Há filmes e até obras de arte pictóricas que quando as vemos pela primeira vez ficamos simplesmente fascinados com elas, mas, passado algum tempo, até pode ser anos, quando as revimos nada sentimos e até nos interrogamos sobre o porquê do fascínio sentido quando pela primeira vez olhamos para elas. Já me aconteceu isso inúmeras vezes e até já me aconteceu isso com pessoas, mas isso são contas de outro rosário.
O que aqui quero abordar é um filme que quando o vi pela primeira vez pouco ou nada nele nada nele me encantou.
Contudo, resolvi reincidir na obra e vê-lo outra vez.
Foi esta revisitação que me fez mudar de ideias e aos poucos a admiração pelo modo como este filme foi feito e encenado foi aumentando e isso aconteceu ontem à noite outra vez, quando fazendo zapping pelos canais televisivos, fui dar com esta obra do realizador britânico Joe Wright realizador de Locke, Orgulho e Preconceito, Hanna, Expiação, O Solista., Peter Pan).
Falo-vos de Anna Karenina, filme baseado na obra do grande Leão Tolstoi.
Se não me engano o filme foi estrado em Portugal há coisa de dois ou três anos, e na altura lembro-me do filme vir precedido de criticas algo desfavoráveis e mesmo cá não foi filme que tivesse enchido as salas de cinema e as opiniões dividiram-se e a maioria até nem era grandemente favorável a essa nova incursão no universo Toltoiano.
Na altura da sua estreia fui vê-lo ao cinema e também eu fiquei sem conseguir qualificar este filme e o modo como o mesmo foi realizado/encenado e só me lembro de que o mesmo me parecia uma gigantesca peça de teatro feita em jeito de filme. Falando com uma amiga, também ela não tinha apreciado favoravelmente o filme e até tinha saído bastante cansada do mesmo, não o sabendo bem descrever e qualificar.
Passado uns tempos aluguei-o em vídeo clube e resolvi vê-lo calmamente a até andando para trás em algumas cenas e fazendo pausa em outras. Foi aqui que comecei a amar este Anna Karenina e aos poucos fui tendo uma visão dele que me foi emocionando passando aos pouco a considerá-lo uma peça de cinema invulgar, muito bem executada, com prestações fantásticas de todos os actores em especial a da protagonista principal Keira Knightley (Anna Karenina) actriz por quem tenho grande carinho e que também é partilhado pelo realizador, visto a mesma estar presente em mais duas obras do mesmo, nomeadamente em Expiação e Orgulho e Preconceito.
Coadjuvada por Jude Law (Conde Karenine), Aaron Taylor-Johnson (Vronsky), Kelly Macdonald (Dolly Oblonsky), Matthew MacFadyen (Stiva Oblonsky),Domhnall Gleeson (Kostia Levin),Alicia Vikander (Kitty) entre outros muitos bons actores, o que vemos neste filme é uma fotografia absolutamente sublime, uma história muito bem contada e feita em moldes teatrais o que dá muito mais força à história em questão, actores em estado de graça, e uma dramatologia seguríssima e em que não vemos qualquer actor a resvalar para o histeriónico, o mau gosto, onde tudo é contido e o drama conseguido em doses certas.
Ontem ao ver este filme outra vez, vi que de facto esta revisitação a este drama de Tolstoi feito de forma teatralizada acabou por ser a que mais se aproximou da obra do escritor assim como a escolha dos cenários aquela que mais nos deu a ver de uma forma muito bem conseguida a sociedade russa da altura em que o drama se desenrola, com as classes sociais estratificadamente divididas, e onde as paixões exacerbadas eram bem escondidas e quem ousasse desafiar essas convenções, teria apenas e um só destino, aquele que Anna Karenina segue. Até o fim do filme é para mim o fim perfeito.
Dos personagens que guardo com carinho na memória acaba até por nem ser o de Anna e Vronsky ou até do Conde Karenin o marido de Anna, (prestação incrível de Jude Law), mas sim de Kitty e Kostia Levin, valendo para isso a prestação de Alicia Vikander como Kitty e que vem mostrar o quanto esta actriz é magnífica, (podemos vê-la em cartaz no A Rapariga Dinamarquesa).
Este Anna Karenina é por isso um daqueles filmes que com o passar do tempo mais e mais o amamos, pois o que ali está é de facto uma excelente obra cinematográfica e que a meu ver acabará por o ser sempre, desafiando o tempo e mantendo-se sempre intemporal.
Um filme a revisitar.