sábado, outubro 07, 2017

Mais uma Sequela para Esquecer


Uma das coisas que sempre me fez e continuará a fazer confusão em termos cinematográficos é o porque de se mexer em clássicos de cinema pegando neles e fazendo uma continuação. Que haja franchises muito bem sucedidos a nível mundial, como é o caso de Fast and Furious (Velocidade Furiosa) onde o que ali vemos é apenas e só um produto para ver e esquecer no momento seguinte, por mim tudo bem, mas pegar em clássicos do cinema e fazer deles uma continuação que neste caso em apreço é sem pés nem cabeça, para mim é coisa de partir o coração para quem gosta de cinema como é o meu caso. Estou a falar-vos de Blade Runner-2049 o filme que estreou agora em Portugal e que é uma continuação do belíssimo Blade Runner de R.Scott, estreado nos longínquos anos oitenta, mais concretamente em 1983. 
Eu sempre fui fã incondicional das obras de Philip K.Dick o magnífico escritor de obras de ficção científica, de onde o filme se baseia e por isso quando o filme estreou nesse ano eu coloquei-me no cinema em menos de nada. Lembro-me que no dia que estreou este Blade Runner estreou também o ET e era ver qual deles causava mais estranheza e é óbvio que na altura o ET deu 10 a 0 a este Blade Runner porque a maior parte das pessoas achou este BR um objecto cinematográfico, exótico, violento, e muito para a frente. De facto, ver aquele mundo futurista onde tudo era tão sombrio, sempre a chover, as ruas apinhadas de gente tão estranha e onde tudo era tão caótico (parecia-se  com as ruas de cidades da China ou da Tailândia) deprimiu muita gente só de pensar que em 2019 o mundo pudesse ser assim. Aqueles neons gigantesco onde a cada segundo se fazia a apologia da necessidade de se tomar a pílula, a contínua e descarada publicidade à Coca-Cola,aqueles prédios absurdamente gigantescos, os carros a circularem pelos ares, o facto de nunca se ver a luz do dia devido à poluição da atmosfera,os bares  e restaurantes  apinhados das pessoas mais exóticas que nos era dado a ver, afastou as pessoas do filme, preferindo recolherem-se na história do ET esse bem mais familiar e ternurento.
 Eu como nunca fui dada a ET e como já lia as obras do Philip K Dick, adorei este Blade Runner, passei a ser fã incondicional do R.Scott, fui logo comprar o disco dos Vangelis quando o mesmo saiu quase a par do filme, ouvia-o de manhã à noite, tinha um walkman e adormecia com ele nos ouvidos a ouvir essa banda sonora absolutamente divinal e  que encaixava no filme como uma autêntica luva. A partir desse filme passei a amar o actor  Harrison Ford, a Sean Yong, o Rutcher Hauer, a Daryl Hannah o Eduardo James Olmos e quando estreava um filme em que eles entrassem eu ia logo a correr ver. Lembro-me de ter ido ver o filme duas vezes completamente fascinada por tudo aquilo. Mais tarde, mais muito mais tarde, quando saiu o dvd adquiriu-o logo e de quando em vez vou vê-lo. Esta semana, talvez devido ao facto de ter estrado a sequela o canal Hollywood passou a exibi-lo e eu lá estava pregada ao filme. Penso que este filme mitificou para sempre os personagens e até os actores que nele entraram. Eram de facto magníficos e a fotografia ajudava imenso a isso. A entrada da atriz  Sean Yong no filme é das coisas mais lindas em termos fotográficos que me foi dado a ver a par da de D.Hannah  caminhando por aquela rua deserta tendo por pano de fundo a musica dos Vangelis. Rutger Hauer tem aqui o papel de uma vida quanto mais não seja pela sua fala final (hoje considerada uma das grandes cenas em termos cinematográficos) com aquela fotografia de nos pregar à cadeira.
No dia anterior as ir ver essa sequela que agora estreou estive a rever o filme para o ter na retina quando fosse ver este Blade Runner-2049. 
Fui vê-lo ontem e não sai ao meio do filme por respeito ao R.Scott que agora aqui entra na qualidade de produtor, tendo a realização ficado a cargo de um realizador que eu gosto muito (aí porque me traíram ambos assim..) o Denis Villeneuve, o mesmo do magnífico Arrival que vos falei aqui aquando da sua estreia.
Bem, o filme pretendendo ser uma sequela do original é para mim uma bela bosta. Desculpem ser assim seca...mas é o sentimento que passei a nutrir pelo filme.A começar pela personagem principal o actor Ryan Gosling que para mim só deveria ter feito dois  filmes: Drive e Só Deus Perdoa. Depois disso deveria ter-se retirado, com a sua bela mulher para uma quinta na Califórnia e por lá com aquele ar de canastrão, criar cavalos e plantar árvores. Ver este actor ajudar a estraçalhar um filme que é uma sequela de um clássico é da pessoa rasgar as vestes. Este rapaz passa o filme com um ar tão inexpressivo e ensimesmado, que um leão marinho perto dele é um ser do mais alegre e expressivo que possamos imaginar. Se aquele ar era supostamente de um andróide sem emoções, vamos ali e já vimos. Conselho: Antes de teres posto esse ar deverias ver e rever  o Rutger Hauer durante horas e aí verias o que era ser um andróide.Mesmo as cenas em que lhe é pedido um pouco mais de emoção, a coisa é tão forçada, mas tão forçada que ou eu me engano ou o rapaz estava para lá de contrariado apor se ter metido neste projecto...só pode! Deste canastrão estamos entendidos, pois nem vale a pena gastar as minhas meninges neste personagem.
 Agora vamos ao Jared Leto. Eu adoro o Jared Leto, o vocalista desta (para mim) mítica banda que é o 10 Seconds to Mars. O rapaz está a abandonar paulatinamente a música e a entrar no cinema. Via-se que ele gostava deste mundo devido aos seus video clips autênticos pequenos filmes, verdadeiras pérolas de criação artística muito bem realizados. Ele é  um bom actor e isso viu-se quando o mesmo fez aquele papel de destrambelhado no filme Sala de Pânico. Depois entrou no Clube de Dallas onde ganhou o Óscar de actor secundário, fez outros filmes não tão visíveis até ter chegado ao papel que é amado/odiado por muitos que é  de Jocker em Esquadrão Suicida. Parece que o J.Leto se especializou em papéis de composição e aqui foram-no buscar por essa sua versatilidade. Bem, ele não entra no filme muitas vezes, mas quando entra para além de grandes tiradas e uma performance algo sinistra, nada dali sai de memorável. Vazio, oco e a esquecer no fim do filme. Eu quando vi o trailer ainda julguei que ele iria ser o cerne do filme como "herdeiro"do império Tyrell Corporation, e rivalizar com o magnifico papel feito pelo actor Joe Turkel como o dono dessa corporação a grande fabricante de replicants humanóides no primeiro BR. Puro engano, posto que  a participação de Leto aqui é para esquecer pois nada fica retido em nós, a não ser o magnífico  edifico onde agora alberga a Wallace Corporation...o que é dizer   muito pouco sobre ele!
Harrison Ford para mim foi a grande, mas mesmo a grande desilusão do filme. Resolveram irem buscá-lo para mostrar-nos um Rick Deckard, totalmente envelhecido, sem chama, frio, distante, pateticamente só, com umas falas super banais e que logo que entra desata aos murros e aos tiros sem qualquer sentido ou propósito. Aliás é a partir do momento em que ele entra no filme, que este que já era mau descarrila de vez. Começa a violência, os tiros, os murros, os assassinatos, muito show off...
 O seu papel é  tão mau, mas tão mau que é risível, e quando digo risível é mesmo risível! Deveria ter ficado quieto no seu canto, para que nos recordássemos sempre dele como o magnífico policia calçador de replicants como ele era no outro filme. P.S. Ou é engano meu, ou o Harrison Ford em vez de melhorar como actor está cada vez mais canastrão com a idade? Cada vez que assisto um filme em que ele entre a coisa vai piorando! Outro que deveria ter ficado pela série Indiana Jones e por este Blade Runner.
 Robin Wright uma actriz que eu amo de coração é para mim a personagem mais digna que aparece no filme.Apesar de aparecer poucas vezes, de cada vez que surge é aquela que se aguenta firme e hirta neste navio a entrar água por todos os lados. De facto esta mulher salva qualquer porcaria e mais uma vez aqui não foi excepção. Pena desaparecer do filme de uma forma tão sem glória pois ela merecia  bem mais consideração.
Não posso esquecer Dave Bautista um actor que estamos habituados a ver em filmes de ação e que aqui tem um papel muito contido e muito bom. Vê-lo atuar perto do oscarizado R.Gosling é ver quem é bom quando resolve ser bom e quem é péssimo quando acha que é magnifico. 10 para D.Bautista e 0 para R.Gosling .
Por último Ana de Armas. Esta atriz cubana tem-se vindo a afirmar paulatinamente no mundo cinematográfico. Já a tinha visto em Disclosed com o K.Reeves e já ali vi o vislumbre de uma boa atriz. Aqui tem um papel muito bom, pois está  contida  e sem mácula no seu registo como mulher virtual. Grande Ana de Armas...outra que perto de R.Gosling lhe rouba as cenas todas sem muito fazer por isso, o que diz tudo sobre aquele.
 Eduardo J.Olmos aparece num pequeno papel e sem fazer má figura.
Quando à história desta sequela, G.Villeneuve e os seus guionistas, assassinando totalmente a obra do escritor que deu origem ao primeiro filme, vendo  que não tinham muito por onde espremerem vão de inventar  uma filha de um humano com uma replicant que é desesperadamente procurada por toda a gente. Para o politicamente correcto ser muito politicamente correto e não se dizer que o filme é totalmente entregue a homens toca de colocar em campo uma perseguidora diabolicamente pérfida papel desempenhado  Sylvia Hoeks atriz que ficou conhecida pelo seu papel de falsa ingénua no magnifico filme de Giuseppe Tornatore A Melhor Oferta.Ela está ali  apenas e só para matar sem dó nem piedade, arrear pancada como uma doida nunca questionando nada, num papel sem qualquer sentido,sem alma e para mim perfeitamente descartável.  
Como há muita gente que não viu o primeiro BR e para que este fizesse algum sentido para esses espectadores, meteram falas e  cenas do primeiro filme, fazendo até  "aparecer" a atriz Sean Yong a andróide  Rachael.
Contudo, esta cena que poderia ser o momento fulcral e até emocional de todo o filme, foi totalmente desperdiçado sem apelo nem agravo por um Harrison Ford fora de tom, um J.Leto apático e uma S.Hoeks feita anjo exterminador. Se o filme para mim já era mau essa cena deitou por terra qualquer consideração e algum  beneficio de dúvida que tinha até ai  dado ao mesmo. 
No compito geral, repito, detestei este Blade Runner-2049, vi-o com grande sacrifício, a banda sonora é assustadoramente péssima e tonitruante a despropósito, e para a coisa ainda ser mais horrível foram na cena final buscar a música dos Vangelis, tentando mimetizar a última cena do primeiro filme. Claro que não resultou, porque de uma coisa tão má não vai sair um fim gloriosamente bom a ponto de nos esquecermos do belíssimo fim do primeiro filme... e com R.Gosling ainda pior.
 Não está de parabéns nem Gilles Villeneuve o realizador, nem R.Scott o produtor. Todo este filme  é péssimo e descartável, nunca conseguirá que esqueçamos o primeiro Blade Runner, muito pelo contrário, só servirá para o glorificarmos ainda mais como obra prima única e irrepetível!
 Tu G.Villeneuve que nos deste um tão bons filmes como é o caso de Arrival, Sicário, entre outros , deverias fazer uma pausa na tua carreira e refletir sobre o tu próximo projecto que deve ser algo de novo e parar de escarafunchar em coisas com os quais não devemos mexer como é o caso de filmes que nunca, mas nunca, deveriam ter sequelas e muito menos sequelas como está.

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