domingo, maio 30, 2010

Era uma Vez....

Era uma vez, uma princesa que nasceu num belo dia de primavera.Nasceu muito pequenina, e mais tarde tornou-se de estatura mediana, com bonitos olhos castanhos, lindas mãos e pés bonitos.Em tudo o resto ela era mediana, até na inteligência. Quando tinha um ano e dormia no seu berço surgiu-lhe a fada madrinha.Entrou pela janela, carregando um grande saco Cucci, onde trazia nele os três últimos dons que iria dar de presente à sua afilhada.Vinha embriagada, e mal se tinha em pé.A noite tinha sido terrível e depois de cada distribuição de dons às suas afilhadas a fada madrinha sentia sempre a necessidade de fazer um intervalo e tomar alguns shots de tequila, os seus preferidos. De facto,não é fácil distribuir dons, posto que a cada dom que ela distribuía, as suas afilhadas recusam-nos abrindo as suas pequeninas mas sonoras bocas de bebé e berrando desalmadamente, sinal de que recusavam os ditos e que não faziam a menor intenção de os possuir.Por isso a fada madrinha tinha que os meter novamente no saco e retirar o que fosse de maior agrado, e se multiplicarmos isso por uma série de princesas petulantes e de nariz arrebitado, a noite só podia ser aguentada a tratos de vodka e outras bebida fortes. A fada madrinha, não era das antigas, era uma mulher democrática e amiga de fazer vontades, apesar disso só lhe trazer dissabores, como era agora o caso, em que abrindo o seu belo saco apenas restavam os três dons que nenhuma das outras suas afilhadas tinha querido.Olhou para esta princesa que tinha ficado para o final da noite e que dormia placidamente e com um grande suspiro preparou a cerimónia de distribuição dos mesmos. Retirou então os últimos dons e distribui-os pelos corpo da criança adormecida: seria então dotada de uma paciência infinita, iria amar apenas um homem para o resto da sua vida e teria a capacidade de ouvir os outros, sem que contudo estes tivessem paciência e amabilidade de a ouvir.Após a distribuição destes três desprezados dons, a fada madrinha arrotou sonoramente, levantou-se a custo, ajeitou o seu vestido, colocou a sua bela mala às costas e de mansinho desapareceu no ar.A princesa mediana foi crescendo e armada com o dom da paciência, foi aguentando a sua vida e dos demais que a rodeavam, tendo sempre que ouvir, as mais incríveis inconfidências, e as mais soberbas idiotices dos que a rodeavam, até que chegando à idade de casar, e posto que a pressionavam para dar o grande passo, preferiu arranjar um emprego, porque tudo era melhor que viver rodeada por uma corte de gente insana. Assim, um belo dia e sem que dessem por ela, saiu de mansinho do palácio e armada com o curso universitário que possuía, foi andando de emprego em emprego, uma vez que a vida estava difícil e os contratos a prazo na ordem do dia. A entidade empregadora, não fazia contratos definitivos e assim a princesa conheceu imensa gente, lidou com muitos caracteres, viu e falou com alguma gente inteligente, mas também lidou e tratou com muita gente estúpida, mas como tinha o dom da paciência nunca se queixou, até porque isso lhe estava vedado pelo terceiro dom.Num belo dia de Outono a princesa apaixonou-se repentina e , insanamente.Como? Tinha arranjado um novo emprego, pois no outro tinha cessado o seu contrato e nesse local de novos conhecimentos e novos ouvintes estava aquele que seria para sempre o seu único e eterno amor. O que ela não sabia é que ele era um príncipe e que também lhe tinha sido dado três dons: o dom do egoísmo, da extrema avareza e o dom de nunca amar ninguém a não ser a si mesmo.Assim travando conhecimento com tão insana criatura, a princesa ia ficando cada dia mais apaixonada e pacientemente ouvindo-o foi-se apercebendo de que também ele era um príncipe e ao fim de algum tempo já estava na posse desses três dons, visto que lidando com a criatura qualquer mediana inteligência, via logo o seu egoísmo, avareza e incapacidade de gostar de alguém a não ser dele próprio.Mas como um dom é um dom e não podendo modificar essas suas circunstâncias, não teve outro remédio senão ligar-se mentalmente e fisicamente a esse monstro idiossincrático. O príncipe sentiu-se lisonjeado de ser amado pela princesa, pois no seu infinito egoísmo isso envaidecia-o, visto que muitas vezes o egoísmo anda de mãos dadas com a vaidade e nesse caso não só andavam de mão dada como nunca essas mãos se desprendiam.A sua avareza incomodava a princesa, visto que ela era umas mãos largas, mas a sua lendária paciência fazia com que ela perdoasse esse terrível defeito, pagando as contas do príncipe e fechando os olhos às mais extraordinárias safadezas que o mesmo fazia, fruto dessa sua avareza , egoísmo, entre outros defeitos que nem valia a pena a princesa contabilizar, pois só se iria desgastar e perder o seu rico tempinho. Claro que o que mais lhe doía era ter-se apaixonado por alguém que era incapaz de amar alguém e isso era algo que nem a o ser mais paciente e tolerante poderia suportar.Então a princesa resolveu tomar medidas algo drásticas. Um dia desesperada com a situação, chamou a sua fada madrinha.Como todas sabemos as fadas madrinhas são pessoas ocupadas e não aprecem assim, de um dia para o outro.A princesa esperou e desesperou, mas um dia a fada apareceu! Já não vinha embriagada, porque nos dias que correm as suas afilhadas são bem mais dóceis e aceitam qualquer dom sem grande berreiro, posto que o que interessa é ter algo que as distingia dos demais mortais. Assim, a fada apareceu sempre agarrada ao seu belo saco Cucci e perguntou à sua desconsolada e algo traumatizada afilhada o que queria ela. A mesma pacientemente explicou toda a sua desesperada situação. A fada madrinha, que sempre se tinha condoído dos dons que tinha dado a esta afilhada resolveu intervir e prometeu-lhe resolver a situação, e tal como tinha aparecido, desapareceu.Passaram-se os meses e a princesa não via que as coisas estivessem melhor, muito pelo contrário, o seu principe além dos defeitos assinalados à sua nascença e dos demais adquiridos no convivío com seres tão ou mais desprezíveis que o mesmo estava cada dia estava mais velho, orgulhoso, preconceituoso e vaidoso. Estando quase a perder a sua paciência (coisa que ela sabia que nunca iria acontecer!) eis que um belo dia a princesa acordou e deu conta do seguinte: continuava a ter o dom da infinita paciência, pois saindo do apartamento em que vivia, deparou-se com a vizinha do lado e com uma paciência só comparada a do lendário e biblíaco Job ouvia-a lamentar-se sobre as agruras que decorriam da sua vida de viúva... mas ao chegar ao restaurante onde tinha ficado de se encontrar com o seu amado, mas avaro, egoísta e desalmado príncipe verificou que este estava diferente.Estava muito amoroso e solícito e pela primeira vez ofereceu-se para pagar a conta do restaurante coisa que ele no seu imenso egoísmo e avareza nunca tinha feito, e aí a princesa apercebeu-se de que esses malfadados dons tinham desaparecido, e verificou também que o príncipe olhava para ela de forma diferente.O seu olhar já não era altivo arrogante, mas olhava-a como se a olhasse pela primeira vez, e todos os seus olhos eram doçura e amor e, pela primeira vez ele disse algo que a surpreendeu, falou de Amor. Ao ouvir e vê-lo a princesa, que nesse dia tinha recebido um telefonema do pai, para voltar para a corte e começar a assumir as suas responsabilidade de futura rainha da cocada (o rei tinha uma imensa plantação de coqueiros)assustou-se, traumatizou-se (mais do que era habitual) e saiu a correr do restaurante!Então assumindo o seu papel de mulher do século XXI, resolveu fazer aquilo que todas as fadas madrinhas detestam...serem chamadas pelo telemóvel.Mas foi isso que a princesa (futura rainha) fez:telefonou e exigiu a sua imediata presença. A fada madrinha apareceu furiosa e perguntou o porquê daqueles incómodos e a princesa resolveu colocar as cartas na mesa.Queria que ela lhe retirasse um dos seus dons de uma forma rápida e irreversível!A fada madrinha que sempre tinha gostado daquela sua afilhada, pensou, pensou e resolveu ceder.No dia seguinte a princesa foi trabalhar, e logo na sala de convívio do seu local de trabalho, começou por ouvir pacientemente e sem que nunca fosse ouvida os seus colegas.Estava neste paciente ouvir de confidências quando chega o princípe ex-desalmado.Aproxima-se rapidamente dela procurando abraça-la e demonstrar todo o seu amor, mas eis que a princesa, desviando-se de tão ignóbil abraço perguntou quem era aquele homem que tão estranhamente a assediava, visto que ela não se lembrava dele.O príncipe algo confuso, tratou logo de contar quem era e de como se sentia um homem novo,pois que repentinamente sentia-se um ser livre de estranhas e muito duradouras amarras, mas a princesa, continuava confusa e algo assustada com esse homem, pois que se havia algo que ela sentia a alguns dias era a total e muito feliz incapacidade de amar qualquer homem, que tivesse mais de 40 anos (era o caso do príncipe) e que tivesse a particularidade de se dirigir a ela, dizendo as palavras "Amo-te".No fim do seu contrato de trabalho ( depois de exaustivos meses de fuga ao príncipe apaixonado e baboso) a princesa voltou ao seu reino e tomou as vestes de rainha da cocada, vivendo feliz e sempre rodeada de homens novos.Tinha era uma particularidade: quando um desses belos príncipes abriam a boca para dizer que a amava, havia uma sala nos confins do palácio onde a princesa descontraia do stress do dia chicoteando-lhes as costas e as suas belas nádegas!Mais tarde, a princesa soube pelas coscuvilhices típicas das cortes, que o principe ex-avaro,ex-egoísta e ex-desalmado, tinha tido um grave problema de saúde, (a que não era alheia a rejeição que tinha sofrido), tinha gasto todo o seu dinheiro em inutilidades que nem vale a pena aqui enunciar de tão inúteis que eram, e por fim tinha caído nas garras de uma mulher que sabendo maravilhosamente lidar com esse tipo de homens o tinha colocado a trabalhar para poder ser sustentada, posto que a essa tinha sido dado o dom de ser para toda a vida sustentata por um homem!De facto, as fadas madrinhas quando querem...são bem lixadas!

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