segunda-feira, maio 16, 2011

Grande Hotel































Ontem, fui a uma das sessões do 'Festival de Cinema Indie Lisboa'11 ver o Documentário realizado em 2010 pela realizadora belga Lotte Stoops.O Documentário chama-se 'Grande Hotel'.Ao fazermos a nossa entrada neste Hotel, realizamos um check in em que a nossa mente e corpo entram numa espécie de '5ªdimensão', tal é o surrealismo perpetuado num desconchavado/ inanarrável/incomensurável e por fim desmesurável edifício, outrora dos mais belos e prestigiados do mundo e que se situa na cidade da Beira em Moçambique.Este Grande Hotel outrora um lugar de glamour, luxo desmesurado e símbolo do poderio da metrópole fascista é hoje albergue de 3500 almas que lá vivem, por lá procriam, e por lá perpetuam...vivendo na mais estranha miséria e ao mesmo tempo na mais honesta solidariedade, posto que escorraçados das suas terras por uma outrora guerra sem qualquer sentido, acabaram acantonados nesse 'elefante branco', esqueleto vivo em que muitas mulheres, homens, crianças e adolescentes que por lá deambulam, jamais sonham o que aquilo um dia foi. Este ex Grande Hotel, que nos seus tempos áureos foi um dos mais belos e prestigiados do mundo é hoje um lugar de sonhos constantemente reinventados, despojo de uma guerra colonial, que no fundo acaba por nos contar a história da megalomania colonial.Inaugurado em 1952, esteve aberto apenas 11/12 anos, visto que em 1963 encerrou portas, estando o seu uso confinado ao centro de conferências e à piscina olímpica, piscina essa que hoje serve de lavadouro de roupas, balneário público, recreio para crianças, e tutti quanti.Teve também a sua serventia num deslumbrante casamento da família Jardim e mais tarde em plena guerra civil, quando serviu de campo de refugiados.Todo o luxo que habitou aquelas paredes, desapareceu para sempre, visto que tudo foi delapidado, tudo serviu como moeda de troca, desde os ladrilhos pasando pelos mosaicos do chão, janelas, as madeiras que forravam as inúmeras colunas dos extensos salões, sanitários, azulejos... tudo...mas mesmo tudo foi arrancado, vendido ou destruído.Resta apenas e só o esqueleto do edifício, ameaçando ruir a todo o instante. Hoje em dia, há sonhos megalómanos para a reformulação daquele espaço, (é estranho como a megalomania se vai perpectuando) mas por enquanto as almas que lá habitam e que transacionam as suas mercadorias, ( o espaço serve como espaço habitacional e ao mesmo tempo de mercado, centro comercial...etc...), partilham aqueles imensos corredores e aqueles quadros sem electricidade e sem água, tendo contudo ao seu redor uma das mais espectaculares vistas sobre o mar jamais vistas. Para além de percorrer todo o edifício e entrevistar os que lá vivem, mostrando o seu normalíssimo quotidiano ( a cena do cabeleireiro e o espaço da mesquita é de antologia), Lotte Stoops, teve o cuidado de intercalar no seu Documentário (uma parceria com a RTP2) imagens da inauguração do Grande Hotel, assim como de entrevistar os portugueses que ainda se recordam com grande saudosisimo do mesmo, nos seus tempos de luxo e glamour, quando " a sua beleza era digna de catálogo".Ao percorrermos este outrora belo Hotel, ficamos com a sensação que a todo o momento o mesmo se irá desfazer apesar da sua monumentalidade, visto que a degradação física é quase total.Há quem zele por ele como o personagem principal, Mateus, uma espécie de zelador do edifício e dos que lá moram, um cicerone cuidadoso e cioso daquele espaço, posto ser dos poucos cujos antepassados, nomeadamente o pai, tiveram o privilégio de ter habitado o Grande Hotel quando este recebia hóspedes como Kim Novak (que lá se hospedava quando ia a África caçar) e que foi poiso de políticos, socialites e toda a fauna de gente que procurava África como um destino para férias ou negócios.Fazemos o check in e entramos,e quando nos despedimos, ficamos com a a sensação que por mais projectos que se façam para a reconstrução daquele edifício, a sombra e a presença fantasmagórica do Grande Hotel pairará para sempre, reclamando a sua presença física como a única guardiã daquele espaço.Um belíssimo Documentário.Está de parabéns Lotte Stoops e toda a sua equipa.(incluindo a escritora Lídia Jorge).Adorei!

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