Neste filme de 2008, da realizadora argumentista e actriz Josiane Balasko e com guião de Franck Lee Joseph (o filme é a adaptação de um Romance da própria realizadora), seguimos o percurso sexual/sentimental de Judith ,uma sempre espantosa Natalie Baye) uma atraente e sensata mulher que anda pela casa dos 50. Vive sozinha e satisfaz-se regularmente com serviços sexuais prestados por homens escolhidos em sites de acompanhamento da Internet. É assim que conhece Patrick, cuja amabilidade e simplicidade a arrebatam. E começa a vê-lo regularmente, preterindo outros homens e exigindo cada vez mais a sua presença.Na verdade esse Patrick chama-se Marco, vive com a mulher e filhos na minúscula casa de uma intratável sogra, está atolado em divídas, tenta pagar a prestações o cabeleireiro da mulher e como tem um "palminho" de cara e um bom rabiosque, trata de através de um site (dos múltiplos que existem por este mundo fora) pôr a render os seus atributos.É então que conhece Judith, ou antes é Judith que o conhece e começa a ter regularmente relações sexuais que no fim são generosamente pagas. Para Judith, o que ela faz não é mais que pagar com dinheiro, umas horas de prazer, seja com Patrick/Marco seja com qualquer outro homem. A única que sabe dissso é a sua irmã que ouvindo as confidencias de Judith tenta de uma forma muito sensata que ela ponha fim a essa forma de relacionamento, que não a levará a lado algum. O que Josiane Balasko põe na tela é a realidade crua de uma sociedade em que milhares de mulheres, outras Judites desta vida procuram: ter alguém nem que seja pagando. Esse alguém satisfá-las, e nesses momentos a mulher sente-se amada, tem um homem que não se importa com o que ela faz, o que ela é, os seus problemas, as suas angústias, e sobretudo não se importa com a sua idade!
É precisamente na idade que está o cerne da questão. Judith, já perdeu a juventude e com ela foi também a ideia de um dia encontrar o seu "principe encantado" o homem da sua vida o seu companheiro, aquele que sai com ela, que a leva ao cinema que a ajuda nos seu dia a dia, que a compreende, que a ouve que a acompanha nos bons ou maus momentos,que envelhecerá com ela. Essa esperança ela já a perdeu , o que lhe resta é ter alguém que a troco de dinheiro lhe dê sexo a satisfaça e que no fim se vá embora, que vá ao encontro dos seus problemas, dos seus filhos e da sua mulher. Questionada pela irmã até quando ela pretende levar esta vida, até que ponto a idade não interferirá nesses encontros, e na possibilidade de continuar a encontrar quem queira ter alguma coisa com ela, Judith responde:"É uma questão de pagar mais! É sempre e será sempre uma questão de dinheiro!Um filme soberbo que não nos deixa de surpreender até ao fim .O próprio universo familiar de Patrick/Marco merece um tratado sociológico, e com a sempre soberba Natalie Baye num papel irrepreensível do início ao fim.Um bom filme francês que passou quase despercebido, mas que consegue retratar como nenhum outro o papel da mulher, dos homens (e mulheres) que se vendem online para poder sustentar a família, os seus vícios privados, ou satisfazer qualquer pulsão e até que ponto os problemas sociais, a solidão e o desespero acabam por empurrar os indivíduos para situações em que a sordidez nunca, mas nunca, deixa de estar presente.