sábado, julho 25, 2009

Jacqueline Kennedy e Michelle Obama/ Um artigo de José C. Saraiva


Quando chegou à Casa Branca em 1961, com 31 anos, Jacqueline Kennedy tinha acabado de dar à luz o seu segundo filho, John. Na altura, definiu as suas prioridades como «tomar conta do Presidente» e educar os filhos. Mas, desde que visitara a residência do Chefe de Estado dos EUA_com a sua mãe, 20 anos antes, achando-a decadente e descuidada, que alimentava o desejo de lhe devolver a dignidade perdida. Já como primeira-dama, afirmou que queria tornar aquela a «casa mais perfeita dos Estados Unidos».
Para isso, concebeu o livro A Casa Branca: Um Guia Histórico, cujas vendas reverteram a favor do restauro, fez um apelo público à doação de mobiliário de época e fez ainda aprovar uma nova lei. Em pouco tempo, com as crianças Kennedy e uma aparência renovada, a Casa Branca ganhava uma nova vida.
Cerca de meio século depois, Michelle Obama chegou ao n.º 1600 da Pennsylvania Avenue sob o signo da mudança. E, de facto, a sua elegância descontraída contrasta com a postura mais rígida de Laura Bush, como se fosse uma lufada de ar fresco a entrar na residência do Presidente.
Michelle é, como Jackie, uma esmerada mãe de família. Mas é também uma líder inspiradora com uma personalidade forte, suportada por uma inteligência incontestada. O seu brilhante curriculum inclui estudos em Princeton e Harvard, duas das mais prestigiadas universidades norte-americanas. E o próprio Barack Obama confidenciou mais tarde que, já como advogada, Michelle chegou a repudiar uma primeira investida do futuro Presidente, incerta de que ele seria suficientemente dotado...
Jackie, embora se tenha tornado um ícone da moda, possuía também uma formação sólida e um passado escolar brilhante. Amante de arte, conseguiu trazer a Mona Lisa à capital dos EUA. Estudou um ano na Sorbonne, em Paris, e licenciou-se em literatura francesa. Era ela quem recolhia citações literárias para o seu marido usar nos discursos. Venceu um concurso da Vogue francesa, entre mais de 1.200 candidatos, com o trabalho Pessoas que Gostava de Ter Conhecido (sobre Oscar Wilde, Baudelaire e Diaghilev), mas teve de recusar o prémio, que passava por um estágio de seis meses em Paris.
Em Março de 2009, a mesma Vogue chamou a Michelle Obama «a primeira-dama porque o mundo ansiava». Foi a segunda primeira-dama dos EUA a figurar na capa daquela publicação, depois de Hillary Clinton.
Michelle tem feito centenas de capas de revistas e preenchido milhares de páginas da imprensa cor-de-rosa. O seu apurado sentido do estilo – que casa a elegância com o conforto – é abundantemente discutido pelos especialistas. Em 2007 a Vanity Fair considerou-a uma das dez pessoas mais bem vestidas do mundo. Segundo a estilista Diane von Furstenberg, Michelle possui «um look inconfundível que equilibra a dualidade das suas vidas», a profissional e a familiar.
Dizem alguns que os seus vestidos que deixam os braços à mostra – um género popularizado justamente por Jackie Kennedy – deram tanto que falar como as medidas adoptadas pelo seu marido._E, quando apareceu de calções aos quadrados e sem cosmética a passear Bo, a nova mascote portuguesa da Casa Branca, as fotos tiradas por paparazzi deram a volta ao mundo.
Depois do ‘incidente’ protagonizado junto da Rainha Elizabeth II, em que abraçou a soberana inglesa que, num gesto raro, retribuiu o abraço, Michelle parece não ter querido arriscar na audiência com o Papa Bento XVI. Para o efeito, ter-se-á inspirado em Jackie, que, ao visitar o Vaticano em 1962, usou um discreto vestido negro, com um véu sobre a cabeça.
Mas os ‘deslizes’ na etiqueta vêm apenas confirmar que a primeira-dama é apenas humana e por isso também erra, contribuindo assim para a imagem de proximidade que dela emana.
Jacqueline caracterizava-se pelo estilo impecável. Onde quer que estivesse – num baile, no descapotável do Presidente ou no Taj Mahal – brilhava com o fulgor de uma estrela de cinema. Era o símbolo perfeito de uma certa aristocracia (há até quem fale em ‘realeza’) norte-_-americana de descendência europeia – além do nome francês, Bouvier, possuía sangue britânico.
Já Michelle definiu-se como um produto do sonho americano: uma pessoa simples que conseguiu chegar ao topo. Descendente de escravos da Carolina do Sul, caracteriza-se por uma elegância discreta. Que o digam os muitos jovens designers que tem promovido. Em poucos meses, Michelle impôs uma nova ordem na hierarquia do estilo.

jose.c.saraiva@sol.pt



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