quarta-feira, junho 23, 2010

Miguel Torga-Quase Um Poema de Amor


Há muito tempo já que não escrevo um

poema

de amor

E é o que eu sei fazer com mais

delicadeza!

A nossa natureza

Lusitana

Tem essa humana

Graça

Feiticeira

De tornar de cristal

A mais sentimental

E baça

Bebedeira


Mas eu que vou envelhecendo

Mas eu é que não pude ainda por meus

passos

Sair desta prisão em corpo inteiro,

E levantar âncora, e cair nos braços

De Ariane, o veleiro.
Miguel Torga
Prisão do Aljube - Lisboa, 1 de Janeiro de 1940


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