sábado, agosto 28, 2010

Amo-te

Quem como eu gosta de cinema e dos antigos filmes românticos a preto e branco, lembra-se de que no fim desses filmes surgia a inevitável frase "I Love You", frase essa que ia surgindo mais ou mesmos de 20 em 20 minutos ao longo do filme.Havia um despudor total em usar essas palavras e já houve tempos (talvez no Jurássico!) que na dita 'vida real' a mesma surgia com naturalidade. Era normal os namorados e os amantes em geral usarem com solicitude e despudor as palavras "eu amo-te".O que acontece é que as mesmas foram saindo de 'moda' e usá-las hoje em dia é quase um sacrilégio, algo de demodé,idiotice, lamachice, e sobretudo...são consideradas palavras mentirosas, porque simplesmente quase ninguém acredita que alguém possa amar ou ser amado por outrem. Há dias, enviaram-me um email, muito interessante, retirado do You Tube e que é intitulado de "Tan Hong Ming In Love", http://www.youtube.com/watch?v=P5DLAQ76HaY, que mostra uma curta entrevista a um rapazinho chinês. O filmezinho faz parte de uma campanha anti-discriminação da Petronas.Consiste o mesmo, na declaração de amor de um garoto chinês por uma rapariga que me parece ser vietnamita, e o que se pretende é mostrar que as crianças não distinguem raças, e a linguagem do amor é universal, unindo todos os povos.Ao ver essa pequena pérola de bom gosto, meiguice, carinho, e toneladas de amor, dei por mim a indagar o porquê de nós adultos termos nos dias que correm tanta dificuldade em exprimirmos por palavras aquilo que sentimos em matéria de amor. O absurdo de tudo isto é que somos mais capazes de insultar violentamente o nosso semelhante, mas em inúmeras situações, incapazes de lhe fazer uma declaração de amor! Jovens raparigas e rapazes largam rapidamente os seus namorados/as, quando algum ousa usar as fatídicas palavras "eu amo-te".Estando há umas semanas deitada na praia ia ouvindo sonolentamente um grupo de raparigas que discorriam sobre as suas relações amorosas.As confissões eram o que de mais escabroso se pode imaginar, e de entre aquelas confissões horripilantes uma chamou-me a atenção. O términos de um namoro tinha ficado a dever-se precisamente ao facto do rapaz ter tido a peregrina ideia de declarar o seu amor, o que fez com que rapidamente essa relação tivesse acabado, posto que a dita rapariga, não queria 'curtir com um gajo que só dizia mentiras!E mais: ela queria alguém que lhe temperasse o corpo e não 'um gajo que anda para aí a dizer que me ama!'Ora, é aqui que reside o cerne da questão: Ninguém acredita em ninguém, ninguém se quer afeiçoar a outrem.!Ao confessares o teu amor, ao dizeres que amas o teu parceiro estás a escancarar a porta para que a desconfiança entre, pois o que hoje em dia interessa é que curtas, a tua relação sem grande compromissos, profundidade e sobretudo, que o 'Amor' (Afeição profunda de uma pessoa a outra de sexo diferente ou igual) esteja arredado dessa mesma relação.Assim, não se criam raízes e não se sofre, posto que as relações amorosas, são perfeitamente descartáveis. Ninguém se afeiçoa a ninguém e por isso se curtirmos não sofremos, se amarmos sujeitamo-nos a um sofrimento que é de todo inconveniente nesta sociedade de consumo que vivemos.Consumimos tudo o que o poder do dinheiro pode alcançar, até o amor é consumível e perfeitamente dispensável. Quando nos sentimos enfastiados ou alguém com atributos bem mais apetecíveis surja no nosso horizonte, o não haver uma ligação profunda com o nosso parceiro torna tudo mais fácil.É só arrumarmos a trouxa e rumarmos a outras paragens!Então, no meio desse desprendimento todo,só nos resta então Hollywood e as centenas de filmes que nos enchem o coração de nostalgia e de Amor.Com eles podemos repetir baixinho:"Eu Amo-te".

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