segunda-feira, outubro 16, 2017

Uma Saga Intemporal

Há muitos  anos atrás estando numa das livrarias da Europa-América, comecei a ler as primeiras páginas de um livro denominado O Clã do Urso das Cavernas, da escritora americana (de ascendência finlandesa) Jean M.Auel.
 Logo nas primeiras páginas fiquei cativada pelo livro e comprei-o. Sei que o li nessas férias em "três tempos" e depois apercebi-me que já tinham saído o livro seguinte denominado de O Vale dos Cavalos. Na altura como tinha outros livros para ler não comprei esse segundo volume. Anos mais tarde entrando numa outra livraria  que estava em liquidação vou dar com esse segundo volume e mais os seguintes todos arrumadinhos numa prateleira. 
O terceiro volume dividido em dois era Os Caçadores de Mamutes I e II o quarto volume também dividido em dois era o Planícies de Passagem I e II.
Na edição portuguesa há essa divisão de livros em livro I e livro II coisa que verifiquei não existir em outras edições como por exemplo no Brasil. Eu acabo por ter sete livros da saga e não tenho oito porque não foi editado em Portugal o Abrigo de Pedra.
Como os livros até estavam a preços bem acessíveis comprei-os a todos sem saber na altura, que essa saga tinha seguidores por tudo o que é sitio, está traduzido em inúmeras línguas, é considerado um best seller pelo número de obras vendidas, enfim...é um sucesso de vendas por todo o lado. É até  muito difícil de encontrar hoje alguns desses livros estando o Planícies de Passagem I esgotado.
 Mas que  Saga dos Filhos da Terra é essa?
 É a história de Ayla uma criança pré-histórica que devido a um sismo se separa da sua família e é encontrada quase morta num leito de rio por uma tribo de Neanderthais que por ali passavam à procura de uma nova caverna precisamente devido a esse sismo havido na região. Sendo ela Cro-Magnon e por isso com uma aparência física já distinta da tribo que a acolhe e com outras capacidades mentais bem mais evoluídas  e inventivas, cedo se destaca nessa sua nova família. O processo do seu crescimento é feito de aprendizagens várias nessa novo clã, muito sofrimento, descoberta dessas  suas capacidades mentais superiores aos demais que a rodeiam  e no fim da obra (Spoiler!) ela é expulsa do clã e parte em busca do seu próprio destino. Abre-se assim uma porta para a continuação da história. 
O que é que nos cativa em Ayla e o que nos afasta dela?
Cativa-nos a sua ingenuidade e  vulnerabilidade por se encontrar rodeada de gente desconhecida. De um momento para o outro ela vê-se sozinha num outro clã que não o seu. O facto dela ser uma sobrevivente nata faz dela uma personagem quase mítica.
 Afasta-nos a sua perfeição. De facto Ayla é o ser perfeito por excelência a começar pelo seu aspecto visual, visto ela ser a típica nórdica, alta, loura e de olhos azuis, se bem que ela própria se vê a si própria como bastante feia, em comparação com as outras mulheres do clã.
 Outro aspecto é que a  escritora, (que vemos que tem um carinho enormíssimo pela sua personagem principal) tanto a quis endeusar que demos por ela ser curandeira, cozinheira, engenheira, exímia caçadora, domadora de animais, ....enfim...aquela que todas as outras invejam e causadora de rancor até por parte dos homens que por ela se sentem atraídos/ameaçados. 
 No segundo volume  vemos que Ayla consegue viver sozinha durante anos, no Vale dos Cavalos a que o título alude, tendo por companhia animais que ela vai adotando, nomeadamente um cavalo, um lobo e um leão, até encontrar o que será o seu eterno companheiro,  Jondalar. A partir daí achei que a saga vai perdendo vigor e mesmo terceiro livro os Caçadores de Mamutes I e II a salvam desse torpor. Mesmo o triângulo amoroso que se desenvolve neste volume o salva de ser demasiadamente e exaustivamente explicativo...parecendo por vezes leitura para totós!
 Para mim Planície de Passagem I e II  vai revitalizar  a saga posto que é aqui mostrado a viagem do casal com os  seus adorados animais empreendem até a terra de Jandolar onde pretendem fixar-se, atravessando para isso parte da Europa da altura.É uma viagem cheia de aventuras, perigos e por isso a sua leitura é bem mais fácil e empolgante de ser feita. Pegamos nos livros e não conseguimos largar a sua leitura a ver se eles conseguem mesmo alcançar as terras dos familiares de Jandolar.
 Pelo que li a autora destas obras a Jean Auel, para poder escrever todos estes seis livros, (saiu em 2010 Abrigo de Pedra, não editado em Portugal e em 2013, A Mãe Terra esse sim já cá editado e posto à venda por uma outra editora que não a Europa-América) percorreu vários países em busca de conhecimentos pré-históricos, passando até por Portugal.  
Repito:vê-se que a sua pesquisa é exaustiva e por vezes até repetitiva, tanto ela nos quer mostrar com eram os feitos os tratamentos, como era confeccionado os instrumentos sejam eles de culinária ou de defesa, o modo como a higiene era realizada, as plantas certas a serem utilizadas, o enamoramento, os ritos de acasalamento,a descoberta do modo de fazer fogo, a separação de tarefas entre homens e mulheres...enfim o possível modus vivendi desses povos antigos.
Como não está editado em Portugal o Abrigo de Pedra eu não o pude ler, mas li os A Mãe Terra.
Verifico que é dos livros mais fracos da escritora. E de facto um romance histórico com perto de seiscentas páginas e a autora  continua dá a dar-nos conhecer muito da possível vida desses povos antigos .  Não deixei de o ler até ao fim, mas vê-se que a mesma quer esticar algo que já não tem por onde ser levado, há passagens muito repetitivas, até chatas se possível. Auel no afã de  colocar a par da história os que pela primeira vez lêem um dos seus livros sem o ter feito pela ordem cronológica,acaba por se estender imenso na explicação das histórias anteriores tornando a leitura por vezes algo maçadora. Isso acontece repetidamente  neste último livro,verificando-se isso no modo como ela elabora a explicação  do modo de vida e dos membros das várias famílias espalhadas pelas diversas cavernas existentes no vale. Contei várias páginas só disso o que é muito e torna tudo muito repetitivo e desgastante, posto que vendo o modo de viver de uma família vemos todas.  
Nesta obra, tal como nas anteriores, Ayla continua a ser a heroína incontestada, a que faz tudo bem, a que tem o poder de ir sempre mais longe. O amor que ela tem por Jondalar  continua intocável, mas mesmo aí poderia haver alguma atrito para apimentar a história, mas nem isso se dá.Mesmo  o pequeno atrito existente nas páginas finais entre os dois, não chega para dar alma ao livro que se perde em coisas que a meu ver são inúteis e pouco acrescentam à história. Tanta perfeição de Ayla é demais, pelo menos que a mulher tivesse algum defeito! Mesmo a sua santa ingenuidade e crendice no que os outros lhe dizem acaba por não ser um defeito mas uma virtude, posto que ela não vê maldade nos que a rodeiam. 
Contudo... eu adoro os livros desta saga...adoro de verdade!Mesmo com esses defeitos todos, acho que esta Saga dos Filhos da Terra, são livros muito bem escritos, a pesquisa da autora é de se louvar, ela escreve de uma forma muito honesta e quer sobretudo dar-nos a ver o que poderia ser o modo de vida dos nossos antepassados. Daí ela ser tão exaustiva, por vezes dá-me ideia que ela esquece que está a escrever um romance e não um livro de historia.
Os personagens apesar de algo estereotipados/maniqueístas quando há os maus são mesmo maus (verificou-se isso no primeiro livro mais do que nos outros) e quando há os bons esses são mesmo bonzinhos, acabam por nos cativar, assim como nos cativa ler o modo como esses povos viviam sempre em constante sobressalto e o que faziam para poder sobreviver nas suas cavernas. Esta é uma leitura que recomendo se conseguirem encontrar os livros desta saga de Jean M.Auel. Penso que a Ayla ficará sempre como a minha  heroína do tempo da pré história.
Curiosidade:Há um filme bastante datado, baseado na primeira obra. Nunca o vi, não sei se é bom ou não. Vi o trailer e é com a Daryl Hannah.

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