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O cenário todo ele é amarelos vivos e vermelhos. Por onde vamos tudo é colorido em contraponto às almas negras e sofridas dos seres que por aqui vagueiam em perpétuo sofrimento, arrastando um passado cheio de dor e de mágoas. A cena mais incrível é precisamente quando Ignacio é pela primeira vez molestado e o realizador foca a câmara no seu olhar e divide o seu corpo em dois, pois é a partir desse momento que tal como nos diz o personagem ele se parte em dois, dividindo-se para nunca mais se unir. Fabuloso!
O mais surpreendente neste filme é que vemos um filme dentro de outro e se isso é recorrente no cinema, o modo como Almodôvar o faz é que é inovador, posto que às páginas tantas não sabemos se o que estamos a ver é a realidade ou aquilo que queremos que um dos personagens quer que vejamos. A realidade é torpe e suja, é cheia de tristezas, corpos em transformações inacabadas, cartas que se escrevem e nunca chegam ao seu destino, morte e assassínios. Quedamo-nos pela fantasia, preferimo-la à realidade, preferimos ver Zahara/Juan/ Ignacio/Angel... cantando num cabaré nos longínquos anos 70 e 80 e ficamos s pensar que só Almodôvar é capaz de nos dar filmes que no meu entender nunca passam de moda, são sempre polémicos e atuais. Um grande filme que se revê sempre com agrado e muita tristeza.
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