terça-feira, fevereiro 27, 2018

Eu Tonya Harding...me confesso...

Eu há muito tempo que cheguei à conclusão que a realidade ultrapassa em muito qualquer bizarria que possamos ver no cinema e é naquela que esta vai buscar tudo o que precisa para nos surpreender.
Nessa categoria está este filme do realizador  Graig Gillespie, Eu Tonya, com uma absolutamente fantástica Margot Robbie como Tonya e Allison Janney como mãe  ambas em  papeis incríveis que nos deixam pregados à cadeira do princípio ao fim.
Adorei o este filme que retrata a história verídica de Tonya Harding uma exímia patinadora, treinada desde cedo por Diane Rawlinson que acaba por fazer dela uma brilhante patinadora no gelo. 
Contudo, Tonya sempre sofreu maus tratos em casa. Primeiramente pela mãe, um ser vindo diretamente dos infernos e que Allison Janney dá corpo de uma forma absolutamente única e que irá fazer dela vencedora do Óscar de Melhor Atriz Secundária com toda a justiça e posteriormente pelo marido Jeff Gillooly, papel muito bem desempenhado pelo ator Sebastian Stan.
A um mês das Olimpíadas de Inverno de 1994 na Noruega, Tonya vê-se envolvida num escândalo de proporções inimagináveis e com contornos absolutamente rocambolescos, quando a sua compatriota e rival Nancy Kerrigan é vitima de um "incidente" quando alguém lhe tenta partir os joelhos. Vai ser esse incidente que fez manchetes em todos os jornais mundiais que irão marcar para sempre o fim da  carreira de Tonya como patinadora no gelo, posto que a organização de patinagem artística dos Estados Unidos (que conclui que a mesma tinha conhecimento do ataque e foi conivente com o mesmo) a vai banir dos ringues de patinagem forever. 
 O filme é todo ele feito em jeito de um falso documentário, e é muito interessante vermos os personagens interagirem connosco ora negando que uma determinada situação se tenha passado daquele modo que estamos a ver, ou tentando eles próprios explicar as motivações dos seus mais insanos atos. Dos personagens mais cómicos e surpreendentemente bizarros que aqui aparecem neste Eu Tonya, está o de Paul Walter Hauser no papel de Shawn Eckhardt, um individuo completamente alucinado que se auto intitulava guarda costas de Tonya Harding e que em principio foi o "cérebro" (cérebro é um mero eufemismo) por detrás do "incidente". Esse ser que é absolutamente bronco e totalmente risível, dizia ser especialista em contra espionagem, detetive, conselheiro de governos, etc..etc...um alucinado que é a cereja encima de um bolo cheio de gente que parece vinda de um qualquer cartoon ou saídos todos de um manicómio. Ver este filme é entrar nas grandezas e misérias de uma América que tão depressa endeusa os seus heróis como os destrói num abrir e fechar de olhos, como é o caso em apreço. 
No fim do filme vemos a verdadeira Tonya Harding numa das suas muitas perfeitas actuações e é claro, a fazer o seu triplo axel a pirueta nunca antes feita por qualquer patinadora e que a catapultou para a fama,  que a mesma não soube aproveitar fruto de uma série interminável de más escolhas e da vivência num ambiente totalmente disfuncional.
 De facto, é triste vermos um talento tão grande ter sido assim despedaçado por questões do coração como era a relação dela com o marido que no fundo será a par dela própria o maior responsável pela sua irremediável queda. Um filme a vermos e a reflectirmos sobre os meandros da violência doméstica, os modos como ela se perpetua em contexto doméstico quase ad eternum e como a fama pode ser efémera pelas escolhas desastrosas que fazemos.

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