Já Aristóteles afirmava “O Homem é
por natureza um animal político”. Somos seres naturalmente sociáveis, tendendo
para a constituição de comunidades, necessitando de interação humana, de uma
vida inserida num círculo coletivo partilhado.
O Homem, nesta perspetiva, anseia a aprovação dos que
o rodeiam, necessita de uma espécie de aceitação que passa pelo seu “eu”
individual, como também pelo “eu” inserido na sociedade. Deparamo-nos muitas
vezes com a dualidade da nossa identidade, assumindo uma dupla caracterização
que difere consoante o olhar, ou seja, conforme a entidade que nos avalia: um
olhar pessoal (interior) ou um olhar social (exterior). Acabamos por nos tornar
seres fragmentados, indefinidos pela pressão exercida através da educação, da
política, da cultura e dos costumes. É
inevitável a criação de um quadro mental que englobe as expectativas que
julgamos ter de superar, implantadas por nós ou por outros. De forma a
alcançarmos a adaptação social que instintivamente ambicionamos, acabamos por nos
pintar à imagem do indivíduo comum, ou, como me atrevo a designar: o sujeito
padrão – aquele que reúne as qualidades e os traços que lhe confere
atratividade, que proporciona uma boa
incorporação no mapa social, que impede a distanciação e diferenciação do
coletivo. Estas competências acabam por resultar numa dissolução na nossa
individualidade em prol da conquista de um “eu” coletivo, inserido num corpo
geral indiviso.Porque procuramos esta dissolução? Porque não
buscamos alcançar a distinção, a criação de uma assinatura particular, o
desenho de um traço próprio? A resposta encontra-se, precisamente, na avaliação
externa que tememos. Como constatamos, a novidade raramente é aceite de braços
abertos nas tradições.
Há pouco tempo estava a ver a série Genius com um soberbo Geoffrey Rush, como Einstein e onde é-nos mostrado uma possível biografia deste ser tão inteligente e tão inovador.Aí podemos constatar o quanto este homem foi incompreendido e a sua genialidade alvo de chacota e de descrédito pelos avanços científicos então demonstrados por ele. O mesmo se passa quando vi o filme O Jovem Karl Marx do realizador Raoul Peck com August Diehl e Stefan Konarcke. Tanto um como o outro (só para citar dois exemplos, havendo muitos mais) foram indivíduos ousados e modernos para a época, foram, quase sempre, encarados como loucos, as suas ideias, por contrastarem com o pensamento do cidadão comum (cidadão padrão mencionado anteriormente, cumpridor das normas e paradigmas vigentes), quase perderam credibilidade e tal só não aconteceu porque estes génios se agarraram a elas com toda a força das suas convicções. As pessoas tendem a assustar-se com o espelho que as consciencializa da falta da sua marca individual, que os alerta para o próprio desaparecimento, que acorda o seu “eu” interior à muito adormecido. Incidindo no percurso do humano como ser biológico, desde o nascimento que este se encontra, na sua fase mais frágil e precoce, dependente de uma entidade que se define como superior por se apresentar mais capaz (física e psicologicamente), constituindo-se como fonte da nossa sobrevivência. Ao longo do nosso crescimento e em todo o desenvolvimento educacional, é feita esta segregação, é instituída a nossa primeira relação interpessoal complementar, sabendo que será a primeira de muitas. É-nos transmitida a arte da obediência que nos é vendida como a única manifestação de respeito para com entidades superiores. O ato de obedecer constitui-se assim como o principal vínculo em relações não simétricas, quer sejam relações familiares, acadêmicas ou profissionais. É em locais de ensino, em ambientes profissionais ou em espaços constitucionais do mundo adulto que se instaura a ideia de autoridade: qualidade do que é inquestionável, inquebrável e incontestável aos nossos olhos, tornando-nos cegos obedientes, esquecendo ou ignorando os valores e crenças morais defendidas. Somos assim, influenciados a agir de determinado modo, a comportarmo-nos de forma a atingir o cumprimento de ordens que julgamos ter a obrigação e/ou o dever de as concretizar. Testemunhamos nesta sequência de desenvolvimento social o detrimento do pensamento crítico, a vulnerabilidade ética e moral do ser humano e a perigosidade das ações por ele realizadas em consequência de uma obediência total e imediata. O desejo da integração na sociedade e na cultura, a valorização e o medo incidente na opinião de outrem e a hierarquia estabelecida nas relações interpessoais, representa uma trindade que dá lugar ao conformismo. Conformamo-nos perante a educação que recebemos sem a questionar, perante o retrato social que pintam para nós e por nós. Conformamo-nos assumindo esse retrato como nosso, conformamo-nos rejeitando a mudança, tornando-nos agentes passivos comandados pelo medo. Conformamo-nos alimentando-nos do conformismo dos cidadãos comuns. Conformamo-nos com a vida morta e pobre que levamos, com o largar do “ eu” e o abraçar do “eles”.
Há pouco tempo estava a ver a série Genius com um soberbo Geoffrey Rush, como Einstein e onde é-nos mostrado uma possível biografia deste ser tão inteligente e tão inovador.Aí podemos constatar o quanto este homem foi incompreendido e a sua genialidade alvo de chacota e de descrédito pelos avanços científicos então demonstrados por ele. O mesmo se passa quando vi o filme O Jovem Karl Marx do realizador Raoul Peck com August Diehl e Stefan Konarcke. Tanto um como o outro (só para citar dois exemplos, havendo muitos mais) foram indivíduos ousados e modernos para a época, foram, quase sempre, encarados como loucos, as suas ideias, por contrastarem com o pensamento do cidadão comum (cidadão padrão mencionado anteriormente, cumpridor das normas e paradigmas vigentes), quase perderam credibilidade e tal só não aconteceu porque estes génios se agarraram a elas com toda a força das suas convicções. As pessoas tendem a assustar-se com o espelho que as consciencializa da falta da sua marca individual, que os alerta para o próprio desaparecimento, que acorda o seu “eu” interior à muito adormecido. Incidindo no percurso do humano como ser biológico, desde o nascimento que este se encontra, na sua fase mais frágil e precoce, dependente de uma entidade que se define como superior por se apresentar mais capaz (física e psicologicamente), constituindo-se como fonte da nossa sobrevivência. Ao longo do nosso crescimento e em todo o desenvolvimento educacional, é feita esta segregação, é instituída a nossa primeira relação interpessoal complementar, sabendo que será a primeira de muitas. É-nos transmitida a arte da obediência que nos é vendida como a única manifestação de respeito para com entidades superiores. O ato de obedecer constitui-se assim como o principal vínculo em relações não simétricas, quer sejam relações familiares, acadêmicas ou profissionais. É em locais de ensino, em ambientes profissionais ou em espaços constitucionais do mundo adulto que se instaura a ideia de autoridade: qualidade do que é inquestionável, inquebrável e incontestável aos nossos olhos, tornando-nos cegos obedientes, esquecendo ou ignorando os valores e crenças morais defendidas. Somos assim, influenciados a agir de determinado modo, a comportarmo-nos de forma a atingir o cumprimento de ordens que julgamos ter a obrigação e/ou o dever de as concretizar. Testemunhamos nesta sequência de desenvolvimento social o detrimento do pensamento crítico, a vulnerabilidade ética e moral do ser humano e a perigosidade das ações por ele realizadas em consequência de uma obediência total e imediata. O desejo da integração na sociedade e na cultura, a valorização e o medo incidente na opinião de outrem e a hierarquia estabelecida nas relações interpessoais, representa uma trindade que dá lugar ao conformismo. Conformamo-nos perante a educação que recebemos sem a questionar, perante o retrato social que pintam para nós e por nós. Conformamo-nos assumindo esse retrato como nosso, conformamo-nos rejeitando a mudança, tornando-nos agentes passivos comandados pelo medo. Conformamo-nos alimentando-nos do conformismo dos cidadãos comuns. Conformamo-nos com a vida morta e pobre que levamos, com o largar do “ eu” e o abraçar do “eles”.
Conformamo-nos fingindo não nos
conformar. Conformamo-nos dissociando aquilo que podíamos ser, mergulhando
naquilo que esperam que sejamos. Vivemos numa sociedade a preto e branco,
monótona, à imagem de um código binário. Cabe-nos a nós: aos loucos, aos
anormais e aos marginalizados, pintar um universo aos nossos olhos e viver
traçando a nossa identidade e aceitando a de outros. É da nossa
responsabilidade convidar a diferença, criá-la e reinventá-la, chamar por
experiências particulares vividas por um “eu” sólido mas mutável que acompanha
a novidade constante de um mundo múltiplo.
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