola desta vez dos irmãos Coen, com os incríveis Jorge Clooney, Brad Pitt e uma incrível Frances McDormand ( que eu adoro de coração) e ali vi que este actor é mesmo uma coisa extraordinária, não esquecendo ainda o amor que o mesmo tem por Portugal, onde se não me engano até tem um restaurante em parceria com mais alguns sócios portugueses.

Andy Warhol
Hitchcock
Quando eu já julgava que ele tinha feito tudo eis que o homem resolve fazer uma exposição em que ele serve de modelo para homenagear uma série de figuras conhecidas que vão do cinema  à pintura, passando pela literatura. As fotos foram tiradas por Sandro Miller, e vemos nessas fotos, que já vão aparecendo em diversos órgãos de comunicação social e revistas, um Malcovich, metamorfoseado em  Pablo Picasso, Marilyn Monroe, Andy Warhol, M.Jagger, Alfred  Hitchcock,Che Guevara, Einstein, Truman Capote, Ernest  Hemingway, entre  tantos outros....
Ernest Hemingway
Esta exposição denominada, "Malkovich, Malkovich, Malkovich:  Homage to photographic masters", estará então patente na galeria Catherine Edelman em Chicago a partir de 7 de Novembro.
Dar-se-á com certeza  um belo e muito original encontro entre o grande público e as saudáveis loucuras deste grande actor que é John Malcovich.
A ver vamos....


 

J.Paul Gautier








John Lenon



Marilyn Monroe

Mike Jagger

Pablo Picasso

segunda-feira, outubro 06, 2014

Um passeio por esta Lisboa

De vez em quando vou de metro até ao Cais de Sodré, depois vou andando a pé para o Rossio e daí apanho o autocarro para casa. O que mais me surpreende nesta caminhada é a Ribeira das Naus que está tão diferente, mas tão diferente que muitas vezes me quedo parada ou sentada nos degraus que dão acesso ao rio surpreendida com as novíssimas modificações aí operadas e lembrando anos atrás em que o trânsito ali era tão caótico e estava tudo tão degradado que só por lá passava quem manifestamente tinha que por lá passar!
Agora  tudo está diferente, o rio abriu-se para a cidade de Lisboa. Tudo está mais desafogado, limpo, bonito e os turistas e os nacionais adoram. Estar ali sentada a ver o  rio Tejo e a nossa vista  abranger uma grande parte da outra margem e com  os barcos a fazerem a sua entrada no cais e respectiva saída faz-nos perceber o porquê deste ponto da cidade de Lisboa ser uma atracção para milhares de turistas que nos visitam todos os anos. Também a Praça do Município com os seus restaurantes e esplanadas tornou-se um lugar de passeio deveras interessante. 
De facto, vale a pena visitar o Mercado da Ribeira e os seus novíssimos pontos de restauração, alguns deles 'comandados´ por bons chefes de cozinha, vale a pena dar uma espreitadela a algumas ruelas adjacentes aos mercado e ir circundando devagar até aos restauradores, passando pelas movimentadas ruas do rossio e para quem gosta de andar a pé ('alma até Almeida', como dizia a minha falecida avõ) subir a Av. da Liberdade até ao Marquês  de Pombal, espreitando as monstras das grandes marcas que ali estão instaladas.
Lisboa está muito bem situada  na lista das capitais onde vale muito a pena passar um fim de semana. Tem boa comida, gente simpática, e uma luz única. Os seus miradouros são o que de mais bonito há e não é de surpreender que já está à frente de lindas cidades como Madrid e Amesterdão.
Está de parabéns a câmara da cidade e quem investe nesta cidade maravilhosa.
Clicando no link abaixo poderão dar uma espreitadela à nova Ribeira das Naus e clicando no  power point poderão deliciar-se com os maravilhosos miradouros e esplanadas  de Lisboa.
Uma boa visita a esta encantadora cidade.
http://vimeo.com/101176605


quinta-feira, outubro 02, 2014

Em Parte Incerta

Com realização do grande realizador  David Fincher eis que estreou hoje nas salas de cinema a sua novíssima obra "Em Parte Incerta", (Gone Girl) com Ben Affleck e  uma surpreendente Rosamund Pike nos principais papéis. O filme foi retirado da obra de Gillian Flynn que também é aqui a autora da adaptação cinematográfica.
 Este Em parte Incerta é para mim  um acontecimento cinematográfico, (como quase todos as obras deste realizador), visto que o filme é mesmo muito bom e não me admiraria nada que aquando dos Óscares não só o víssemos nomeado para várias categorias, tais como o de Melhor Filme, como Rosemund Pike a receber o de Melhor Actriz Principal e autenticamente merecido, pois embora a sua carreira seja feita de altos e baixos e ela não seja uma estrela ao nível de uma Amy Adams, para lá caminha rapidamente.
 O filme é extremamente bom e fantasticamente soturno. É o desmanchar paulatino de um casamento, em que se no início tudo parece muito bem, com o andamento do mesmo brechas vão surgindo e o que vemos não é nada bonito de se ver.
É um filme longo, violento, muito negro e triste, a espaços extremamente surpreendente, desconfortável, amargo, por vezes irónico, com prestações avassaladoras de ambos os actores  coadjuvado pelos fantásticos Tyler Perry (num impagável advogado) Neil Patrick Harris,Carrie Coon, Kim Dickens, Patrick Fugit , entre outros.
É uma obra cinematográfica que deixa-nos um sabor amargo durante e no fim, e em que a 'instituição matrimonial' é completamente estraçalhada não ficando pedra sobre pedra.
No fim...bem no fim cada um sai do cinema muito descrente da vida conjugal (habitua-te....isto é o casamento! diz a páginas tantas Amy a personagem principal para um atónito e assustado marido) e o que vemos ali, de delicioso ele nada tem, muito pelo contrário!
Pelo que eu li,  Gillian Flynn, a autora do livro não quis que o fim do filme não fosse igual à da obra para surpreender o espectador. Eu como não li a obra(faço intenções de o fazer depois de hoje ter visto o filme) saí do cinema  completamente surpreendida, com um sabor amargo na boca e com a cabeça muito cansada de tanta maldade e atónita com o que um ser humano é capaz de fazer a outro mesmo vivendo durante anos sob o mesmo tecto.
Realmente o ser humano não me deixa de surpreender nunca, e talvez seja isso que faça a sua riqueza e grandeza.
Um grande filme de um grande realizador, merecedor de todos os prémios que poder ganhar.
 Ah...Ben Affleck está um must, pois para mim  tem tanto de bom actor como de bom realizador.
 Temos homem!

sábado, setembro 27, 2014

Cenas da Vida Romântica

Fui ver faz hoje oito dias o filme de João Botelho Os Mais-Cenas da Vida Romântica e com os actores Adriano Luz,, Ana Moreira, Catarina Wallenstein, Filipe Vargas, Graciano Dias, João Perry, Maria FlorRita Blanco, entre outros tantos bons actores.
 Gostei muito do filme da  sua estética, daqueles cenários pintados à mão, daquela corrida de cavalos quem  é um must, amei ver o grande actor que é João Perry e também não desgostei nada de ver a actriz brasileira Maria Flor no papel de Maria Eduarda. Tive foi uma pequena desilusão com  o personagem Carlos da Maia que Adriano Luz interpreta. Gostaria que tivesse sido escolhido um actor mais velho e mais louro porque como li e reli várias vezes esta obra fantástica de Eça de Queiroz, não sei porquê sempre coloquei na minha cabeça um Carlos diferente. Este aqui, não vai mal mas achei-o muito novo e muito imberbe, mas isso não invalida que vá muito bem assim como este personagem único que é João da Ega que cada vez que aparece em cena, brilha tanto que só nos apetece levantar e aplaudir. Um filme muito bem feito e  com bons actores . Parabéns a  João Botelho e toda a sua trupe.

terça-feira, setembro 23, 2014

Paisagem Outonal

Como praticamente não tivemos verão, era espectável que o Outono caísse em força e cá está ele, cheio de chuva, enxurradas, gente com as casas alagadas, ruas da cidade transformadas em rios, e até centros comerciais com água a cair do teto como se de um chuveiro se tratasse. Como é possível uma coisa dessas vai para lá da minha compreensão, porque se isto é assim que estamos no Outono, quando vier o Inverno e chover  'forte e feio' não sei o que será. O que nos vale é que a temperatura está bem amena mas existe sempre aquele dilema da pessoa não saber o que vestir. Se veste e calça-se muito a verão arrisca a ficar com os pés e o corpinho  todo molhados com estas constantes trovoadas, se veste roupa mais quente arrisca a atabafar de calor. Estamos em plena 'Verdade Inconveniente' do Al Gore e não há dúvida  que o clima se alterou totalmente. Penso que a Cimeira que hoje começa em Nova Iorque ( e em que Leonardo diCaprio é um dos oradores) não irá trazer grandes novidades, devido aos interesses  vários que cada país possui.
Contudo, o que eu vos queria aqui hoje falar é de uma tela muito outonal do pintor holandês Meindert Hobbema. Na paisagem que aqui surge em  tons quentes de castanho domina uma cena muito calma e outonal. Os bonitos caminhos sinuosos que conduzem o nosso olhar através da tela criam a  ilusão de profundidade. Este  pintor revelou-se exímio na reprodução muito precisa da incidência da luz em cada folha, ou tufo de relva. Os animais e os humanos que aqui surgem são elementos secundários, em relação à beleza da paisagem em si. De facto só um olhar mais atento consegue descortinar as casas , meios escondidas pelas árvores.
Nas minhas pesquisas sobre este pintor holandês, descobri que durante a década de 1670 e no auge das  suas faculdades artísticas, Hobbema tornou-se por casamento cobrador de taxas de vinhos em Amesterdão e a partir de então o seu trabalho de pintura reduziu-se a quase nada, o que não deixa de nos surpreender.Enfim...
Esta tela denominada Estrada ao Longo de um Dique foi realizada por volta de 1663, é um óleo sobre tela e faz parte de uma Colecção Particular.

sábado, setembro 20, 2014

Eu Sou o Amor

Há dias passou na RTP 1, às tantas da madrugada um filme que quando esteve em cartaz eu não tive oportunidade de ver com  grande pena minha. O filme denominado Eu Sou o Amor  é do realizador italiano Luca Guadagnino e a única coisa que posso dizer é que o filme é belíssimo, daquelas obras que vou guardar no meu coração e que irei ver se o mesmo está à venda porque procurarei revê-lo algumas vezes. Tem a grande Tilda Swinton ( que eu amo de coração) como protagonista principal coadjuvada por Alba Rohrwacher, Edoardo Gabbriellini, Flavio Parenti, Pippo Delbono e a grande Marisa Berenson.
Assistir a este filme é para mim como assistir a uma Ópera, uma ópera de cariz puramente familiar, em que Tilda Swinton, é o pilar básico e que quando desmorona, vai levando atrás dela o resto da família. Ela aqui é uma russa, que apenas dialoga em russo com o seu filho do meio e é  através deste e da sua filha mais nova (nunca através do marido, que a vê apenas e só como figura decorativa)  que vamos descobrindo um pouco do pensar desta mulher que sendo a matriarca de uma abastadíssima família milanesa, os Recchi é também o seu elemento mais opaco, quase transparente para  o marido, ('tu não existes'!) diz ele a páginas tantas, e  que contudo é o elemento mais apaixonado e mais vivo deles todos!
O realizador consegue desde o primeiro momento que vemos esta mulher Emma de seu nome, dar-nos a ver uma mulher que reprime continuamente as suas paixões, sendo uma delas pela culinária e não deixa de ser espantoso e quase antológico vê-la degustar gulosamente o prato de marisco cozinhado por António, a sua grande paixão! E é  ao dar-se o encontro entre ela e António, o melhor amigo do filho, ambos amantes da comida que se inflamam as paixões e se dá  início ao desmoronar da frieza desta matriarca, arrastada sem freio para uma paixão incomensurável  por um homem que  desde o primeiro momento vemos que ele é tudo aquilo que o filho mais novo queria ser e não pode, arreigado   que tem de estar aos valores familiares.
Vemos também aqui ao desmembramento de uma família através do seu tecido empresarial, quando o patriarca decide vender a fábrica que deu nome a esta família e os unia como fios entrelaçados numa tela e não é sem razão que vemos que o que sempre fez a grandeza da família foi a produção de tecidos, agora vendidos a terceiros sem grandes remorsos e pruridos por parte do patriarca mas com grande dor por parte de Edo, o filho mais velho que procura manter a tradição familiar. E não é sem razão que Edo  vai ser o elemento trágico, aquele que vai fazer Emma dar o passo definitivo rumo a uma outra vida.
O filme tem uma fotografia linda, imagens fabulosas, Milão é  quase sempre visto de cima através das cúpulas das catedrais, elementos artísticos  muito  presentes em toda a história.
 A própria homossexualidade da filha mais nova , o elemento artístico da família e que por isso se distancia dela procurando outras vivências, é-nos mostrada de um ponto de vista extremamente sensível e tocante e  através da sua transformação física . Não  podemos esquecer Ida a governanta que assiste  silenciosamente toda a família, sofrendo por ela e que no fim faz as malas à matriarca e sendo  quem mais chora por ela.
Tilda Swinton, despe-se sem preconceitos, mostra o seu corpo sem qualquer pudor, não há retoques de imagem, aquilo que ela mostra, é aquilo que ela é, vemos, cada sinal e cada pequena rugosidade  do seu corpo, e o mais espantoso para mim é a imagem final, em que despojada de riquezas, maquilhagem, cabelos cortados  ela finalmente mostra toda a sua paixão e então não hesita e sai! Caí o pano sobre o filme e termina a "ópera". 
 A música é também aqui um  elemento chave, e o título do filme o realizador vai busca-lo à cena capital e espantosa  do filme Filadélfia em que Tom Hanks já quase no fim da vida ouve Maria Callas e o seu  Io sono l'amore, perante um Denzel Washington perfeitamente estarrecido.
Se há algumas dúvidas que Tilda Swinton é uma atriz divina, elas aqui são perfeitamente confirmadas, e para mim este é um filme sublime!

terça-feira, setembro 16, 2014

Primeiras Fotos Coloridas

Essas cenas são apenas de um século atrás !São as primeiras fotos coloridas do mundo, tidas como feitas pelos irmãos Lumière .Explicação do método usado à época : Eram usados grânulos de amido de batata ( fécula ), tingidos de verde, laranja e violeta, para criar imagens coloridas em placas de vidro semelhante a slides. Ao passar pelos grãos, a luz se decompõe e cria o colorido suave que se vê nas fotos produzidas dessa maneira , cores pastéis, com um ligeiro efeito granulado. Basicamente é isso um autocromo: uma chapa de vidro coberta por minúsculos grãos coloridos transparentes, sobrepostos a uma imagem fotográfica preto e branco.
A seguir, eram cobertos por uma camada de verniz impermeável que isola dos banhos de processamentos. Em seguida, imersos numa emulsão pancromática, que é sensível a todas as cores. Em baixo poderão apreciar esta técnica que criou fotos tão bonitas e tão raras.


sábado, setembro 13, 2014

Frida Kahlo-Uma Vida de Sofrimento

 "Lembro-me que tinha sete anos quando se deu a "Decena Trágica.Testemunhei com os meus próprios olhos a batalha dos camponeses de Zapata contra os Carrancistas".
Foi com estas palavras que Frida Kahlo (1907/1954), ao escrever no seu diário nos princípios de 1940, descreveu as suas recordações da Decena Trágica, "os dez dias trágicos" de Fevereiro de 1913.
De facto, a sua identificação com a Revolução Mexicana (1910/1920) foi tão forte que ela sempre disse ter nascido em 1910. Seguindo-se à era colonial e aos trinta anos de ditadura do general Porfírio Díaz, a revolução procurou implantar mudanças fundamentais na estrutura social do país.
Frida Kahlo decidira aparentemente que ela e o novo México tinham nascido ao mesmo tempo. Na verdade, Frida era três anos mais velha, até porque Magdalena Carmen Frieda Kahlo Calderón nasceu a 6 de Julho de 1907 em Coyocán, mais tarde um subúrbio da Cidade do México, terceira das quatro filhas de Matilde e Guilerme Kahlo.
Numa conversa com a crítica de arte Raquel Tibol, a artista descreve pormenores da sua infância."A minha mãe não me podia dar de mamar porque a minha irmã Cristina tinha nascido apenas onze meses depois de mim. Fui amamentada por uma ama, cujos seios eram lavados imediatamente antes de eu mamar. Num dos meus quadros apareço, com cara de mulher adulta e corpo de criança, nos braços da minha ama, com leite a escorrer dos seios dela como se fossem do céu." A obra em questão é A Minha Ama e Eu", de 1937.Por outro lado descreve o pai como sendo cordial e carinhoso, "A minha infância foi maravilhosa", escreveu ela no seu diário, "porque apesar do meu pai ser um homem doente (sofria de tonturas frequentes), foi para mim um grande exemplo de ternura, de trabalho (como fotógrafo e também como pintor) e, acima de tudo, de compreensão de todos os meus problemas."
Também se recorda, quando teve poliomielite aos seis anos, o modo especial como o pai tomou conta dela durante os nove meses de convalescência. A sua perna direita ficou muito magra e o pé esquerdo atrofiado. Apesar do pai se certificar de que ela fazia regularmente exercícios de fisioterapia para fortalecer os músculos debilitados, a perna e o pé ficaram deformados para sempre. Esse foi um sofrimento que, enquanto adolescente, ela procurou esconder dentro das calças e, mais tarde, debaixo de compridas saias mexicanas, que acabaram por lhe definir para sempre uma extremamente imagem original e ao mesmo tempo algo trágica.
Tendo-lhe sido na infância posta a alcunha de "Frida da perna de pau",  algo que a magoava profundamente, ela veio  contudo mais tarde a ser o centro das atenções com as suas vestes exóticas que usou até morrer. Acompanhou várias vezes o pai, um entusiasta artista amador, nos seus passeios, como pintor, pelas zonas campestres locais. Ele ensinou-a também a usar máquina fotográfica e a revelar, retocar e colorir fotografias-experiências que vieram todas elas a ser muito úteis para a sua pintura.
No dia 17 de Setembro de 1952, ao voltar da escola para casa, Frida Kahlo e o namorado apanharam um autocarro para Coyoacán.Poudo depois deu-se um terrível acidente: o autocarro chocou com um eléctrico e várias pessoas sofreram morte imediata.Frida também ficou muito ferida, o que levou os médicos a duvidarem da sua sobrevivência.
Um ano depois, num pequeno esboço a lápis, a que ela vai intitular de "Acidente", regista o trágico acontecimento que viria a modificar-lhe a vida de maneira decisiva.Devido ao acidente ficou de cama durante três meses.
Passou um mês no hospital.Depois de inicialmente parecer ter recuperado por completo, começou a sentir dores na coluna e no pé direito. Também se sentia sempre cansada. Aproximadamente um ano depois, deu de novo entrada no hospital. A coluna não fora radiografada na altura do acidente, e só então se descobriu que tinha várias vertebras deslocadas. Durante o nove meses seguintes teve de usar uma série de coletes de gesso, que depois vieram a ser pintados por ela. Nas inúmeras cartas que escreveu a Alexandro Gómez Arias desabafou tudo o que sentiu durante este período em que esteve completamente privada de liberdade de movimentos corporais e em que por vezes tinha de ficar imóvel na cama. Foi nesses meses que começou a pintar, como um modo de evitar o aborrecimento e a dor. "Eu senti que tinha energia suficiente para fazer outras coisas sem ser estudar para vir a ser médica"."Comecei a pintar sem dar muita importância a essa actividade", disse ela mais tarde ao crítico de arte Antonio Rodríguez. "O meu pai, teve durante muitos anos, uma caixa de tinas de óleo e pincéis dentro de uma jarra antiga e uma paleta a um canto do seu estúdio fotográfico. Ele gostava de pintar e de desenhar paisagens de Coyoacán junto ao rio e por vezes copiava cromolitografias.Desde pequenita, eu não tirava os olhos daquela caixa de tintas. Não sabia explicar porquê! Como ia ficar presa a uma cama durante tanto tempo aproveitei a oportunidade para pedir a caixa ao meu pai. Como um miúdo pequeno a quem tiram o brinquedo para dar ao irmão doente, ele emprestou-ma. A minha mãe pediu a um carpinteiro que me fizesse um cavalete de pintor, se é que isso se podia chamar ao material especial que se conseguiu montar na minha cama, pois eu não me podia sentar por causa do colete de gesso. E assim comecei o meu primeiro quadro: o retrato de um amigo".Também se colocou um dossel com um espelho que cobria toda a parte de baixo da cama de modo que Frida se pudesse ver e ser o seu próprio modelo. Num dos seus quadros Kahlo retrata-se, precisamente deitada nesta cama de dossel, em que o seu esqueleto paira sobre ela, num prenúncio do infortúnio que se tornaria a sua vida.
Assim começaram os auto retratos (que pintava quase que obsessivamente) e que vieram a dominar a obra de Frida Kahlo, permitindo-nos ver todas as etapas do desenvolvimento desta grande artista mexicana.
"Eu pinto-me porque estou muitas vezes sózinha e porque sou o tema que conheço melhor".
O pequeno filme que realizei procura mostrar alguns dos auto retratos desta pintora excepcional, que nos deixou inúmeras obras e que procurava neles reflectir o momento pelo qual passava e que embora fossem bastante "fortes", não eram surrealistas: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade". Frida contraiu uma pneumonia e morreu em 1954 de embolia pulmonar, mas no seu diário a última frase causa dúvidas: "Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar - Frida".
Talvez Frida não suportasse mais, tanta dor física e tanto sofrimento emocional.

terça-feira, setembro 09, 2014

Sem Qualquer Magia

Escrito e realizado por Woody Allen, fui ver este fim de semana o seu último filme denominado de   Magia ao Luar. Uma desilusão! Nada de magia, nada de luar e se por magia se entende o personagem principal ser um mágico...então isso é nuito pouco!
Mas que deu neste homem que é tão bom realizador e  capaz de criar histórias tão absorventes? Para mim a veia artística de W. Allen esgotou-se no Meia Noite em Paris, pois que a meu ver a partir daí só tem saído coisas absolutamente insossas, com atores que me parecem estar ali a fazer um frete....aí que belos tempos em que trabalhar com este realizador era um must e toda a gente dava o "couro e o cabelo", e que saudades da antiga trupe que o acompanhou durante anos! Até o grande Colin Firth está para ali feito um mono, a Emma Stone (que eu adoro de coração) está para ali feita uma parvinha, e os restantes atores apenas a ganharem o seu, que isso não está fácil nem para as bandas dos States.
Mais uma vez o nosso querido Woody Allen, vem filmar à Europa, desta vez não foi meigo e toca de ir para a Riviera francesa, toca de mostrar as suas belíssimas paisagens, as suas deslumbrantes casas, o glamour de uma época lindíssima que já não volta nunca mais (os anos vinte) com um guarda roupa que é a única coisa digna de nota e que se espera não ser esquecido para o ano na noite dos Óscares e...mais nada. Nada ali tem alma, nada ali nos seduz, um tédio, um bocejo, uma calmaria sem fim, um pasmo enorme. É uma pena, uma pena mesmo, porque Woody Allen,  e os atores ali presentes, não desaprenderam e se o que ali vemos é este "pão sem sal" é porque assim quis o realizador, mas a mim  e penso que a mais gente que gosta dos filmes de W.Allen isso sabe a muito pouco, porque todos sabemos que este realizador é capaz de coisas muito boas.
Não é que o filme seja de fugirmos a "sete pés", mas daquele 'mato não sai nenhum cachorro', e por sua vez nós  saímos do cinema com a sensação que daqui a 5 minutos ninguém mais se lembrará do que ali se passou.
O elenco conta  Colin Firth, Emma Stone,  Hamish Linklater, Marcia Gay Harden, Jacki Weaver, Erica Leerhsen, Eileen Atkins e  Simon McBurney nos principais papéis.
Uma desperdício de talentos e no fundo quem ganha não somos nós mas sim os atores que se devem ter divertido a passear por aquelas paisagens maravilhosas, por andarem naqueles carros lindíssimos e por se divertirem naqueles decors simplesmente sumptuosos, o que  manifestamente  é muito pouco.

sábado, agosto 30, 2014

Destruição de Mitos

Criou-se há muito, mas muito tempo atrás este bizantino mito de que são sempre os homens a esperar pelas mulheres quando vão ambos sair. Vemos isso em filmes, em que invariavelmente o homem está na sala fumando cigarros atrás de cigarros em furiosa impaciência enquanto a sua senhora está sentada em frente a um espelho  arranjando-se calmamente como se nada fosse,vemos isso em cartoons
banda desenhada, anedotas, etc, etc. Até no momento do parto vemos os pobres coitados roendo as unhas até ao cotovelo ou fumando o sempre eterno cigarro, enquanto a mulher (quase fazendo-o propositadamente!!!) pare calmamente um filho!
 Sempre vi essa imagem e durante muito tempo enraizou-se em mim que tal coisa acontecia mesmo.... até ter um homem que vai ao arrepio de tudo o que até aí tinha visto e ouvido.
Pela primeira vez vi uma mulher  (moi) esperando sempre pelo seu homem. Sou eu que quando vamos sair para fim de semana ou até para um simples passeio  me levanto mais cedo, sou eu que tomo banho primeiro, sou eu que me arranjo num ápice e sou eu que sempre mas sempre espera por ele. Quando digo espera é mesmo espera! Do género estar a escrever este post enquanto o homem se arranja. Não é que ele seja um metrossexual, um David Beckham que pelo que me consta está tempo infinitos a colocar cremes anti tudo e até vai ao pormenor de escolher  a dedo e com as cores certas a roupa interior (dixit Victoria Beckham),...não, não é nada disso!
O meu  homem é simplesmente lento no acordar, lento no arranjar o saco, ou a  mala, lento em tomar o pequeno almoço, lento em arranjar o necessaire, lento em sair de casa. Eu, mais expedita, já nada digo. Arranjo-me e fico a ler uma revista, um livro, a ver televisão ou a ir tomar o pequeno almoço quando estamos num hotel e quando volto ver ainda  o homem feito uma barata atarantada a rolar pelo quarto sem saber bem o que fazer, de tão estremunhado de sono.
O mito da sempre eterna espera das mulheres pelos homens foi deste modo estilhaçado na minha cabeça, nada restou e  pior, passei a generalizar a coisa.
 Para mim, são sempre as mulheres as que esperam pelos homens e não o contrário. Qual Penélope que passou anos esperando pelo seu Ulisses, eu não me ponho a tecer uma manta, fico é a pensar quantos mitos acerca de ambos os sexos ainda persistem, mitos completamente estapafúrdios e que nada têm a a ver  com a realidade, como por exemplo o mito de serem sempre os homens a comporem, a arranjarem tudo em casa, enquanto as mulheres ficam sentada a dizer: mais para a direita, mais para a esquerda...bolas este quadro não está nada centrado...e outros disparates do género!
A destruição deste embuste ficará para um outro post, em qua aí também irei dizer o que realmente acontece!

segunda-feira, agosto 25, 2014

Ideias Desperdiçadas

O que mais me irrita em Luc Bresson é ver o mesmo ter boas ideias como  roteirista e depois quando passa as mesma à realização o resultado ser  uma boa  m.......!
Aqui enquadra-se este seu novo filme o Lucy com a  Scarlett Johansson, que descobri ser muito  multifacetada  pois tão depressa está a fazer obras incríveis como o seu último filme denominado de  "Debaixo da Pele", como rapidamente passa a estar em estado catatónico como mulher que atinge os limites das suas capacidades mentais atingindo os 100% e passando a ser qualquer coisa que nem ela e muito menos nós como espectadores sabemos bem o que é isso.
Este Lucy é um flop na minha modesta opinião. Tal como outros filmes do realizador, a coisa até começa bem, as ideias são boas, a fotografia é do melhor que há, mas depois Luc Bresson achando que tem que vender o filme e até a ideia aos americanos (a série  'Nilkita' rendeu-lhe bom dinheiro, pois a ideia original é dele, assim como outros filmes) e sabendo como esses são chegados em tiros, correrias  de automóveis, muita ficção científica de pacotilha, embrulhada com algumas ideias intelectuais, e onde aparece sempre um professor universitário para dar substância a coisa, vai daí e toca a pôr a nossa heroína a  ser uma super mulher, a guiar feita uma maluca destruindo Paris inteira,(ah...já tínhamos visto isso nem Táxi, também do mesmo realizador!) a lançar bandidos ao ar, a transfigurar-se de loira a morena, misturando tudo isso com muitos tiros , mafias chinesas com gente  má como cascáveis, muito sangue e morte.
Saí do cinema  híper desiludida, pois para além de gostar deste realizador apesar dessas maluqueiras e vaipes que lhe dão constantemente, esperava muito mais da história  até porque lá estava o grande Morgan Freeman e a belíssima Scarlett Johansson.
 Contudo, reconheço que a culpa é minha por reincidir nos filmes de Bresson. Já devia estar precavida devido ao "5ª Elemento", outro filme de ficção científica que até tinha uma ideia boa, mas completamente estraçalhado pelas correrias e tiros a despropósito e pela "Joana D'Arc", outra desgraça, mas mesmo assim minimizada pela prestação dos actores Milla Jovovich e John Malkovich.
Sem me armar a intelectual, (que não sou nada dada a isso) aconselho a quem  quiser estar duas horas a apreciar o corpão da S. Johansson e ver  de passagem o  talentoso  Morgan Freeman  completamente perdido no meio desta desgraça a dirigir-se ao cinema mais próximo e pedir um bilhete para este Lucy pois não é por aí que vai o "gato às filhoses" e até acabará por ver fotos  lindíssimas do nosso planeta, mas quem quiser ver um bom filme...olhe vá ver o "Belém", "O Homem mais Procurado" ou o "Ilo Ilo".

sábado, agosto 16, 2014

O Homem Mais Procurado

Com realização do cineasta holandês Anton Corbijn conhecido pelos filmes 'O Americano' e 'Control '(sobre a vida do vocalista dos Joy Division,Ian Curtis) está desde a semana passada em cartaz o filme O Homem Mais Procurado.
Fui vê-lo ontem e gostei muito. Não é um filme para quem gosta de correrias, tiros, sangue, mulheres fatais,homens bonitos ...e tutti quanti. Tirado de uma das obras de John lé Carré que aparece também nos créditos se não me engano como um dos argumentistas, o filme é lento,t riste, pesado, doloroso, passado numa Hamburgo portuária, muito propícia a esse tipo de ação, Hamburgo essa que não é a dos cartazes turísticos, e com esse 'monstro sagrado (pelo menos para mim) que é  o já infelizmente  desaparecido Philip Seymour Hoffman , num dos seus últimos ou mesmo o último papel, onde já o vemos, muito pesado, muito triste, fumando e bebendo compulsivamente e com grande prazer, parecendo e talvez mesmo carregando o peso do mundo, e que leva magistralmente o filme às costas, coadjuvado por uma radiosa e sempre fantástica Nina Hoss ( adorei-a vê-la no filme Bárbara), William Dafoe (sempre muito seguro de si) Daniel Brühl  (adoro este actor desde que o vi em Adeus Lenine), Raquel Adams (linda e soberba actriz) e the last but no the least a grande Robin Wright, que aparece pouca vezes, mas quando o faz tem a segurança permanente de uma grande senhora do cinema, muito pouco aproveitada no meu ver.
O filme tem a precisão de um relógio suíço. Tudo se encaixa no seu devido lugar. É um puzzle intrincado, mas perfeitamente compreensível, e o  que ali vemos é um jogo de espiões que espiam outros espiões, onde nada é o  que aparenta ser, toda a gente mente a toda a gente, há enganos e traições, há gente graúda ( os barracudas, como alguém a páginas tantas diz) tentando lixar os mais pequenos tudo em  proveito próprio, e onde nesse jogo de enganos o personagem principal, um desgraçado  imigrante, meio-checheno, meio russo que aparece em Hamburgo reclamando uma herança do pai,  e sendo o tal homem muito procurado, acaba por ser o verdadeiro personagem digno da nossa compaixão.
De referir que o filme implicitamente ou não tão implicitamente assim abre as feridas deixadas pelo 11 de Setembro, acontecimento dramático este que veio abrir as portas ao total desrespeito pela liberdade dos cidadãos, tudo em nome da segurança e da luta antiterrorista, luta essa que muitas vezes nada mais é do que o espiar indiscriminadamente a vida alheia.
Está de parabéns o realizador, porque o  filme é mesmo muito bom, está de parabéns todos os actores  e durante o visionamento do filme não me cansava de pensar como de facto há actores que passam por este mundo como cometas fulgurantes e quando nos deixam prematuramente legam obras de grandeza   incomensurável, e neste caso enquadra-se  perfeitamente o malogrado ator  Philip Seymour Hoffman. Que actor fantástico que ele era!
Um filme a ver com atenção.

segunda-feira, agosto 11, 2014

Belém


Está em exibição um filme muito bom e tal como já o tinha dito em anterior post cinematográfico, muitos bons filmes estreados nesta silly season correm o risco de passar despercebidos não só pelo mês que é  mas também por ficarem submersos por estreias  de blockbusters, o que é pena, pois este Belém do realizador israelita Yuval Adler  é Magnífico, magnífico e terrível, pois o que ali vemos não só ajuda a compreender e muito o conflito israelo/palestiniano que dura há décadas, como nos dá  uma perspetiva de ambos os lados da barricada sem que o realizador penda para qualquer dos lados, o que é algo de muito difícil de ser feito dado o mesmo ser judeu e ter podido cair na tentação de ser faccioso. Refiro que esta é a primeira longa metragem de Yuval Adler que partindo da sua própria experiência pessoal como alguém que sempre viveu este conflito, fez uma pesquisa vastíssima, assim como ouviu vários testemunhos antes de realizar o filme. 
 Tal não acontece aqui, e o que vemos (já o mesmo se passava no também magnífico Omar do realizador árabe  Hany Abu-Assad  (candidato ao Oscar de melhor Filme estrangeiro) que já nos tinha dado o soberbo Paradise Now, é a duplicidade, o engano, a mentira, as lealdades algo trocadas, o patriotismo exacerbado , num conflito quase que incompreensível para nós, visto que aquelas pessoas que  vivem paredes meias umas com as outras mas, possuem contudo pontos de vista diametralmente opostos e  muito dificilmente algum dia viverão em paz e harmonia!
Este Belém mostra-nos a relação e amizade entre um judeu de seu nome Razi (Tsahi Halevi um operacional das secretas israelitas e Sanfur (Shadi Mar'i), cada um deles travando conflitos vários, que vão da descoberta de actividades terroristas por parte de Razi, e a denuncia dos seus, por parte de Sanfur, ambos procurando ser mais do que informador e informante, vivendo ambos no fio da navalha e em que as mortes, as traições, os conflitos de consciência e as lealdades várias pastam em terrenos totalmente minados pela desconfiança, a violência, o ódio quase irracional, e por fim a morte.
Um filme fantástico, muito duro, triste, pesado, muito bem realizado e com atores em completo estado de graça. Adorei a prestação de Shadi Mar'i, um soberbo jovem ator, uma presença marcante no êcran, com uns fantásticos olhos  tristes onde nele vemos todo o horror da guerra e por onde perpassa a desesperança total no ser humano.
O filme ganhou seis prémios da Academia do Cinema Israelita, incluindo os de melhor filme, realização e argumento (co-escrito por Adler e Ali Wakad). Foi ainda apresentado na selecção oficial do Festival Internacional de Cinema de Toronto e nos Dias de Veneza
 Uma obra Magnífica!

domingo, agosto 10, 2014

Cenas da Silly Season

Um casal amigo que tinha estado em Cabo Verde já me tinha falado nessa nova "moda", mas uma coisa é a pessoa ouvir falar nela e outra é depois senti-la e vê-la em ação. De quê que vos falo? Perguntam vocês já todos curiosos? Pois, meus amiguinhos/as falo-vos desta mania terrível que parece que pegou de estaca e se está a espalhar por todo o lado que é a da marcação de lugares em piscinas de hóteis e afins! O que é ainda pior é que a mesma não é  perpetrada por portugueses( pelo menos no aparthotel onde eu estive em Albufeira nem se viam portugueses) mas sim por: ingleses, alemães, polacos, holandeses, russos e demais estrangeiros que enxameiam as terras algarvias por esta altura, em busca de sol e que pelo que me foi dado a ver algo estupefacta em busca de um belo cancro de pele, tal era a quantidade de horas de exposição ao rei sol que essas pessoas de pele tão clara se sujeitavam durante horas infinitas!
Contudo, o que aqui vos quero falar não é de cancro de pele mas é do seguinte. Criou-se agora um hábito que é de pessoas (reitero na sua maioria estrangeiros), se levantarem muito cedo, não para tomarem o breakfast, e gozarem o nascer do sol que é sempre tão bonito e faz tão bem à alma, mas sim para irem diretos à piscina e arrastando um grande saco cheio de toalhas, marcarem lugar nas cadeiras que bordejam a dita cuja, chegando ao cúmulo (eu vi isso com os meus olhos castanhos) de marcarem 7/8 cadeiras de enfiada, não deixando algum lugar para as almas (eu incluída) que estão refasteladas na cama, se levantam calmamente e após a sua higiene degustam um bom pequeno almoço e só após isso se dirigem  calmamente para o merecido repouso numa cadeira de piscina.
Pois é! Querem estar deitados à beira da piscina? Pois tivessem feito como nós, que tiramos o nosso alvo rabo inglês/escandinavo/holandês/ russo etc, da cama e viemos aqui meio a dormir e meio acordados marcar as nossas cadeirinhas!
E o que resta ao indígena português e a alguns estrangeiros que se portam bem e que por acaso leram o cartaz enormíssimo que se encontra à entrada da dita piscina (em 3 línguas!!!!) proibindo tal prática? Ir para a praia mais próxima, porque esses que marcaram de madrugada o seu lugarinho à beira da água têm o desplante de nela permanecer durante todo o dia!!!indo almoçar e ficando lá as ditas toalhas a marcar o lugar e se for preciso, irem dormir a sesta para o quarto, ficando lá as toalhinhas a marcar o lugar, e se for preciso irem lanchar, ficando lá as toalhas a marcar o lugar, e só as mesmas não ficam de um dia para o outro, porque...o zelador do espaço as retira das cadeiras porque as mesmas têm de ser lavadas!
É só por isso, porque se não fosse por esse pequeníssimo pormenor os lugares eram marcados durante toda a estadia dessas pessoas que não têm a mínima decência, educação e procedem como se tudo aquilo fosse deles, não se dão ao trabalho de ler os avisos em várias línguas  proibido essas práticas monopolistas, e se houver alguém que farto disto tudo  retirar as ditas toalhas marcadas fica sujeito a levar na cara um belo de um murraço como já me foi contado por uma amiga minha que presenciou uma cena de pugilato entre um cidadão da rússia e um português que retirando a toalha para se deitar, foi sujeito a dois belos murros e um pontapé que o lançou para a piscina, tudo dado pelo cidadão russo que não se coibiu ainda de cuspir para dentro de água com o português assustando  tentando de lá sair.
Pois meus bons amigos, eu não vi cenas de pugilato, vi foi gente marcar lugares na piscina do aparthotel onde eu estive às 8.30 da manhã e só as retirar quando o espaço fechava, e teve um dia que eu, o  meu companheiro e demais amigos tivemos que rumar a outras paragens porque ali não havia lugar para nós às 10 horas da manhã!
Como podem ver tudo cenas muito edificantes neste lugar à beira mar plantado e num aparthotel de 4 estrelas onde eram suposto haver gente com alguma educação, mas pelos visto eu é que sou muito naif e ainda confundo dinheiro com alguma educação e decência que como é óbvio nada têm a ver umas coisas com as outras!
 O pior é que a epidemia já se espalhou e qualquer dia para se conseguir arranjar um lugarinho numa espreguiçadeira à beira de uma piscina o melhor  é mesmo começarmos a dormir à porta da dita cuja, pois assim temos a certeza que apanharemos lugar! Enfim....cenas da silly season!

quinta-feira, agosto 07, 2014

Aí ....Dona Inercia

Pelos vistos a Dona Inercia...perdeu tudo!
Só Rir!

domingo, julho 27, 2014

Na Praia

Antes de ir a banhos não resisto a colocar aqui duas telas  realizadas por   dois pintores que gosto muito. Um já abordei aqui em post anterior, falo-vos do pintor francês  Gustave Courbet e a  outra é do pintor americano, William Merrit Chase, que ganhou merecida  fama pelas belíssimas telas de mulheres, trajando quase sempre  garridos vestidos e cuja paleta cromática é qualquer coisa de outro mundo. Também as suas maravilhosas telas retratando cenas de interior são de uma beleza ímpar.
Na tela que aqui aparece,denominada de 'Na Praia', William Chase  pinta mais uma vez uma cena passada numa praia de Long Island, praia essa muito usada por si para realizar obras absolutamente fantásticas. Este pintor usava muitas vezes esta praia como cenário das suas cenas familiares, uma vez que deu aulas num centro aqui existente durante vários anos, sendo que muitas das aulas eram dadas ao ar livre.
A obra que aqui aparece, mostra uma típica praia em época da Primavera, quando ainda não está muito calor para se tomar banho, mas já suficientemente agradável para se estar sobre a areia a apreciar o mar. Assim o que aqui vemos são mulheres e crianças vestidas e com grandes e garridos chapéus a protege-las do sol forte. Sopra um ventinho forte que vai fazer com que as sombrinhas decoradas com motivos orientais e bastante garridos estejam completamente tombadas. As crianças divertem-se com a areia, enquanto as progenitoras de costas para nós vigiam-nas. O céu azul coberto parcialmente por nuvens brancas, não é impeditivo que o sol brilhe com toda a intensidade. O mais incrível nesta tela é a sensação de movimento que o artista dá às suas personagens e às sombrinhas que parecem voar com a força do vento. Por sua vez  à esquerda da tela vemos uma mulher vestida de branco que devido ao vento parece estar prestes a cair sobre a areia!
Uma tela linda que só um grande pintor consegue criar e dar-nos a sensação que de um momento para o outro aquelas mulheres recolherão os seus pertences e se encaminharão na nossa direcção!

A outra tela que aqui surge, de Gustave Courbet, intitulada de 'Praia da Normandia', foi realizada no seu atelier e nela o artista faz uma evocação do tempo em que esteve a viver por essas bandas, após ter fugido devido aos acontecimentos  da Comuna de Paris em que esteve envolvido.
Courbet, vai aliás transpor para a telas várias  da praias da  Normandia sendo esta uma de muitas. Representada com grande realismo vemos que alguns barcos dos pescadores se encontram parados sobre uma grande extensão de areia. O que domina a tela vai ser um grande penhasco escarpado, de tremenda força compositiva. O volume desse penhasco como que domina toda a tela e nele vemos aplicadas várias tonalidades de cores que vão do vermelho ao verde. É como um colosso plantado na praia, e a sua força é-nos dada como indestrutível. Perto dele os barcos são quase de uma fragilidade trágica e as figuras dos marisqueiros que aproveitam a maré baixa para pescar na zona de areia húmida são como que meros pontos na paisagem. A língua de água que vemos é de um azul lindo e toda a restante tela é dominada pela tonalidade azul acinzentada do céu, entrecortado por nuvens maravilhosamente pintadas. A bandeira francesa esvoaça num dos mastros da embarcação que se encontra atracada na areia e não podemos deixar de pensar que o realismo com o qual está representada é maravilhoso. Uma tela soberba realizada por um pintor único.

quinta-feira, julho 24, 2014

Snowpiercer- O Expresso do Amanhã

Estreou hoje este Snowpiercer- O Expresso do Amanhã, um filme do realizador coreano  Bong Joon-ho ( realizador dos filmes("The Host - A Criatura", (gostei muito deste filme quando passou por cá há 8 anos) "Memories of Murder", "Mother - Uma Força Única") e com os actores, Chris Evans, Tilda Swinton, irreconhecível e cada vez mais camaliónica (adoro esta actriz!), Jamie Bell, John Hurt(sempre muito bem), Octavis Spencer (uma surpresa para mim, vê-la nessas andanças)Alison Pitt, Ewen Bremner, Song Kangho, Ko Asung e o grande Ed Harris, que faz sempre bem o papel de criatura maléfica.
O filme vem com boas referências, tem sido muito bem recebido nos circuitos cinematográficos e é uma distopia apocalíptica muito bem realizada.
Eu gosto deste tipo de filmes, gosto destes actores, e por isso foi com agrado que vi o filme.
É um filme violento, tem cenas arrepiantes, não é nada previsível, muito pelo contrário, há cenas absolutamente surpreendentes, o negro dos que vivem na cauda da locomotiva, contrasta em absoluto com as cores garridas e extremamente alegres dos afortunados  que vivem na frente da locomotiva, há planos de filmagem incrivelmente ousados, a história está muito bem urdida, tendo sido adaptada  da novela gráfica francesa "Le Transperceneige", criada no início dos anos 1980 por Jacques Lob e Jean-Marc Rochette.
No fundo este comboio de seu nome Snowpiecer  e que dá título ao filme, comboio esse  que gira à volta da terra sem nunca parar, levando nele o que resta da humanidade após alguns seres humanos se terem armado em deuses e com isso terem dado cabo do planeta terra, fazendo-a mergulhar  numa nova era glaciar e comandada pelo grande e 'divino' Wilford,  nada mais é do que um microcosmos representando tudo o que há de bom e sobretudo o que há de mau na espécie humana: a ganância, a maldade pura, a inveja, o ódio,  a miséria, a mais abjecta e pura tirania e o  supremo desprezo pelos mais básico princípios que fazem do ser humano um  ser racional. E como sempre acontece nestes casos em que o ser humano se vê confinado durante anos num espaço reduzido, quando explode a violência ela leva tudo à frente e aqui....literalmente....
 O filme inclusivé já foi premiado em vários festivais internacionais e penso que muito bem premiado, pois é um objecto cinematográfico muito inovador.
Pena que talvez seja passado quase incógnito, nesta época balnear em que as pessoas passam mais tempo na praia e em esplanadas do que no escurinho de uma sala de cinema. É mesmo pena, porque o filme é muito bom!

terça-feira, julho 22, 2014

P.Gouguin-Cavaleiros na Praia

Cavaleiros na Praia
Já escrevi aqui  algumas vezes sobre Paul Gauguin um pintor que  aprecio bastante.
Gauguin ganhou fama mundial com as suas telas de mulheres da polinésia francesa, mas a par disse pintou por esta altura,outras obras muito interessantes e que eu amo de coração, como é o caso da tela que aqui aparece, denominada de Cavaleiros na Praia.
A minha apreciação desta tela vai para a paleta de cores usadas pelo este pintor e aquela areia cor de rosa faz as delícias de qualquer amante da arte deste pintor.
Auto Retrato com Cristo Amarelo
Paul Gauguin fugiu para os mares do Sul à procura de um estilo de vida primitivo em que a sua arte pudesse florescer. Apesar de lhe desagradar a sociedade colonial fechada que lá encontrou, não deixou de pintar os polinésios como se fossem seres sobrenaturais que gozassem de uma liberdade total. 
O que mais aprecio neste  pintor é que ele vai então imprimir em nós a sua versão da natureza, criando formas estilizadas e bidimensionais, usando para isso cores intensas e exóticas com aquilo que poderia parecer um abandono despreocupado, mas que são cuidadosamente calculadas para produzirem o maior efeito para quem olha para a tela.
Na obra aqui presente isso acontece, pois Gauguin pinta a areia cor de rosa, não porque, sentimo-lo ele tenha "visto" nela qualquer tom rosado, mas porque só a areia rosada podia exprimir os seus sentimentos.
O amarelo que é quase sempre ou mesmo sempre usado, teria para este pintor sido demasiando intruso e real. De facto o que aqui se passa é que não se trata de  uma cena lógica mas sim mágica, e a paz e a alegria são meramente simbólicas, não literais.
É uma tela de uma fase idílica da vida, com gente delicada com cavalos de finas patas, de gente que os domina sem esforço, onde tudo é pura liberdade, onde existe uma paisagem marítima intoxicante, de céu amplo e maravilhosamente enevoado, em que homens e mulheres convivem na mais perfeita harmonia..
Uma tela magnifica, pintada por um grande pintor em estado de graça.



domingo, julho 20, 2014

Estranhos Prazeres

MAS QUE PANCA É ESTA DAS CRIANÇAS COM AS POÇAS DE ÁGUA?
É QUE NÃO HÁ UMA QUE NÃO ADORE COLOCAR LÁ OS PÉS TODA SATISFEITA!
ACHO MESMO QUE ESSE É UM DOS MAIORES PRAZERES DOS PEQUENITOS, SENÃO VEJAMOS....

quinta-feira, julho 17, 2014

Uma ida ao Porto




Eu já conhecia  a cidade do Porto uma vez que  lá vivi 2 anos quando era uma 'teenager inconsciente' como dizia o Herman José.
Penso que  é  uma cidade que  temos de aprender a amar/gostar/ apreciar...
Na altura era muito nova e apesar de apreciar lá viver, não gostava dos  invernos que são muito rigorosos. Sofria muito com o frio e isso deitava-me muito abaixo. Estava sempre com frieiras, tinha as mãos e os pés constantemente gelados, não havia casaco que me aquecesse, e pela primeira vez na minha vida tive um  'kispo'  branco tão grosso, mas tão grosso que se eu não fosse uma magrizela, passava perfeitamente por um urso polar. Só ele me aquecia o corpo e penso que também a alma. Quando chovia ficava sempre tudo tão húmido, que não apetecia sair da cama e a minha vontade era hibernar até o despontar a primavera. Fiz lá o nono ano e lembro das minhas coleguinhas rirem-se muito com as minhas expressões lisboetas e o modo como eu colocava as palavras. Eu muitas vezes não as entendia, mas entre falas mais ou menos serradas acabávamos sempre  por nos ri de nós próprias.
 Adorava era ir ao mercado do Bulhão, isso é que era uma festa, aquelas senhoras sempre a incentivarem-nos às compras, os gritos, o barulho e sobretudo aquele espaço tão colorido e cheio de vida. Gostava muito da comida, das broas, dos múltiplos pratos de bacalhau, dos famosos  'bolinhos de bacalhau' entre coisas mil .
Havia um restaurante que eu amava ir que era e é o Abadia. Meu Deus, como se como lá bem! Aquilo não é um restaurante, é um templo de boa gastronomia. Pena desta vez não ter tido tempo de lá ir.
Andar  pela Foz era maravilhoso e passear pelos arredores do Porto uma maravilha. Depois vim para Lisboa e por cá quedei-me. De vez em quando retorno a  esta cidade, e procuro ir sempre, mas sempre de comboio, porque adoro. Chegar à estação de Campanhã dá-me cá uma nostalgia dos tempos idos.
No domingo passado voltei a esta linda cidade. Fui com uma amiga que ia com a filha, visto esta querer ir ao concerto dos One Direction. A cidade fervilhava de vida tanto de gente vinda de todos os cantos do país como também do estrangeiro. Estava um tempo esplendoroso, e só atravessar a ponte que liga Vila Nova de Gaia ao Porto é toda uma  experiência única. Adoramos logo o Porto. Uma vista espectacular.
Chegadas à cidade, nada melhor que andar a pé ou visitar a cidade naqueles autocarros de dois andares. Comparamos o bilhete que faz a linha vermelha e a linha azul em dois dias  visitamos a cidade e ficamos a conhecer alguns dos belos cantos e recantos desta cidade única..
 Não há melhor. Tudo correu bem. Comemos coisas boas, visitamos coisas lindas, vimos gente bonita, o rio Douro da cor da prata, lindo de morrer... aquela Ribeira sempre a 'bombar' de gente de todos os cantos do mundo, as pastelarias cheias, o  café Magestic um polo de atracção turística, sempre com gente a fotografá-lo, a Rua de Santa Catarina um must e no fim quando nos apanhamos outra vez dentro do comboio de regresso à capital era toda uma saudade da minha parte. No bilhete de autocarro estava incluído umas degustações de vinho do Porto nas caves do dito que há em Gaia, mas já não tivemos tempo, porque querendo ver tudo alguma coisa fica para trás com grande pena minha...fica para a próxima!
Adoro o Porto e não me cansarei de lá voltar. É uma cidade linda a ver e a descobrir todos os encantos que ela tem.
Que cidade tão acolhedora!






sábado, julho 12, 2014

Uma Odisseia sem Gás

Estando agora refeita do que me aconteceu aquando de uma pequena fuga de gás que tive na minha casa, mais  concretamente na cozinha, não resisto a colocar aqui as agruras pelo que passei não para me virem cortar o gás, isso o piquete da Lisboa gás fez num instante, mas sim para me religarem
 o dito cujo.Isso sim, foi uma odisseia qua me leva a dizer que caso vos aconteça algo de semelhante, o melhor é mesmo mandarem arranjar a uma empresa particular e nunca meterem a Lisboa Gás ou outro fornecedor vosso ao barulho, porque senão têm a semana estragada e quando digo a semana é mesmo a semana, porque foi isso que me acontece.
 Estive 8 dias sem gás porque não havia quem se entendesse sobre qual das entidades deveria fazer a religação! Sim, é isso mesmo fui passada de "pôncios para pilatos" sem que alguém assumisse as suas responsabilidades sobre a dita religação.
 
Mas comecemos pelo princípio.
No princípio e ao contrário do que diz a Bíblia, não era o verbo, mas sim um cheiro a gás que se espalhava de cada vez que eu abria um armário que se situa por debaixo do meu fogão. Isso aconteceu no dia 25 de Junho da graça do Senhor.
Algo assustada fiz uma coisa que nunca mais farei, devido ao que aconteceu posteriormente. Chamei o piquete do gás da Lisboa Gás minha fornecedora. Telefonei para o número 800201722 e depois de uma longa espera, lá veio uma operadora que me passou para um outro número que não me recordo agora, pois inúmeros foram os números de telefone que liguei depois disso.
 
Certo é que depois de dizer ao que vinha a operadora disse que dentro de uma hora o piquete cá estaria na minha casa para desligar o gás. Deu-me os conselhos básicos que era de abrir janelas, etc e esperei uma hora e qualquer coisa até que o piquete viesse.O piquete, limitou-se a constatar a fuga, a desligar o gás no contador e na escada (aqui colocou um selo onde dizia que só a Lisboa Gás poderia fazer a religação), deixou-me um documento com o relatório do que aqui fez, disse-me para mandar arranjar a avaria e que depois ligasse para a Lisboa gás para a mesma tornar-me a ligar o gás.
Telefonei logo para uma empresa certificada que não podendo vir nessa 4ªa feira, agendou a intervenção para o dia 26 uma quinta feira. De facto na 5ª feira logo de manhã o técnico reparou-me a fuga de gás, colocando nova canalização e às 11.30 tinha tudo pronto.
 
A partir desse momento começou a minha odisseia de religação do gás.
 
Comecei por telefonar para o mesmo número da lisboa Gás 800201722 para me virem ligar gás e qual não foi o meu espanto quando me dizem que aquele número não era para isso e para eu ligar para outro número. No espaço de 3 horas liguei para o variadíssimos números e sempre com a mesma resposta. Não era de sua competência ligarem-me o gás e que ligasse para outro numero que me iam dando sucessivamente.
Quando não me davam número, era porque passavam para outro departamento ficando eu à espera tempo infinitos. O que sei dizer é que eram 15 horas da tarde e não tinha ainda nada de concreto pois todos os operadores me encaminhavam para outro departamento.
Acrescento que muitos operadores estão muito mal informados e dentro do mesmo serviço somos capazes de receber três ou mais respostas completamente diferentes umas das outras!
Só por volta das 15 horas é que uma operadora da Lisboa Gás (talvez a mais informadita) me disse que eu deveria telefonar para a EDP, para o número 808535353, reportar o que me tinha acontecido, dizer para a EDP realizar um pedido para a Lisboa Gás vir-me fazer a religação, ou seja era a EDP que tinha que entrar em contacto com a Lisboa gás e só assim a Lisboa gás tinha poder para vir à minha casa fazer-me a religação.
 
Essa informação deixou-me absolutamente atónita, pois nunca pensaria que a EDP pudesse ter alguma coisa a ver com a religação do gás da minha casa, posto que quem tinha desligado o mesmo era a Lisboa gás e deveria ser ela a tornar-me a ligar o respetivo gás.
Contudo, assim fiz, apesar de não ter sido fácil, pois também aqui andei de número para número sempre a dizerem-me que a  EDP não tinha nada a ver com a religação do gás da minha casa, pois isso era competência da Lisboa gás.
Após muita insistência da minha parte lá consegui uma operadora que disse-me que de facto era a EDP que tinha que pedir a religação e fez esse pedido à Lisboa gás, dizendo-me que aguardasse ao telefone enquanto ela fazia o pedido.
Aproveitei no fim, para pedir à operadora para realizar uma queixa da minha parte a todo esse disparate pelo qual eu estava a passar o que ela fez. Passados uns minutos recebi no meu telemóvel, uma msg a dizer que a minha queixa tinha sido registada, ou seja a queixa andou para a frente, a religação do meu gás não atava nem desatava!
Na passada 6 feira, dia 27, fiquei toda a manhã a aguardar que alguém aparecesse e como continuava sem gás na minha casa e sem que me tivessem dito nada, tornei a pegar no telefone e ligar a saber se a Lisboa Gás já tinha recebido por parte da EDP o pedido de religação do gás. Recebi como resposta que a Lisboa gás ainda não tinha recebido nada da EDP. Telefonei para esta e disseram-me que já tinham encaminhado o pedido para a Lisboa gás e estranhavam que a Lisboa gás ainda não tivesse recebido nada!
 
Como entrou o fim de semana, lá fiquei sem gás e como não trabalhavam nesses dias tive que me aguentar sem ter o serviço, pelo qual nunca estive em dívida!
No dia 30 segunda feira tornei a fazer diligências entre as duas empresas  e fui sempre recebendo como resposta que aguardasse. A Lisboa Gás ás ia dizendo que nada tinha recebido da EDP e a EDP dizendo que já tinha enviado o pedido.
Pelo meio fui encontrando operadores que iam dizendo as maiores incongruências, pois ora um dizia uma coisa, ora outro dizia outra, sem que houvesse qualquer coordenação entre os mesmos, coisa que me faz pensar que existe dentro dessas empresas operadores sem a mínima preparação para lidar com o público em geral.
No dia  1 de Julho, desesperada e depois de telefonar para ambas as empresas em vão, pois as resposta variam entre “nós já mandamos o pedido de religação e não podemos fazer mais nada…” e “ainda não recebemos qualquer pedido e por isso não podemos fazer a religação do gás…” resolvi ir à sede da EDP na no Marquês de Pombal e resolver ali a questão de uma vez por todas, pois no meu ver  alguém das chefias deveria tomar conta desta ocorrência  que já raiava à insanidade!
Quando chegou a minha vez de ser atendida e expondo toda a questão a primeira coisa que a funcionária disse foi que era com a Lisboa gás e não com a EDP!
Fartíssima  de respostas dessas, eu resolvi ligar para a Lisboa gás mesmo ali (por telemóvel) e passar a chamada à funcionária para ela ouvir de viva voz a resposta da sua colega da lisboa gás.
Assim fiz, e vi a surpresa da funcionária  da EDP quando ouviu a reposta da sua colega da Lisboa gás e mais surpresa ficou quando após várias chamadas para a Lisboa gás e para os seus próprios colegas da EDP, foi paulatinamente entrando no mundo kafkiano em que eu tenho vivido nesses últimos dias!
O que é certo é que entrei ali às 11 horas e já era uma hora da tarde e a mesma ainda não tinha conseguido nada, sendo então obrigada a passar o caso para a chefia que resolveu tomar o caso nas suas mãos, pedindo para eu aguardar, o que fiz durante larguíssimos minutos.
No fim, já perto das 14.30, a funcionária superior apareceu para me dizer que (depois de muito pedir!!!!) finalmente tinha conseguido que a Lisboa gás me fosse ligar o gás, mas que aguardava confirmação dos mesmos.
Mandou-me regressar a casa, ficando com o meu telemóvel, para me ligar dando-me depois as horas em que me fossem ainda hoje  ligar o gás.
Sai da EDP por volta das 14.40, e eram 15.20 a mesma funcionária superior, telefonou-me a dizer que entre as 16.00 e as 18.00 horas um técnico da EDP ia fazer a inspeção pelo qual eu tinha de pagar 60.00 euros (já tinha pago 133.00 pelo arranjo da fuga de gas!!!) e nesse  mesmo dia de hoje um técnico da Lisboa gás vinha então à minha casa  fazer a religação, pois era isso que tinha ficado combinado na troca de emails entre a EDP e a Lisboa gás.
 
Por volta das 16 horas lá apareceu um inspector  (mandado pela EDP) para fazer a inspeção, técnico esse que depois de fazer a dita inspecção quedou-se três quartos de hora!!! sem nada fazer pois  pois não podia concluir a inspecção sem que o técnico da Lisboa gás aparecesse para se fazer   a religação.
Para grande espanto meu o técnico da Lisboa Gáz não apareceu quando tudo tinha ficado combinado entre a EDP e a Lisboa Gás.
O inspector foi-se embora, eu telefonei para a EDP dizendo que continuava sem gás porque aprsar da inspecção estar feita, quem me deveria ligar o gás não apareceu, da EDP ficaram muito surpresas, depois telefonei para a Lisboa Gás e para grande espanto meu fui informada que não tinha entrado nos serviços qualquer indicação por parte da EDP para religação do gás!
 
Como podem ver, eu estava imersa no maravilhoso mundo de gente completamente doida!
 
Bom, no dia 2 de Julho sigo outra vez para a EDP, há uma repetição do dia anterior, mais emails trocados entre as chefias e a Lisboa Gás, a promessa que me iam ligar nesse dia o gás, coisa que não veio a acontecer, mais telefonemas meus para ambas as entidades e ao fim do dia tenho a promessa que no dia  a 3 de Julho entre as 9 e as 10h, ia ser feita a religação do gás uma vez que tinha já chegado à  Lisboa Gás o pedido de religação.

No dia 3 de Julho, logo de manhã aparece novamente um inspector da EDP, e só mais tarde o técnico da Lisboa Gás para fazer a religação, coisa que foi feita em escassos minutos!!!
Após tudo isso não pude deixar de me interrogar completamente estupefacta como pode existir no nosso mercado  empresas tão irresponsáveis.São empresas que prestando um serviço público e que são pagas a peso de ouro pelos seus clientes!
 
As questões que aqui deixam são as seguintes:
Como é que cortam o gás a uma pessoa e depois levem uma semana par ao ligar, passando a responsabilidade de empresa para empresa?
Porquê a EDP ser tida e achada num processo que só deveria ser apenas e só da competência da Lisboa gás?
Afinal foi um piquete da Lisboa gás que me fechou o gás! Não deveria ser outro piquete a ligar esse mesmo gás?
Porquê tanta desumanidade para com os clientes que são o sustento dessas empresas?
 
Disseram-me, em telefonema que fiz logo na 5ªfeira para a Lisboa gás que tudo se ficava a dever ao facto da EDP ser minha comercializadora e por isso tudo passar pela EDP.
 
Mas isso não é ridículo?
 Como é que duas empresas podem lutar assim pela concorrência e deixar os clientes em “maus lençois”?
 
O que me leva a supor é que há algum litígio entre a EDP e a Lisboa gás devido ao facto de uma ser a fornecedora e outra a compradora. Uma compra o gás à outra e vende ao clientes a bons preços. A que vende sente-se prejudicada e quem paga são os consumidores que nada têm a ver com o "pato".
 
Devido a tudo isso caso num futuro muito longuínquo (espero eu) tiver algum problema em termos de fuga de gás, não chamarei nunca a Lisboa gás, mas chamarei, isso sim uma empresa que opere no mercado e que sei que chegada à minha casa tudo resolverá o problema sem que eu passe pelas agruras que passei devido à desumanidade de duas empresas em guerra aberta e que se estão puramente a marimbarem-se para os clientes que são seu sustento!