segunda-feira, outubro 28, 2013

Capitão Philips

Ontem fui ver a última obra do realizador Paul Greengrass, este novíssimo "Capitão Philips" com um soberbo Tom Hanks no papel  principal coadjuvado com uns brilhantes actores novatos somalis que recrutados nas ruas de Nova Iorque recriam de uma forma fantástica o que aconteceu em 2009, quando o navio cargueiro  Maersk Alabama é tomado por 4  piratas  oriundos da Somália obrigando à intervenção de meios navais e aéreos para resgatarem Eric Philips das mãos desses 4 homens.
Quem vai ver os filmes deste realizador, (Ultimato, Sopremacia Bourne, Voo 93, entre outros) já sabe que vai ter muita acção, mas uma acção com pés e cabeça que é o que acontece aqui.
De facto e independentemente das polémicas que têm girado em torno deste Capitão Philips,( rola em tribunais americanos uma queixa contra Eric Philips, pelo facto do mesmo se ter abeirado demais das costas da Somália pondo em perigo o navio e a respectiva tripulação), penso que o realizador não 'toma as dores' de nenhuma das partes.
 Por todo o filme perpassa a ideia que todos têm as suas razões e se nos choca o modo como o navio é tomado e a postura desses piratas, tanto na perseguição tenaz que fazem  ao navio, assim como na sua tomada, não deixa de ser verdade que as condições de vida na Somália entregue a senhores da guerra extremamente violentos e  que não hesitam em atirar jovens rapazes para barcos potentes em busca de navios para assaltar e roubar, nos levam a  reflectir  e passar a ter uma visão bem mais ampla do que nos é dada quando no recesso do nosso lar vemos ou lemos com algum choque  que hoje em dia a pirataria grassa em certos mares e os cuidados que agora é preciso ter para que em algumas rotas marítimas os navios chegam sãos e salvos ao seu destino.
Apercebemo-nos também que a predação que existe no que se refere às pescas, feita por grandes navios pesqueiros depaupera que tal modo certas águas do corno de África que em  muitas dessas populações nada mais resta do que o saque. Esse saque é feito então a grandes navios que cheios de contentores que nos trazem tudo aquilo que necessitamos, nada mais são que uma grande possibilidade que poderá render a esses povos algum dinheiro, seja pelo roubo aos mesmos, seja pelo resgate dos seus tripulantes, como aqui acontece ao Capitão Eric Philips. 
Ora, o que  Paul Greengrass faz é precisamente mostrar ambos os pontos de vista em não é sem razão que logo no início do filme é-nos mostrado em  paralelo a partida do Maersk Alabama para fora do porto de Abu Dabhi com a partida dos piratas para o mar.
 São duas visões diferentes de uma realidade que se vão chocar em pleno mar. Quando ambos os homens se vêm através dos binóculos um tentando salvar o seu navio e fazendo tudo para se pôr em fuga e o outro arriscando a vida para saltar para dentro desse mesmo navio, o que ali está é um choque civilizacional em que a sensibilidade do realizador vai ao ponto de nesse momento não sentirmos qualquer aversão a esses piratas, mas somente pena por seres humanos tão jovens ( a média de idades desses piratas rondava os 18 anos!!!) arriscarem a sua vida por algo tão pouco, visto que o navio levava muito pouco dinheiro.
 São os efeitos de uma globalização, posto que esses povos com grandes carências a todos os níveis vêm passar continuamente nos seus mares grandes navios, carregados com tudo aquilo que eles nunca poderão ter e onde a cobiça se mistura com a extrema necessidade, criando o inevitável caos.
É pois nesse complexo xadrez, que vemos um magnífico Tom Hanks,  em confronto com o excelente Barkhad Abdi no papel de Muse o chefe dos piratas, que às páginas tantas se vêm atirados para algo que os ultrapassa num turbilhão de ideias e culturas diferentes que só poderia acabar em tragédia.
Não deixo de notar aqui que para mim os melhores diálogos são entre Eric Philips e Muse, principalmente dentro do pequeno navio salva vidas em que os piratas fogem com aquele último e que às tantas e em resposta ao desafio que Eric Philips faz a Muse para se render, deixar a pirataria e procurar uma vida melhor este responde de uma forma fatalista: Maybe America, Maybe America...
 Os 15 minutos do filme são  soberbos e penso que garantirão a Tom Hanks o Óscar de Melhor Actor.
Estão de parabéns o realizador, e todos os actores envolvidos nesta história verídica que deveria ser vista por muitos dos nossos jovens que agarrados a bens de consumo adquiridos por meia dúzia de euros, nem se dão conta de como outros jovens do outro lado do mundo vivem sonhando com uma  Europa  e uma América que tal como Muse apenas a verão por 33 anos dentro dos pátio de uma prisão. Um filme para  ver e  reflectir.



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