terça-feira, julho 18, 2017

O Paterson que vive em Paterson

Eu confesso que sou grande admiradora do realizador canadiano há muitos anos a viver nos E.U.A, Jim Jarmusch. Um  último filme que vi dele e que guardo num cantinho do meu coração foi o Só os Amantes Sobrevivem, com uma incrível  Tilda Swinton, filme esse ambientando na sombria e deserta  Detroit, o sítio ideal para esses amantes vampiros tão estranhos e tão fascinantes ao mesmo tempo. Não  consegui ainda ver todos os filmes deste realizador que tanto amo, mas paulatinamente chegarei lá.
Neste fim de semana, fui ver a sua última obra Paterson, com um Adam Drive que eu amo desde que o vi no soturno Midnight Special e em Silêncio, onde tinha um papel incrível e que tão pouco elogiado foi, focando-se toda a gente no ator principal, Andrew Garfield.
Este Paterson é ambientado na cidade de Paterson, Nova Jérsia, e foca-se no dia a dia deste homem, motorista de autocarro na cidade homónima e  casado com uma pseudo artista punk (Golshifteh Farahani/O Corpo da Mentira). Ele por consentimento ou preguiça mental deixa-se dominar por ela e esta, apanhando esse seu ponto fraco, consegue sempre levar a "água ao seu moinho". Paterson, possui um escape que é escrever poesia nas horas mortas enquanto o autocarro não parte, ou nos intervalos para o almoço. Escreve num caderninho de capa vermelha, mas nunca fotocopia os ditos poemas (súplica da mulher que o faça para posteriormente os publicar), porque simplesmente esse homem tem horror a  lidar com tudo o que seja tecnologia. Não possui um telemóvel, um computador, não sabe usar um tablet e tirando o autocarro mais nenhuma máquina passa pelas suas mãos ao contrário da mulher que adora tudo o que seja gadchets.
Os poemas de tipologia quotidiana que este personagem escreve, nada têm de especial. Já outros o escreveram de forma brilhante, nomeadamente o poeta que tanto Paterson admira que é William Carlos Williams. Neles não sentimos (eu não senti) qualquer emoção, qualquer coisa que mexesse comigo. Fiquei com a ideia que o próprio sabe que aquilo nada tem de original e por isso limita-se a escrevê-los sem qualquer ideia da sua publicação. Isso é verificável quando a miúda que ele encontra na rua e que lhe lê um dos seus poemas. Ali sim, há potencialidade, na medida que o deixa sem palavras.A única que acredita que ali está um grande poeta é a esposa, se bem que nem ela bem sabe o que o marido escreve. Tem é fé nele e como sonhadora algo irrealista que é, acredita que ele marcará dentro em breve a diferença no mundo da poesia.
.
Para além do casal, existe um feio cão que também o domina, um bar onde o mesmo frequenta todos as noites quando vai passear esse  seu feio bull dog e um restrito grupo de amigos que se cingem a essas pessoas do bar, o respectivo dono do mesmo e um colega de trabalho que todos os dias carpe a Paterson a sua trágica vida. Tirando isso, há a cidade, os passageiros do autocarro, que conversam entre si e que Paterson ouve enquanto guia o mesmo, uma inesperada garota escritora  de poesia, a dita esposa que passa os dias a pintar a casa, os cortinados, as roupas de cama, a sua própria roupa, a fazer cup cakes, usando apenas e só o preto e branco. Às páginas tantas, lá para o meio do filme apercebemo-nos que paulatinamente a casa está a transforma-se numa caverna a preto e branco onde predomina quadros do cão, riscas, bolas e pouco mais. Até os cozinhados desta esposa tão excêntrica são intragáveis, mas ele come tudo sem nunca criticar essa comida pavorosa.
 Tudo aquilo é estranho não só para nós mas também para o próprio Paterson que contudo, nada diz, nada faz, não se rebela contra aquele modo de vida deixando-se ser dominado pela esposa e pelo cão. A cena em que o cão escolhe para onde quer ir passear e ele vai, é sintomática desse deixar andar, assim como a compra da guitarra por parte da mulher que tem a distinta lata de argumentar que a mesma é um presente de Paterson, quando o mesmo nem é tido ou achado sobre essa compra. Se o filme nos mostra o percurso deste casal de segunda a segunda feira, vai ser no fim de semana que se dá a tensão quando o cão resolve fazer das suas. Mas, nem aí este homem grita, argumenta, dá azo a uma fúria mais que justa. Se gostei deste último filme de Jim Jarmuch?
Sim e não. Gostei pela interpretação dos atores que fazem um casal algo suis generis, pela diferença de modos de vida de ambos, mas que contudo se encaixam um no outro perfeitamente. 
Não, porque a espaços dá-me ideia que o realizador anda ali sem saber como navegar por aquelas águas tão paradas e melancólicas. De facto, todo o filme é de uma grande melancolia, alguma tristeza, algo soturno e se o espectador está a espera de um "golpe de asa" bem pode esperar sentado (literalmente) pois esse nunca se dá nem lá para o fim quando se dá a pequena tragédia literária  envolvendo o raio do cão feio. Nem a conversa final com o turista japonês nos convence muito e penso que aquilo foi ali metido algo à força.
Não deixa de ser um filme interessante quanto mais não seja pela reflexão que faz à rotina  de um casa de classe média tão diferentes entre si, e que vivem de um modo tão à parte do resto da cidade. Tirando isso só fica mesmo a melancolia e a tristeza quase colada à pele, deste Paterson que vive na cidade de Paterson.

1 comentário:

redonda disse...

Vi o primeiro filme e gostei muito, o segundo, não (nem sabia que eram do mesmo realizador) mas vou ver se ainda está no cinema e se ainda o posso ir ver.

um beijinho e um bom dia