O meu Blogue é um pouco de mim.Procuro através dele transmitir os meus gostos e as minhas ideias.Escreverei sobre aquilo que me vai na alma tendo sempre presente a máxima de Aristóteles que num belo dia disse: "Somos aquilo que fazemos consistentemente.Assim, a excelência não é um acto mas sim um hábito".
O nome do meu Blogue é uma homenagem que faço a essa grande pintora do século XVI que foi Artemisia Gentileschi.
Que Vivas para sempre Minha Deusa da pintura!
Foi com genuíno prazer que vi esta novíssima obra do realizador Roman Polanski de seu nome A Partir de uma História Verdadeira.
O filme é uma adaptação ao grande ecrã da obra homónima da escritora francesa Delphine de Vigan, vencedora do Prémio Renaudot (2015), um dos mais importantes prémios franceses de literatura.
Por sua vez, o argumento deste thriller psicológico, foi escrito por Polanski (Repulsa/ O Escritor Fantasma/O Deus da Carnificina/ Vénus de Vison...) em parceria com o grande Olivier Assayas e o filme foi apresentado fora de competição no Festival de Cinema de Cannes 2017.
Tendo o espetador de estar com imensa atenção ao que se passa no ecrã, pois nada é o que parece, o que ali vemos é a história deDelphine, uma escritora profissional que durante uma sessão de autógrafos do seu novo livro conhece uma elegante e sofisticadíssima mulher (a sempre espantosa Eva Green) que se diz sua confessa admiradora e que de um momento para o outro se insinua na sua vida acabando por dominá-la por completo, numa relação a dois cada vez mais estranha e doentia.
O espetador vai de surpresa em surpresa, de estranheza em estranheza das situações até ao fim, e penso que a interpretação desse mesmo fim ficará a cargo de cada um de nós, visto o realizador não dar muitas pistas para tal, a exemplo do que acontece no livro.
Eu cheguei a uma conclusão e quem ia comigo a outra. Amei o filme do principio ao fim e sem querermos acabei por fazer uma ligação direta ao Escritor Fantasma, filme também deste realizador, posto que o que ali vemos são as dores,torpezas e zonas sombrias da criação literária, sendo que aqui neste seu último filme essas dores e zonas sombrias são levadas até ao limite extremo.
Um excelente filme feito por um grande realizador, com uma fantástica Emmanuelle Seigner, uma espantosa Eva Green e o sempre seguro Vincent Perez. Imperdível!
Há muito tempo que não gostava tanto de um filme do realizador Woody Allen como gostei desta sua última obra, Roda Gigante, com uma incrível Kate Winslet (eu dava-lhe já um Óscar por este papel) um renovado Jim Belushi, uma muito boa e segura Juno Temple, um surpreendente Justin Tinberlake (sim...esse mesmo o cantor de música pop) como competentíssimo narrador da historia.
Passado na década dos anos 50 e num ambiente de feira e de praia, Coney Island, sitio para onde convergia toda a gente durante o verão, o que ali vemos é o amor, o desamor, a traição matrimonial, o amor filial de um pai para com uma filha reaparecida, um miúdo com tendências pirómanas e que poderia ser o elemento mais cómico se não fosse tão trágica e insondáveis as suas motivações, gansters e sobretudo personagens à beira do esgotamento emocional e nisso a personagem de K.Winslet está perfeita, numa Ginny capaz de tudo para segurar uma paixão que lhe dá ânimo para conseguir levar a sua desesperante vida por diante. É ao mesmo tempo um filme pesado e triste e que nos incomoda até bastante, porque o desamparo de todos aqueles personagens acaba por nos dar autênticos apertos no coração e pensar o quão é difícil a busca do amor. Está de parabéns W.Allen, assim como os atores que dão o corpo a tão interessantes personagens.
Um filme imperdível, a todos os títulos, desde a história muito bem urdida, até à fotografia que é belíssima ,passando pelo guarda roupa que é um primor.
Gostei muito deste Derradeira Viagem, filme baseado na obra do escritor norte americano Darryl Ponicsan e que já teve há uns anos atrás uma outra versão com Jack Nicholson, Randy Quaid e Otis Yong nos principais papéis.
Realizado por Richard Linklater, o mesmo do oscarizado Boywood, e com Bryan Cranston, Steve Carell e Lawrence Fihsburne, o filme mostra-nos a viagem de três amigos dos tempos da Marinha até à terra de um deles para sepultar o filho morto da guerra do Iraque. Ambientado nos anos de 2013, o que aqui vemos é as sequelas da guerra do Vietname sobre estes três homens, uma ferida nunca sarada que se vai ligar à guerra do Iraque num trágico e senpeterno retorno. Esta viagem primeiramente por carro e depois por comboio vai reaproximar estes três personagens que a vida se tinha encarregado de afastar, mas que pelos diálogos vamo-nos apercebendo que muito ainda tinha ficado por ser feito e por ser dito.
O papel mais contido vai ser entregue a Steve Carell o pai que vai a enterrar o seu filho morto de uma forma absolutamente trágica o típico exemplo de alguém que morre por estar "no sitio errado na hora errada", agravando ainda mais essa perda.
Lawrence Fihsburne é para mim o mais interessante personagem do filme, no papel de alguém que se entregou a Deus, precisamente para fugir dos vícios adquiridos nesses tempos agitados da Marinha e que agora casado e pai de família se vê enredado um pouco a contragosto nesta tragédia familiar.
Por sua vez o excelente Bryan Cranston, a personagem mais truculento deste trio, mas o locomotive de toda a acção é aquele que numa primeira vista parece ser o mais insensível de todos e o mais detestável, mas que o passar do tempo vamo-nos apercebendo que é ele a cola que os vai unir aos três, alguém indispensável para fazer andar as coisas, visto aquele pai ter caído na mais profunda apatia e tristeza e aquele padre constantemente questionar o seu papel naquela viagem. Só ele "Sal" consegue fazer o com que as coisas andem e no fim vermos que toda a sua iniciativa vai de encontro ao desejo derradeiro daquele jovem que antes de morrer escreve uma carta ao pai que é lida na cena final. É um filme em que também vemos como todo o cerimonial de homenagem aos seus mortos na guerra, é algo de bastante caro aos americanos, assim como vemos o inicio do uso dos telemóveis e da internet, algo muito bem visto pelo realizador. No fundo, gostei muito deste derradeira Viagem.
É um filme pesado, triste, mas estranhamente esperançoso, quanto mais não seja por no fim verificarmos que independentemente de tudo o que possa acontecer de trágico na vida daquelas personagens, perdurará para sempre a amizade que os liga aos três.
Nesta obra aqui apresentada do pintor Bartolomé Esteban Murillo (1617/1682),obra essa de tendência acentuadamente naturalista, podemos ver a Virgem mostrando o Menino aos pastores.Este e sua Mãe estão bastante iluminados, tendo Murillo preferido deixar São José na penumbra.
Junto deles, vemos dois pastores e uma pastor que entregam as suas oferendas: uma galinha, um cordeiro magnificamente bem pintado e ovos. Este pintor confere nesta obra um grande realismo às figuras, sobretudo na zona dos pés sujos do pastor que aparece em primeiro plano. Já Caravaggio fizera o mesmo em algumas das suas obras mostrando uma influência deste último sobre Murillo.
A Virgem Maria vestida de cores vistosas, azuis, amarelos e ocres, é a que primeiramente capta a nossa atenção, já que a luz incide sobre ela de uma forma mais intensa em detrimento dos restantes personagens em cena. Estes aparecem algo esbatidos numa obscuridade de tons castanhos e pardos.
A palha do estábulo é um claro exemplo do minucioso trabalho do artista, pois somos capazes de ver perfeitamente as suas fibras.O pano que envolve o Menino é de um branco alvo símbolo de pureza
assim como os ovos oferecido pela idosa pastora.
Esta obra magnífica (óleo sobre tela), representa para mim um bom exemplo da época natalícia e está a meu ver soberbamente executada por Bartolomé Murillo.
A mesma pode ser vista no Museu do Prado em Madrid.
Amei do principio ao surpreendente fim, este filme A Festa, da realizadora (que eu amo de coração) Sally Potter, a mesma de um dos filmes da minha vida:Orlando com a diva (pelo menos para mim) Tilda Swinton.
Este A Festa tem apenas e só sete atores dentro de uma casa e durante uma tarde. O mote é o festejo por parte de uma das personagens femininas (a dona da casa) o facto de ter sido escolhida como ministra da saúde de um governo sombra que espera muito em breve a tomada do poder.
No espaço de hora e meia verificamos que nada é o que parece, todos vão retirando as máscaras que usam no seu dia a dia e é aqui que Sally Potter vai escalpelizar de uma forma única, cada um destes seres, até não ficar pedra sobre pedra. Com um principio, meio e fim absolutamente surpreendente este A Festa é para mim decididamente um dos melhores filmes em cartaz nos cinemas nacionais.
Sally Potter vai escolher como atores para esta espécie de teatro cinematográfico, uma Kristin Scott Thomas em estado de graça (esta actriz é de facto surpreendente em todos os aspectos) um Timoty Spall que se vem afirmando como um dos grandes atores britânicos da actualidade, apesar da avançada idade, um Cilliam Murphy a mostrar o bom ator que é, Bruno Ganz que nunca faz feio, assim como Patricia Clarkson , Emily Morimer e Cherry Jones.
É de facto um grupo de atores que dão tudo, e o resultado é sublime. Preferindo filmar a preto e branco, este filme é a "cara" da realizadora, que escava fundo chegando ao âmago do que é o ser humano, as suas absolutas imperfeições, mostrando o que é a maldade, o egoísmo, o amor, a inveja e também a compaixão.Um filme imperdível!
Ontem fui ver um filme que foi para mim uma experiência cinematográfica única: A Paixão de Van Gogh, (co-produção inglesa e polaca), ou no título original Loving Van Gogh.
De facto, este filme realizado pelo animador britânico Hugh Welchman (Pedro e o Lobo/2006) e pela sua esposa, a polaca Dorota Kobiela, dá-nos a conhecer os últimos dias de vida de Van Gogh, esse genial pintor holandês prematuramente falecido, durante a sua estadia na vilazinha de Auvers-Sur-Oise, em França. Eu adoro este pintor e fiquei a gostar mais dele quando fui visitar em Amesterdão o museu com o seu nome e aí constatei como de facto as suas pinceladas são de uma beleza de nos tirar o fôlego. No caso em apreço, este filme pretende ser uma possível explicação para o mistério que rodeia a sua morte, semanas depois do mesmo se ter auto mutilado cortando uma orelha e oferecendo-a a uma prostituta de um dos bares que ele ia com alguma regularidade. É também a primeira longa metragem completamente pintada feita até hoje no mundo, ou seja, para simplificar o que ali vemos são como quadros do artista que ganham vida própria. O que mais me espantou foi que cada personagem é apresentada-nos na mesma posição em que o pintor as imortalizou para sempre e depois é que se movem.Para mim isso foi espantoso, porque para quem conhece as obras de V.Gogh ver de repente o Dr Gachet sentado a uma mesa de mão no queixo e de repente começar a falar é uma coisa sublime, assim como outros personagens que povoam o filme. Também o facto da história nos ir sendo contada por Armand Roulin filho de Joseph Roulin, o carteiro que V.Gogh imortalizou numa das suas telas, dá uma dinâmica muito grande à história, pontuada aqui e ali por alguns momentos de fino humor muito interessante. Para que este filme de animação pudesse ser feito foram pintados 853 quadros a óleo, feitos por mais de 100 artista, a partir das 1430 obras de Van Gogh algo que nos é dado a conhecer logo antes do filme começar. Ao todo foram usados 65 mil fotogramas, uma loucura mesmo. Os atores que aparecem estão caracterizados de uma forma sublime às personagens dos quadros e isso é de nos pasmar até ao fim. No genérico final ficamos a saber o que aconteceu aos personagens e mesmo isso é feito de uma forma super original, não esquecendo a música parte integrante do filme e que acaba por ser uma mais valia irrepreensível. Sem ser um filme recheado de nomes sonantes (coisa que achei fantástico, posto que assim fixamo-nos na história e nas imagens e não nos atores) no elenco podemos ver Douglas Booth, Jerome Flyn, Saoirse Ronan, Chris O'Dowd entre outros.Adorei o filme e achei o mesmo lindíssimo e de uma originalidade ímpar e penso que será nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação com toda a justiça.
Há muitos anos atrás estando numa das livrarias da Europa-América, comecei a ler as primeiras páginas de um livro denominado O Clã do Urso das Cavernas, da escritora americana (de ascendência finlandesa) Jean M.Auel.
Logo nas primeiras páginas fiquei cativada pelo livro e comprei-o. Sei que o li nessas férias em "três tempos" e depois apercebi-me que já tinham saído o livro seguinte denominado de O Vale dos Cavalos. Na altura como tinha outros livros para ler não comprei esse segundo volume. Anos mais tarde entrando numa outra livraria que estava em liquidação vou dar com esse segundo volume e mais os seguintes todos arrumadinhos numa prateleira.
O terceiro volume dividido em dois era OsCaçadores de Mamutes I e II o quarto volume também dividido em dois era o Planícies de Passagem I e II.
Na edição portuguesa há essa divisão de livros em livro I e livro II coisa que verifiquei não existir em outras edições como por exemplo no Brasil. Eu acabo por ter sete livros da saga e não tenho oito porque não foi editado em Portugal o Abrigo de Pedra.
Como os livros até estavam a preços bem acessíveis comprei-os a todos sem saber na altura, que essa saga tinha seguidores por tudo o que é sitio, está traduzido em inúmeras línguas, é considerado um best seller pelo número de obras vendidas, enfim...é um sucesso de vendas por todo o lado. É até muito difícil de encontrar hoje alguns desses livros estando o Planícies de Passagem I esgotado.
Mas que Saga dos Filhos da Terra é essa?
É a história de Ayla uma criança pré-histórica que devido a um sismo se separa da sua família e é encontrada quase morta num leito de rio por uma tribo de Neanderthais que por ali passavam à procura de uma nova caverna precisamente devido a esse sismo havido na região. Sendo ela Cro-Magnon e por isso com uma aparência física já distinta da tribo que a acolhe e com outras capacidades mentais bem mais evoluídas e inventivas, cedo se destaca nessa sua nova família. O processo do seu crescimento é feito de aprendizagens várias nessa novo clã, muito sofrimento, descoberta dessas suas capacidades mentais superiores aos demais que a rodeiam e no fim da obra (Spoiler!) ela é expulsa do clã e parte em busca do seu próprio destino. Abre-se assim uma porta para a continuação da história.
O que é que nos cativa em Ayla e o que nos afasta dela?
Cativa-nos a sua ingenuidade e vulnerabilidade por se encontrar rodeada de gente desconhecida. De um momento para o outro ela vê-se sozinha num outro clã que não o seu. O facto dela ser uma sobrevivente nata faz dela uma personagem quase mítica.
Afasta-nos a sua perfeição. De facto Ayla é o ser perfeito por excelência a começar pelo seu aspecto visual, visto ela ser a típica nórdica, alta, loura e de olhos azuis, se bem que ela própria se vê a si própria como bastante feia, em comparação com as outras mulheres do clã.
Outro aspecto é que a escritora, (que vemos que tem um carinho enormíssimo pela sua personagem principal) tanto a quis endeusar que demos por ela ser curandeira, cozinheira, engenheira, exímia caçadora, domadora de animais, ....enfim...aquela que todas as outras invejam e causadora de rancor até por parte dos homens que por ela se sentem atraídos/ameaçados.
No segundo volume vemos que Ayla consegue viver sozinha durante anos, no Vale dos Cavalos a que o título alude, tendo por companhia animais que ela vai adotando, nomeadamente um cavalo, um lobo e um leão, até encontrar o que será o seu eterno companheiro, Jondalar. A partir daí achei que a saga vai perdendo vigor e mesmo terceiro livro os Caçadores de Mamutes I e II a salvam desse torpor. Mesmo o triângulo amoroso que se desenvolve neste volume o salva de ser demasiadamente e exaustivamente explicativo...parecendo por vezes leitura para totós!
Para mim Planície de Passagem I e II vai revitalizar a saga posto que é aqui mostrado a viagem do casal com os seus adorados animais empreendem até a terra de Jandolar onde pretendem fixar-se, atravessando para isso parte da Europa da altura.É uma viagem cheia de aventuras, perigos e por isso a sua leitura é bem mais fácil e empolgante de ser feita. Pegamos nos livros e não conseguimos largar a sua leitura a ver se eles conseguem mesmo alcançar as terras dos familiares de Jandolar.
Pelo que li a autora destas obras a Jean Auel, para poder escrever todos estes seis livros, (saiu em 2010 Abrigo de Pedra, não editado em Portugal e em 2013, A Mãe Terra esse sim já cá editado e posto à venda por uma outra editora que não a Europa-América) percorreu vários países em busca de conhecimentos pré-históricos, passando até por Portugal.
Repito:vê-se que a sua pesquisa é exaustiva e por vezes até repetitiva, tanto ela nos quer mostrar com eram os feitos os tratamentos, como era confeccionado os instrumentos sejam eles de culinária ou de defesa, o modo como a higiene era realizada, as plantas certas a serem utilizadas, o enamoramento, os ritos de acasalamento,a descoberta do modo de fazer fogo, a separação de tarefas entre homens e mulheres...enfim o possível modus vivendi desses povos antigos.
Como não está editado em Portugal o Abrigo de Pedra eu não o pude ler, mas li os A Mãe Terra.
Verifico que é dos livros mais fracos da escritora. E de facto um romance histórico com perto de seiscentas páginas e a autora continua dá a dar-nos conhecer muito da possível vida desses povos antigos . Não deixei de o ler até ao fim, mas vê-se que a mesma quer esticar algo que já não tem por onde ser levado, há passagens muito repetitivas, até chatas se possível. Auel no afã de colocar a par da história os que pela primeira vez lêem um dos seus livros sem o ter feito pela ordem cronológica,acaba por se estender imenso na explicação das histórias anteriores tornando a leitura por vezes algo maçadora. Isso acontece repetidamente neste último livro,verificando-se isso no modo como ela elabora a explicação do modo de vida e dos membros das várias famílias espalhadas pelas diversas cavernas existentes no vale. Contei várias páginas só disso o que é muito e torna tudo muito repetitivo e desgastante, posto que vendo o modo de viver de uma família vemos todas.
Nesta obra, tal como nas anteriores, Ayla continua a ser a heroína incontestada, a que faz tudo bem, a que tem o poder de ir sempre mais longe. O amor que ela tem por Jondalar continua intocável, mas mesmo aí poderia haver alguma atrito para apimentar a história, mas nem isso se dá.Mesmo o pequeno atrito existente nas páginas finais entre os dois, não chega para dar alma ao livro que se perde em coisas que a meu ver são inúteis e pouco acrescentam à história. Tanta perfeição de Ayla é demais, pelo menos que a mulher tivesse algum defeito! Mesmo a sua santa ingenuidade e crendice no que os outros lhe dizem acaba por não ser um defeito mas uma virtude, posto que ela não vê maldade nos que a rodeiam.
Contudo... eu adoro os livros desta saga...adoro de verdade!Mesmo com esses defeitos todos, acho que esta Saga dos Filhos da Terra, são livros muito bem escritos, a pesquisa da autora é de se louvar, ela escreve de uma forma muito honesta e quer sobretudo dar-nos a ver o que poderia ser o modo de vida dos nossos antepassados. Daí ela ser tão exaustiva, por vezes dá-me ideia que ela esquece que está a escrever um romance e não um livro de historia.
Os personagens apesar de algo estereotipados/maniqueístas quando há os maus são mesmo maus (verificou-se isso no primeiro livro mais do que nos outros) e quando há os bons esses são mesmo bonzinhos, acabam por nos cativar, assim como nos cativa ler o modo como esses povos viviam sempre em constante sobressalto e o que faziam para poder sobreviver nas suas cavernas. Esta é uma leitura que recomendo se conseguirem encontrar os livros desta saga de Jean M.Auel. Penso que a Ayla ficará sempre como a minha heroína do tempo da pré história.
Curiosidade:Há um filme bastante datado, baseado na primeira obra. Nunca o vi, não sei se é bom ou não. Vi o trailer e é com a Daryl Hannah.
Eu já tinha ouvido falar neste filme Never let Me Go-Nunca me Deixes,mas como ele muito estranhamente não foi para o circuito comercial e saiu directamente para Dvd não o pude ver no cinema. Assim que soube que o mesmo ia ser exibido num dos canais de televisão não o quis perder e de facto o filme é altamente perturbador, assombroso e ao mesmo tempo de uma beleza rara em termos de sensibilidade cinematográfica.
Realizado por Mark Romaneck o filme parte da obra do laureado Kazuo Ishiguro o grande vencedor do Nobel da Literatura deste ano. Tem como protagonistas Carey Mulligan, Andrew Garfield, Keira Knightley e Charlot Rampling.
Um filme que nos assombra, perturba profundamente, e nos faz pensar sobre os meandros da infância, amizade, traição e sobretudo sobre a inevitabilidade da morte.
Adoro esta tela do pintor Edward Coley Bourne-Jones, denominada de A Escadaria Dourada, porque há nela um não-sei-quê-de-misterioso que nos deixa a pensar para onde vão estas dezoito mulheres que transportam consigo instrumentos musicais. Irão elas ao fim da escadaria realizar um concerto?
Jean François Millet o autor desta lindíssima obra aqui apresentada, da-nos a conhecer nesta sua tela, mais um dos seus temas favoritos, ou seja, o mundo campestre. Tal como em O Angelus, Pastora a Tecer,e Pastora com o seu Rebanho o que aqui vemos é uma composição cuja temática é a dos trabalhos no campo. No caso em apreço trata-se trata-se de um trabalho realizado por três mulheres de aspecto muito pobre. Têm em mãos uma tarefa árdua, pois o que elas fazem é respigar o campo após a colheita, de modo a respigarem os grãos que ficaram no terreno.Muitas vezes esse trabalho era feito por mendigos que depois dos campos ceifados invadiam os mesmos, tentavam apanhar os grãos que tinham ficado caídos no solo.A paisagem é totalmente horizontal num dia de céu claro. Ao longe vemos ceifeiros carregando carroças de bois e um homem a cavalo, provavelmente o fazendeiro dono das terra, que vigia o trabalho. Duas das mulheres estão de costas curvadas para o solo, tendo ima das mãos na terra e segurando ramos secos na outra.
A terceira mulher está num plano mais horizontal mas tal como as outras não lhe vemos o rosto.Nas cores predomina o bege apenas quebrado pelas cores das vestimenta das mulher em primeiro plano onde predomina o azul da sua saia. Todas elas cobrem os cabelos com lenços simples mas coloridos. . É uma tela ao mesmo tempo triste mas muito realista, pois o que Millet pretendeu com ela foi retratar de uma modo muito cru a vida dura dos campos e as personagens que nela ganham a sua vida.
Esta bonita composição é um óleo sobre tela denominado de As Respigadoras e pode ser apreciada no Museu D'Orsay em Paris.
Uma das coisas que sempre me fez e continuará a fazer confusão em termos cinematográficos é o porque de se mexer em clássicos de cinema pegando neles e fazendo uma continuação. Que haja franchises muito bem sucedidos a nível mundial, como é o caso de Fast and Furious (Velocidade Furiosa) onde o que ali vemos é apenas e só um produto para ver e esquecer no momento seguinte, por mim tudo bem, mas pegar em clássicos do cinema e fazer deles uma continuação que neste caso em apreço é sem pés nem cabeça, para mim é coisa de partir o coração para quem gosta de cinema como é o meu caso. Estou a falar-vos de Blade Runner-2049 o filme que estreou agora em Portugal e que é uma continuação do belíssimo Blade Runner de R.Scott, estreado nos longínquos anos oitenta, mais concretamente em 1983.
Eu sempre fui fã incondicional das obras de Philip K.Dick o magnífico escritor de obras de ficção científica, de onde o filme se baseia e por isso quando o filme estreou nesse ano eu coloquei-me no cinema em menos de nada. Lembro-me que no dia que estreou este Blade Runner estreou também o ET e era ver qual deles causava mais estranheza e é óbvio que na altura o ET deu 10 a 0 a este Blade Runner porque a maior parte das pessoas achou este BR um objecto cinematográfico, exótico, violento, e muito para a frente. De facto, ver aquele mundo futurista onde tudo era tão sombrio, sempre a chover, as ruas apinhadas de gente tão estranha e onde tudo era tão caótico (parecia-se com as ruas de cidades da China ou da Tailândia) deprimiu muita gente só de pensar que em 2019 o mundo pudesse ser assim. Aqueles neons gigantesco onde a cada segundo se fazia a apologia da necessidade de se tomar a pílula, a contínua e descarada publicidade à Coca-Cola,aqueles prédios absurdamente gigantescos, os carros a circularem pelos ares, o facto de nunca se ver a luz do dia devido à poluição da atmosfera,os bares e restaurantes apinhados das pessoas mais exóticas que nos era dado a ver, afastou as pessoas do filme, preferindo recolherem-se na história do ET esse bem mais familiar e ternurento.
Eu como nunca fui dada a ET e como já lia as obras do Philip K Dick, adorei este Blade Runner, passei a ser fã incondicional do R.Scott, fui logo comprar o disco dos Vangelis quando o mesmo saiu quase a par do filme, ouvia-o de manhã à noite, tinha um walkman e adormecia com ele nos ouvidos a ouvir essa banda sonora absolutamente divinal e que encaixava no filme como uma autêntica luva. A partir desse filme passei a amar o actor Harrison Ford, a Sean Yong, o Rutcher Hauer, a Daryl Hannah o Eduardo James Olmos e quando estreava um filme em que eles entrassem eu ia logo a correr ver. Lembro-me de ter ido ver o filme duas vezes completamente fascinada por tudo aquilo. Mais tarde, mais muito mais tarde, quando saiu o dvd adquiriu-o logo e de quando em vez vou vê-lo. Esta semana, talvez devido ao facto de ter estrado a sequela o canal Hollywood passou a exibi-lo e eu lá estava pregada ao filme. Penso que este filme mitificou para sempre os personagens e até os actores que nele entraram. Eram de facto magníficos e a fotografia ajudava imenso a isso. A entrada da atriz Sean Yong no filme é das coisas mais lindas em termos fotográficos que me foi dado a ver a par da de D.Hannah caminhando por aquela rua deserta tendo por pano de fundo a musica dos Vangelis. Rutger Hauer tem aqui o papel de uma vida quanto mais não seja pela sua fala final (hoje considerada uma das grandes cenas em termos cinematográficos) com aquela fotografia de nos pregar à cadeira.
No dia anterior as ir ver essa sequela que agora estreou estive a rever o filme para o ter na retina quando fosse ver este Blade Runner-2049.
Fui vê-lo ontem e não sai ao meio do filme por respeito ao R.Scott que agora aqui entra na qualidade de produtor, tendo a realização ficado a cargo de um realizador que eu gosto muito (aí porque me traíram ambos assim..) o Denis Villeneuve, o mesmo do magnífico Arrival que vos falei aqui aquando da sua estreia.
Bem, o filme pretendendo ser uma sequela do original é para mim uma bela bosta. Desculpem ser assim seca...mas é o sentimento que passei a nutrir pelo filme.A começar pela personagem principal o actor Ryan Gosling que para mim só deveria ter feito dois filmes: Drive e Só Deus Perdoa. Depois disso deveria ter-se retirado, com a sua bela mulher para uma quinta na Califórnia e por lá com aquele ar de canastrão, criar cavalos e plantar árvores. Ver este actor ajudar a estraçalhar um filme que é uma sequela de um clássico é da pessoa rasgar as vestes. Este rapaz passa o filme com um ar tão inexpressivo e ensimesmado, que um leão marinho perto dele é um ser do mais alegre e expressivo que possamos imaginar. Se aquele ar era supostamente de um andróide sem emoções, vamos ali e já vimos. Conselho: Antes de teres posto esse ar deverias ver e rever o Rutger Hauer durante horas e aí verias o que era ser um andróide.Mesmo as cenas em que lhe é pedido um pouco mais de emoção, a coisa é tão forçada, mas tão forçada que ou eu me engano ou o rapaz estava para lá de contrariado apor se ter metido neste projecto...só pode! Deste canastrão estamos entendidos, pois nem vale a pena gastar as minhas meninges neste personagem.
Agora vamos ao Jared Leto. Eu adoro o Jared Leto, o vocalista desta (para mim) mítica banda que é o 10 Seconds to Mars. O rapaz está a abandonar paulatinamente a música e a entrar no cinema. Via-se que ele gostava deste mundo devido aos seus video clips autênticos pequenos filmes, verdadeiras pérolas de criação artística muito bem realizados. Ele é um bom actor e isso viu-se quando o mesmo fez aquele papel de destrambelhado no filme Sala de Pânico. Depois entrou no Clube de Dallas onde ganhou o Óscar de actor secundário, fez outros filmes não tão visíveis até ter chegado ao papel que é amado/odiado por muitos que é de Jocker em Esquadrão Suicida. Parece que o J.Leto se especializou em papéis de composição e aqui foram-no buscar por essa sua versatilidade. Bem, ele não entra no filme muitas vezes, mas quando entra para além de grandes tiradas e uma performance algo sinistra, nada dali sai de memorável. Vazio, oco e a esquecer no fim do filme. Eu quando vi o trailer ainda julguei que ele iria ser o cerne do filme como "herdeiro"do império Tyrell Corporation, e rivalizar com o magnifico papel feito pelo actor Joe Turkel como o dono dessa corporação a grande fabricante de replicants humanóides no primeiro BR. Puro engano, posto que a participação de Leto aqui é para esquecer pois nada fica retido em nós, a não ser o magnífico edifico onde agora alberga a Wallace Corporation...o que é dizer muito pouco sobre ele! Harrison Ford para mim foi a grande, mas mesmo a grande desilusão do filme. Resolveram irem buscá-lo para mostrar-nos um Rick Deckard, totalmente envelhecido, sem chama, frio, distante, pateticamente só, com umas falas super banais e que logo que entra desata aos murros e aos tiros sem qualquer sentido ou propósito. Aliás é a partir do momento em que ele entra no filme, que este que já era mau descarrila de vez. Começa a violência, os tiros, os murros, os assassinatos, muito show off...
O seu papel é tão mau, mas tão mau que é risível, e quando digo risível é mesmo risível! Deveria ter ficado quieto no seu canto, para que nos recordássemos sempre dele como o magnífico policia calçador de replicants como ele era no outro filme. P.S. Ou é engano meu, ou o Harrison Ford em vez de melhorar como actor está cada vez mais canastrão com a idade? Cada vez que assisto um filme em que ele entre a coisa vai piorando! Outro que deveria ter ficado pela série Indiana Jones e por este Blade Runner.
Robin Wright uma actriz que eu amo de coração é para mim a personagem mais digna que aparece no filme.Apesar de aparecer poucas vezes, de cada vez que surge é aquela que se aguenta firme e hirta neste navio a entrar água por todos os lados. De facto esta mulher salva qualquer porcaria e mais uma vez aqui não foi excepção. Pena desaparecer do filme de uma forma tão sem glória pois ela merecia bem mais consideração.
Não posso esquecer Dave Bautista um actor que estamos habituados a ver em filmes de ação e que aqui tem um papel muito contido e muito bom. Vê-lo atuar perto do oscarizado R.Gosling é ver quem é bom quando resolve ser bom e quem é péssimo quando acha que é magnifico. 10 para D.Bautista e 0 para R.Gosling .
Por último Ana de Armas. Esta atriz cubana tem-se vindo a afirmar paulatinamente no mundo cinematográfico. Já a tinha visto em Disclosed com o K.Reeves e já ali vi o vislumbre de uma boa atriz. Aqui tem um papel muito bom, pois está contida e sem mácula no seu registo como mulher virtual. Grande Ana de Armas...outra que perto de R.Gosling lhe rouba as cenas todas sem muito fazer por isso, o que diz tudo sobre aquele. Eduardo J.Olmos aparece num pequeno papel e sem fazer má figura.
Quando à história desta sequela, G.Villeneuve e os seus guionistas, assassinando totalmente a obra do escritor que deu origem ao primeiro filme, vendo que não tinham muito por onde espremerem vão de inventar uma filha de um humano com uma replicant que é desesperadamente procurada por toda a gente. Para o politicamente correcto ser muito politicamente correto e não se dizer que o filme é totalmente entregue a homens toca de colocar em campo uma perseguidora diabolicamente pérfida papel desempenhado Sylvia Hoeks atriz que ficou conhecida pelo seu papel de falsa ingénua no magnifico filme de Giuseppe Tornatore A Melhor Oferta.Ela está ali apenas e só para matar sem dó nem piedade, arrear pancada como uma doida nunca questionando nada, num papel sem qualquer sentido,sem alma e para mim perfeitamente descartável.
Como há muita gente que não viu o primeiro BR e para que este fizesse algum sentido para esses espectadores, meteram falas e cenas do primeiro filme, fazendo até "aparecer" a atriz Sean Yong a andróide Rachael.
Contudo, esta cena que poderia ser o momento fulcral e até emocional de todo o filme, foi totalmente desperdiçado sem apelo nem agravo por um Harrison Ford fora de tom, um J.Leto apático e uma S.Hoeks feita anjo exterminador. Se o filme para mim já era mau essa cena deitou por terra qualquer consideração e algum beneficio de dúvida que tinha até ai dado ao mesmo.
No compito geral, repito, detestei este Blade Runner-2049, vi-o com grande sacrifício, a banda sonora é assustadoramente péssima e tonitruante a despropósito, e para a coisa ainda ser mais horrível foram na cena final buscar a música dos Vangelis, tentando mimetizar a última cena do primeiro filme. Claro que não resultou, porque de uma coisa tão má não vai sair um fim gloriosamente bom a ponto de nos esquecermos do belíssimo fim do primeiro filme... e com R.Gosling ainda pior.
Não está de parabéns nem Gilles Villeneuve o realizador, nem R.Scott o produtor. Todo este filme é péssimo e descartável, nunca conseguirá que esqueçamos o primeiro Blade Runner, muito pelo contrário, só servirá para o glorificarmos ainda mais como obra prima única e irrepetível!
Tu G.Villeneuve que nos deste um tão bons filmes como é o caso de Arrival, Sicário, entre outros , deverias fazer uma pausa na tua carreira e refletir sobre o tu próximo projecto que deve ser algo de novo e parar de escarafunchar em coisas com os quais não devemos mexer como é o caso de filmes que nunca, mas nunca, deveriam ter sequelas e muito menos sequelas como está.
A tela que aqui vemos retrata uma cena familiar muito ternurenta e muito realista entre mãe e filha ao colo. A mãe tem uma atitude muito intima e carinhosa para com a sua filha, acabando assim por encarnar os ideais de sensibilidade que à época eram dominantes na mentalidade inglesa, sendo uma antecipação do movimento Romântico que podemos ver descritos nas obras da grande escritora Jane Austen, nomeadamente em Sensibilidade e Bom Senso livro que eu adoro de coração. Assim, esses ideais defendiam o regresso à autenticidade e espontaneidade humanas. Dentro dessa ideologia inseria-se pois a educação infantil, passando a a dar-se bem mais importância ao papel da mãe na educação e crescimento dos seus filhos, evitando-se o mais possível as tão em moda "amas de leite", passando as próprias mães a amamentar os seus bebés, incentivando-se também à estimulação das crianças levando-as a expressarem-se livremente. Retirava-se assim o "espartilho" da distância entre progenitora e os seus filhos, algo que vigorou tristemente durante décadas.
Pintores como George Romney o autor da tela aqui expressa, contribuíram através da arte para criar uma visão idealizada e doce dessa nova maternidade. Todo a tela está feita de uma forma muito harmoniosa e isso é visível no gesto de protecção da mãe que segura a criança nos braços até ao próprio rosto de ambas. A menina, está vestida de uma forma elegante, optando o pintor por a vestir com algo de completamente branco.Por sua vez a mãe mostra pertencer a uma classe alta devido ao traje sóbrio mas de aspecto rico. Contudo, e apesar desses trajes algo luxuosos, destaca-se um certo despojamento visual visto a mãe apenas ter como adorno o fio que lhe pende do peito e que termina numa medalhão em forma de coração. Adoro esta tela denominada de Mrs Johnstone e sua Filha e que pode ser apreciada no Tate Galleries em Londres.
O filme vem procedido de grande bruá quanto mais não seja pelo secretismo em torno da história e pela estranheza das imagens do primeiro cartaz que o enunciava. Quando foi estreado criou também muita polémica visto ser daqueles objectos cinematográficos que após ser visto é do tipo...ama-me ou odeia-me...mas não me deixes indiferente. Eu não fiquei indiferente ao mesmo, fui vê-lo e pasmei-me com tudo o que ali vi e senti.
Falo-vos do Mãe, "Mother" no seu título original, com J.Lawrence (uma das grandes atrizes da atualidade) e J.Barden que nunca faz feio e que aqui tem um papelão quanto mais não seja, porque acho que nenhum outro ator poderia fazer daquele marido absolutamente sinistro. Darren Aronofsky, (Cisne Negro) consegue neste seu filme que cada um de nós espectadores façamos a interpretação livre do que ali se passa naquela casa, entre aquele casal e aquelas pessoas absolutamente estranhas que os visitam, interpretação essa que passa por acharmos que o que ali vemos é apenas e só uma alegoria aos tempos que vivemos e onde a violência mais irracional pode irromper onde menos se espera, até fazermos uma ligação ao filme de R.Polansky, o Rosemary Baby. Eu saí do filme bastante incomodada, com a história, com as cenas de violência visceral que ali vemos e totalmente tomada de dó por aquela esposa, mãe, que às páginas tantas dá por si mergulhada num apocalipse never end e quando digo never end é mesmo no sentido literal do termo. Pelo que ouvia e lia das criticas ia com a ideia de ver um remake do Rosemary Baby mas dei por mim num outro objecto cinematográfico não menos terrível que este último e a meu ver muito bem escrito e realizado.
M.Pleiffer nas cenas que aparece absolutamente divinal, assim como Ed Harris e tantos outros que por ali surgem, assustando-nos de morte.Se o filme é do tipo satânico? Eu fiquei com a ideia que sim, pelo final, mas podemos ser levados pelo realizador a reflectir sobre os caminhos da idolatria, das dores da criação escrita ou seja ela qual for, do amor incondicional de uma mulher para com um homem e da absoluta violência intrínseca a cada um de nós seres humanos.
Andei um pouco arredada daqui devido ao facto de ter tido obras na minha casa. Quem já teve obras desse tipo sabe bem o calvário que é viver numa casa e vê-la dia após dia a ser partida, sujada, esventrada, "vandalizada" por homens de obras. A minha casa às páginas tantas parecia um albergue espanhol...cabia sempre cá mais um...homem de obras que vinha fazer mais alguma coisa. A experiência foi (e ainda não terminou...porque falta alguns detalhes e sabemos que o diabo está nos detalhes) traumatizante e penso que dificilmente tornarei a repetir a experiência. Aconselho desde já a quem pense fazer obras em casa que não fique na mesma,...que se mude...que vá para qualquer sitio mas que não fique a viver num estaleiro que foi o que aconteceu comigo. O pó, a sujeira, o barulho, e tudo o resto é o suficiente para tirar alguns anos de vida a uma pessoa, passe o exagero.Nada fica como dantes e quando pensamos que o pior já passou o outro dia é um pesadelo bem pior. Claro que toda gente me dizia: Depois vai ficar tudo bonitinho... mas quem está metido nas obras não perspectiva o futuro, não vê as coisas bonitas...pois o que vê é apenas lixo e pó. O pó era tanto mas tanto (lixar paredes e tectos dá nisso) que eu via o mesmo a pairar no ar e a não assentar. Um terror! Também disseram-me que durante um ano!!!iria sentir o pó a pairar pela casa e quem tem muitos livros como é o meu caso a coisa ainda se torna bem mais bicuda. Claro que não conseguindo dar conta da limpeza chamei quem fizesse a mesma, e de facto é o melhor que a pessoa tem a fazer porque se assim não for não consegue dar conta da empreitada. Agora que as coisas já assaram e "está tudo bonitinho" como me diziam, a pessoa não consegue ter o prazer de apreciar, porque nós os seres humanos temos tendência para ficar com as coisas negativas e relegar para segundo plano o positivo. É neste momento o meu caso...não consigo ainda apreciar o belo porque ainda continuo mergulhada no pesadelo...é como se não conseguisse sair dele.
Uma amiga disse-me que há tempos estava a ouvir um programa de rádio e uma figura conhecida contava que tinha obras em casa e teve de se mudar para uma outra casa que tinha, porque as mesmas arrastavam-se há meses e ela com marido e filhos não conseguia lá viver. Eu não tenho filhos e penso que se os tivesse também teria que me mudar, visto que com crianças é impossível viver numa casa em obras e sem cozinha como foi o meu caso. O que as obras têm em Portugal (penso que noutros países as coisas não são assim) é que se arrastam ad infinito. Ninguém cumpre os prazos, tudo é feito com uma lentidão assustadora. O que podia ser feito em 15 dias dura meses, porque hoje falta o senhor que ia rebocar as paredes, amanhã falta o canalizador, o pintor só pode vir à tarde, o electricista não vem de todo, os materiais não aparecem porque a fabrica fechou para férias (agosto nesse aspecto é para esquecer porque o país fecha para férias) e assim por diante. Se os meses de verão são bons para obras no sentido em que as massas das paredes secam mais rapidamente, é contudo um terror no que respeita à compra dos materiais, visto que como já o disse, tudo fecha para férias.
Então qual a melhor altura para obras? Não sei! Se é na Páscoa é a mesma coisa, pois toda a gente zarpa para a santa terrinha para degustar o cabrito e se o tempo estiver bom até para praia se vai!
Se é no Natal a mesma coisa, se é nos inicio do ano e se este for chuvoso, não dá porque nada seca, há demasiada humidade no ar e a pessoa fica com a casa num estaleiro esperando infinitamente que as coisas se façam... e se for no verão é o que descrevi.
Cheguei então à conclusão que se a pessoa tiver que fazer obras de grande vulto, o melhor mesmo é mudar de casa. Eu se soubesse que ia passar o que passei tinha feito isso. A insanidade de obras de vulto é tão grande que justifica a pessoa ir para outro lugar e não passar por um terror deste género. Obras em minha casa? Acho que nunca mais.
Eu confesso que sou grande admiradora do realizador canadiano há muitos anos a viver nos E.U.A, Jim Jarmusch. Um último filme que vi dele e que guardo num cantinho do meu coração foi o Só os Amantes Sobrevivem, com uma incrível Tilda Swinton, filme esse ambientando na sombria e deserta Detroit, o sítio ideal para esses amantes vampiros tão estranhos e tão fascinantes ao mesmo tempo. Não consegui ainda ver todos os filmes deste realizador que tanto amo, mas paulatinamente chegarei lá.
Neste fim de semana, fui ver a sua última obra Paterson, com um Adam Drive que eu amo desde que o vi no soturno Midnight Special e em Silêncio, onde tinha um papel incrível e que tão pouco elogiado foi, focando-se toda a gente no ator principal, Andrew Garfield.
Este Paterson é ambientado na cidade de Paterson, Nova Jérsia, e foca-se no dia a dia deste homem, motorista de autocarro na cidade homónima e casado com uma pseudo artista punk (Golshifteh Farahani/O Corpo da Mentira). Ele por consentimento ou preguiça mental deixa-se dominar por ela e esta, apanhando esse seu ponto fraco, consegue sempre levar a "água ao seu moinho". Paterson, possui um escape que é escrever poesia nas horas mortas enquanto o autocarro não parte, ou nos intervalos para o almoço. Escreve num caderninho de capa vermelha, mas nunca fotocopia os ditos poemas (súplica da mulher que o faça para posteriormente os publicar), porque simplesmente esse homem tem horror a lidar com tudo o que seja tecnologia. Não possui um telemóvel, um computador, não sabe usar um tablet e tirando o autocarro mais nenhuma máquina passa pelas suas mãos ao contrário da mulher que adora tudo o que seja gadchets.
Os poemas de tipologia quotidiana que este personagem escreve, nada têm de especial. Já outros o escreveram de forma brilhante, nomeadamente o poeta que tanto Paterson admira que é William Carlos Williams. Neles não sentimos (eu não senti) qualquer emoção, qualquer coisa que mexesse comigo. Fiquei com a ideia que o próprio sabe que aquilo nada tem de original e por isso limita-se a escrevê-los sem qualquer ideia da sua publicação. Isso é verificável quando a miúda que ele encontra na rua e que lhe lê um dos seus poemas. Ali sim, há potencialidade, na medida que o deixa sem palavras.A única que acredita que ali está um grande poeta é a esposa, se bem que nem ela bem sabe o que o marido escreve. Tem é fé nele e como sonhadora algo irrealista que é, acredita que ele marcará dentro em breve a diferença no mundo da poesia.
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Para além do casal, existe um feio cão que também o domina, um bar onde o mesmo frequenta todos as noites quando vai passear esse seu feio bull dog e um restrito grupo de amigos que se cingem a essas pessoas do bar, o respectivo dono do mesmo e um colega de trabalho que todos os dias carpe a Paterson a sua trágica vida. Tirando isso, há a cidade, os passageiros do autocarro, que conversam entre si e que Paterson ouve enquanto guia o mesmo, uma inesperada garota escritora de poesia, a dita esposa que passa os dias a pintar a casa, os cortinados, as roupas de cama, a sua própria roupa, a fazer cup cakes, usando apenas e só o preto e branco. Às páginas tantas, lá para o meio do filme apercebemo-nos que paulatinamente a casa está a transforma-se numa caverna a preto e branco onde predomina quadros do cão, riscas, bolas e pouco mais. Até os cozinhados desta esposa tão excêntrica são intragáveis, mas ele come tudo sem nunca criticar essa comida pavorosa.
Tudo aquilo é estranho não só para nós mas também para o próprio Paterson que contudo, nada diz, nada faz, não se rebela contra aquele modo de vida deixando-se ser dominado pela esposa e pelo cão. A cena em que o cão escolhe para onde quer ir passear e ele vai, é sintomática desse deixar andar, assim como a compra da guitarra por parte da mulher que tem a distinta lata de argumentar que a mesma é um presente de Paterson, quando o mesmo nem é tido ou achado sobre essa compra. Se o filme nos mostra o percurso deste casal de segunda a segunda feira, vai ser no fim de semana que se dá a tensão quando o cão resolve fazer das suas. Mas, nem aí este homem grita, argumenta, dá azo a uma fúria mais que justa. Se gostei deste último filme de Jim Jarmuch?
Sim e não. Gostei pela interpretação dos atores que fazem um casal algo suis generis, pela diferença de modos de vida de ambos, mas que contudo se encaixam um no outro perfeitamente.
Não, porque a espaços dá-me ideia que o realizador anda ali sem saber como navegar por aquelas águas tão paradas e melancólicas. De facto, todo o filme é de uma grande melancolia, alguma tristeza, algo soturno e se o espectador está a espera de um "golpe de asa" bem pode esperar sentado (literalmente) pois esse nunca se dá nem lá para o fim quando se dá a pequena tragédia literária envolvendo o raio do cão feio. Nem a conversa final com o turista japonês nos convence muito e penso que aquilo foi ali metido algo à força.
Não deixa de ser um filme interessante quanto mais não seja pela reflexão que faz à rotina de um casa de classe média tão diferentes entre si, e que vivem de um modo tão à parte do resto da cidade. Tirando isso só fica mesmo a melancolia e a tristeza quase colada à pele, deste Paterson que vive na cidade de Paterson.
Há pouco tempo resolvi rever o filme Experimenter do realizador Michael Almereyda e com um par de fantásticos atores como é o caso de Winona Ryder e de Peter Sarsgaard. É um dos meus filmes preferidos a par de Gátaca, este último do realizador Andrew Niccol. Enquanto o revia dei por mim a pensar o quanto os experimentos do psicólogo experimental Stanley Milgram continuam tremendamente atuais. De facto, Experimenter
traz-nos um fiel retrato da natureza humana, demarcando de um modo fantástico a sua fragilidade,
sublinhando a sua inconsciência e expondo as propensões comportamentais em situações
que nos são familiares. As demonstradas experiências de Milgran, evidenciam
as tendências humanas para comportamentos de obediência cega que nos levam a questionar ou a perceber o porquê do holocausto nazi e das"aceitação" de muitas ditaduras sangrentas que proliferam infelizmente neste nosso planeta. O estudo realizado por Milgram acerca das
reações individuais face a indicações concretas de outros, utilizando a simulação
de eletrochoques, revelaram até à saciedade o cumprimento do Homem face à execução de ordens dadas, mesmo que isso envolvesse o sofrimento e a própria vida de outro ser humano. Secenta e cinco por cento dos sujeitos em estudo obedeceram até ao fim da experiência, administrando choques que,
hipoteticamente, levariam à morte do indivíduo que os recebera. É muito
interessante observar a reacção de todos aqueles que realizaram o procedimento
experimental. De facto, quase todos eles afirmaram posteriormente, que se julgavam incapazes de efectuar
tal crueldade para com outrem, mas que ali em face a alguém de "bata branca" que os mandava prosseguir com os choques, sentiram-se compelidos a obedecer sem questionar essa ordem tão cruel. Poucos foram os que se rebelaram, e os que o fizeram saíram do experimento zangados consigo próprios e com quem os obrigava a prosseguir com aquele horror. Os que ficavam até ao fim ficavam tão desanimados e tão afetados que praticamente não conseguiam posteriormente olhar olhos nos olhos com a "vitima" dos electrochoques.
Este magnífico e bem realizado filme (que passou bem despercebido aquando da sua exibição no cinema em Portugal) é bastante elucidativo da condição humana e de todos os fenómenos do universo da obediência cega, que se repetem,
contínua e sistematicamente ao longo da História da Humanidade. É também a a meu ver um filme excepcional baseado na história de um grande e esquecido estudioso do comportamento humano.
Está aí em cartaz uma obra cinematográfica nuito boa do jovem realizador polaco Tomasz Wasilewski.
O filme chama-se United States of Love ,Estados Unidos Pelo Amor,e é a meu ver um filme extraordinário, posto que o que aí vemos é o amor que perpassa por quatro mulheres sem que alguma o alcance por mais esforços que façam nesse sentido. O filme está construído num mosaico bem interessante em que acabando a historia de uma faz-se a ligação à história da outras sem que as linhas condutoras da ação sejam cortadas entre elas. Todas se conhecem, e todas elas vivem as sua solidão da forma mais triste possível, carregando o fardo de um amor não correspondido numa sociedade que se abre ao Ocidente (anos oitenta muito bem caracterizados através das roupas, penteados e modus vivendi das personagens), mas que continua profundamente machista. Assim temos, Ágata que despreza o marido porque desenvolveu uma obsessão amorosa quase destrutiva pelo pároco local. Vinga-se fazendo sexo com ele (que se arrasta atrás dela como um cachorro), usando-o apenas e só como instrumento para a lembrança do homem que ama: o padre. Até a filha ela maltrata, posto que só tem olhos para um ser que ela sabe ser inatingível.
O próprio ato sexual feito por esta mulher o o marido é animalesco e assustador, pois nada ali é amoroso, nada ali é digno de ser visto, tudo é violento pois só assim ela consegue sublimar a sua obsessão por alguém que ela sabe à partida que nunca terá.
Renata professora de literatura é levada à reforma pela diretora da escola onde trabalha. Esse seu local de trabalho era a sua segunda casa. Desocupada e vivendo nos subúrbios, zonas essas que o realizador filma soberbamente de forma a mostrar-nos como é viver em ilhas de prédios sem cor e sem alma, acaba por ter tempo livre para poder espiar o objecto do seu amor: Marzena, a jovem professora de educação física do colégio onde outrora trabalhava. É também um amor obsessivo, idêntico ao amor que ela tem pelos seus lindos pássaros que voam livremente pela sua casa. Esta casa é o seu refugio, decorada de modo à mesma se evadir da solidão em que se encontra emersa e que a faz estar em constante alerta para as chegadas e saídas do objecto da sua paixão.
Iza a diretora do colégio, é uma mulher poderosa. Arranja-se bem, veste-se em consonância com o cargo, mas esconde um segredo. É amante há vários anos de um homem casado. Ela pensa que este ao enviuvar, irá abrir-lhe finalmente as portas da sua casa e assim darem azo ao seu amor. Vai enganar-se redondamente, pois este já não a ama nem a pode ver à frente. O machismo dos homens é aqui posto à prova e a história de Iza é a meu ver a que mais mexe com o espectador. Ela é obsessivamente perseguidora no seu amor, quase doentio, por um homem que não hesita em a violentar fisicamente batendo-lhe para se libertar dela. Ela não se quer libertar dele e luta até à crueldade final. Aterrador.
Por último temos a jovem Marzena objeto de desejo e de amor de Renata. Uma ex miss da cidadezinha onde vivem, que nunca singrou em nada que queria, ou seja, o mundo da moda e por arrasto o da fama. Boa profissional, jovem e bonita procura o amor da forma mais torpe. Envolve-se com homens que ela julga que a colocarão no mundo que ela ambiciona, mas é óbvio que nada conseguirá. O que querem é o seu corpo jovem e disponível. Apenas a irmã Isa e Renata gostam dela. Iza através do seu amor fraternal tenta cuidar dela e a cena da realização do bolo de anos é disso exemplo e Renata que faz tudo para chamar-lhe a atenção sem que contudo Marzena se aperceba disso.
Estão todas unidas por amores impossíveis, unidas na sua solidão e profunda tristeza. O sexo é um refugio, mas até isso é feito de uma forma feia e grosseira.
Wasilewski não hesita em filmar corpos tal como eles são, com todas as suas im-perfeições. Não há fotoshop, o que vemos ali são os corpos daquelas mulheres e daqueles homens. A cena da piscina remeteu-me para a cena de abertura do filme Animais Noturnos do realizador Tom Ford. Os corpos tal como eles são em toda a sua plenitude. Soberbo!
No fim, saímos do cinema, eu pelo menos sai, não com uma sensação amarga de boca, mas sim com a sensação de como é difícil alcançar o amor e como é digno de admiração a luta desenvolvida pelo ser humano para que tal seja possível. O Amor aqui está apenas na literatura e na bíblia.
Na literatura que Renata lê para os seus alunos e que o pároco profere nas sua homilias e nas aulas de catecismo. Não existe dentro das casas, não existe entre os casais.
No fundo aquelas mulheres acabam por ser o espelho de uma sociedade polaca em transformação acelerada, onde a mais profunda solidão e tristeza se agarra à pele destas mulheres (e no fundo à pele dos homens que com elas se cruzam) cobrindo-os a todos com o seu manto quase irrespirável.
Já Aristóteles afirmava “O Homem é
por natureza um animal político”. Somos seres naturalmente sociáveis, tendendo
para a constituição de comunidades, necessitando de interação humana, de uma
vida inserida num círculo coletivo partilhado.
O Homem, nesta perspetiva, anseia a aprovação dos que
o rodeiam, necessita de uma espécie de aceitação que passa pelo seu “eu”
individual, como também pelo “eu” inserido na sociedade. Deparamo-nos muitas
vezes com a dualidade da nossa identidade, assumindo uma dupla caracterização
que difere consoante o olhar, ou seja, conforme a entidade que nos avalia: um
olhar pessoal (interior) ou um olhar social (exterior). Acabamos por nos tornar
seres fragmentados, indefinidos pela pressão exercida através da educação, da
política, da cultura e dos costumes. É
inevitável a criação de um quadro mental que englobe as expectativas que
julgamos ter de superar, implantadas por nós ou por outros. De forma a
alcançarmos a adaptação social que instintivamente ambicionamos, acabamos por nos
pintar à imagem do indivíduo comum, ou, como me atrevo a designar: o sujeito
padrão – aquele que reúne as qualidades e os traços que lhe confere
atratividade, que proporciona uma boa
incorporação no mapa social, que impede a distanciação e diferenciação do
coletivo. Estas competências acabam por resultar numa dissolução na nossa
individualidade em prol da conquista de um “eu” coletivo, inserido num corpo
geral indiviso.Porque procuramos esta dissolução? Porque não
buscamos alcançar a distinção, a criação de uma assinatura particular, o
desenho de um traço próprio? A resposta encontra-se, precisamente, na avaliação
externa que tememos. Como constatamos, a novidade raramente é aceite de braços
abertos nas tradições. Há pouco tempo estava a ver a série Genius com um soberbo Geoffrey Rush, como Einstein e onde é-nos mostrado uma possível biografia deste ser tão inteligente e tão inovador.Aí podemos constatar o quanto este homem foi incompreendido e a sua genialidade alvo de chacota e de descrédito pelos avanços científicos então demonstrados por ele. O mesmo se passa quando vi o filme O Jovem Karl Marx do realizador Raoul Peck com August Diehl e Stefan Konarcke. Tanto um como o outro (só para citar dois exemplos, havendo muitos mais) foram indivíduos ousados e modernos para a época, foram, quase
sempre, encarados como loucos, as suas ideias, por contrastarem com o
pensamento do cidadão comum (cidadão padrão mencionado anteriormente, cumpridor
das normas e paradigmas vigentes), quase perderam credibilidade e tal só não aconteceu porque estes génios se agarraram a elas com toda a força das suas convicções. As pessoas tendem a
assustar-se com o espelho que as consciencializa da falta da sua marca
individual, que os alerta para o próprio desaparecimento, que acorda o seu “eu”
interior à muito adormecido.Incidindo
no percurso do humano como ser biológico, desde o nascimento que este se encontra,
na sua fase mais frágil e precoce, dependente de uma entidade que se define
como superior por se apresentar mais capaz (física e psicologicamente),
constituindo-se como fonte da nossa sobrevivência. Ao longo do nosso
crescimento e em todo o desenvolvimento educacional, é feita esta segregação, é
instituída a nossa primeira relação interpessoal complementar, sabendo que será
a primeira de muitas. É-nos transmitida a arte da obediência que nos é vendida
como a única manifestação de respeito para com entidades superiores. O ato de
obedecer constitui-se assim como o principal vínculo em relações não
simétricas, quer sejam relações familiares, acadêmicas ou profissionais. É em
locais de ensino, em ambientes profissionais ou em espaços constitucionais do mundo
adulto que se instaura a ideia de autoridade: qualidade do que é
inquestionável, inquebrável e incontestável aos nossos olhos, tornando-nos
cegos obedientes, esquecendo ou ignorando os valores e crenças morais
defendidas. Somos assim, influenciados a agir de determinado modo, a
comportarmo-nos de forma a atingir o cumprimento de ordens que julgamos ter a
obrigação e/ou o dever de as concretizar. Testemunhamos nesta sequência de
desenvolvimento social o detrimento do pensamento crítico, a vulnerabilidade
ética e moral do ser humano e a perigosidade das ações por ele realizadas em
consequência de uma obediência total e imediata.O
desejo da integração na sociedade e na cultura, a valorização e o medo
incidente na opinião de outrem e a hierarquia estabelecida nas relações
interpessoais, representa uma trindade que dá lugar ao conformismo.
Conformamo-nos perante a educação que recebemos sem a questionar, perante o
retrato social que pintam para nós e por nós. Conformamo-nos assumindo esse
retrato como nosso, conformamo-nos rejeitando a mudança, tornando-nos agentes
passivos comandados pelo medo. Conformamo-nos alimentando-nos do conformismo
dos cidadãos comuns. Conformamo-nos com a vida morta e pobre que levamos, com o
largar do “ eu” e o abraçar do “eles”.
Conformamo-nos fingindo não nos
conformar. Conformamo-nos dissociando aquilo que podíamos ser, mergulhando
naquilo que esperam que sejamos. Vivemos numa sociedade a preto e branco,
monótona, à imagem de um código binário. Cabe-nos a nós: aos loucos, aos
anormais e aos marginalizados, pintar um universo aos nossos olhos e viver
traçando a nossa identidade e aceitando a de outros. É da nossa
responsabilidade convidar a diferença, criá-la e reinventá-la, chamar por
experiências particulares vividas por um “eu” sólido mas mutável que acompanha
a novidade constante de um mundo múltiplo.
De facto eu devia ter emenda depois de ter visto Prometheuse aqui ter há um ano arrasado o filme. Contudo, quando vi a sua sequência de seu nome Alien-Covenent, dei conta do quanto tinha sido injusta para com Prometheus. Este último filme de Ridley Scott é tão lixo, mas tão lixo (cósmico, espacial, alienígena...o que quisermos chamar...) que o anterior acaba quase por ser uma obra de arte.
Tirando os primeiros 10 minutos do filme, onde se dá um diálogo muito interessante entre o andróide David (M.Fassebender) e o seu criador (Guy Pearce), tudo o resto é puro lixo do mais baixo que se pode imaginar, lixo esse muito bem embrulhado em tiradas grandiosas, com um elenco de tripulantes com as ideias mais estúpidas que uma pessoa pode imaginar e no fim dei por mim a perguntar: então... e era essa gente tão desprovida de imaginação,inteligência, astúcia, bom senso... que se preparava para colonizar um planeta? Lol!
Pois...esse Alien-Covenant é mais um prego no caixão desta sequela,(prequela neste caso) cujo filão/ideia máxima se esgotou a meu ver precisamente no primeiro filme, Alien-O 8ºPassageiro. Todos os outros que se seguiram foram apenas filões para se ganhar dinheiro e mais nada. Porquê que insistem em fazer continuações de obras de arte? Why? why????
Quando Ridley Scott resolveu fazer esta prequela que mostra os eventos antes da chegada da nave ao planeta infernal, onde ovos gigantes com coisas nojentas dentro deles e que aguardam para saltar para a cara dos infelizes que têm a ideia de olhar para dentro deles, meteu-se a meu ver por atalhos tão envios e tão desprovidos de inteligência que quase se torna risível,como é o caso em apreço.
Li que estão na calha mais dois filmes! Não imagino como se pode espremer mais esse filão, só se for para enriquecer Michael Fassebender, que se meteu aqui e e parece que veio para ficar a tal ponto que neste Alien-Covenant já não apenas um Fassebender mais sim dois, o que torna tudo ainda mais desconsolador!O twist final é tão idiota, mas tão idiota que nem a grandiosa música de orquestra salva o filme da mais plena mediocridade.Enfim...quando Hollywood está falha de ideias e de bons argumentos cinematográficos, vomita sucessivas sequelas, prequelas e outras idiotices do género, ao qual até nem falta uma heroína a imitar Simone Weaver, mas bem menos inteligente que aquela, e um comandante de nave do mais idiota que me foi dado a ver em cinema.