Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa e fez a sua estreia no campo da poesia em 1960, com um livro de poemas cujo título é premonitório: Espelho Inicial. Jornalista de profissão, o seu nome começa por ser associado ao grupo da «Poesia 61». Mas, a partir de 1971, devido ao escândalo que envolveu a publicação das Novas Cartas Portuguesas, de que foi co-autora, e ao processo judicial que se lhe seguiu, passa a ser vista como um expoente do feminismo em Portugal.
A sua visão do erotismo funda-se no desejo de uma autêntica complementaridade entre a mulher e o homem e esclarece-se, quanto a nós, à luz da tese platónica da cisão originária dos seres em duas metades e da trajectória de cada uma delas em busca da outra, através do amor. Daí que a sua poesia se reconheça dentro de uma belíssima definição do erotismo dada por Bataille: «uma imensa aleluia perdida num silêncio sem fim» (O Erotismo, 1957).
Nesta obra poética, marcada por uma invulgar coerência, espelha-se uma concepção de poesia profundamente intimista e feminina, alimentada pela crença no amor único e recíproco, como forma absoluta de negar a violência da morte e a inconstância dos afectos humanos. [...]
Maria João Reynaud, in Vozes e Olhares no Feminino, Edições Afrontamento, Porto 2001, pp. 32 - 34
Nesta obra poética, marcada por uma invulgar coerência, espelha-se uma concepção de poesia profundamente intimista e feminina, alimentada pela crença no amor único e recíproco, como forma absoluta de negar a violência da morte e a inconstância dos afectos humanos. [...]
Maria João Reynaud, in Vozes e Olhares no Feminino, Edições Afrontamento, Porto 2001, pp. 32 - 34
ao pé da tua boca
Desfalecer a pele do sorriso
Sufocar de prazer com o teu corpo
Trocar tudo por ti se for preciso.
Maria Teresa Horta
Retenho com os meus dentes
a tua boca
entreaberta
e as palmas das mãos
dormentes
resvalam brandas e certas
As tuas mãos no meu peito
e ao longo
das minhas pernas
Maria Teresa Horta
Não sei como consigo
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia
é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia
perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia
poder amar-te ainda
um outro tanto
Maria Teresa Horta
Não contes do meu vestido
que tiro pela cabeça
Nem que corro os cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu novelo
nem da roca de fiar
Nem o que faço com eles
a fim de te ouvir gritar
Maria Teresa Horta
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