Há coisas que para mim são totalmente incompreensíveis nos negócios que se vão abrindo pela cidade de Lisboa e arredores. Não falo das outras cidades e recantos deste pequeno Portugal, porque obviamente não os conheço dado que não viajo assim tanto, mas parece-me que acontece o mesmo que em Lisboa e seus arredores.
Entrou na ordem do dia a palavra empreendedor e vai daí muitas pessoas, começaram a investir as suas economias em negócios cujo conceito passa por alguma originalidade, pois só assim conseguem vencer neste mundo plenamente globalizado em que meio mundo copia o outro meio.
Há dias o R.Araújo Pereira teve uma rábula em que "gozava" com a abertura exagerada de "Hamburguerias Gourmet". Não tinha visto essa rábula, mas como posso andar para trás alguns dias nos programas que dão na televisão e alertada por uma amiga que ele tinha tido imensa graça fui ver e de facto é do melhorzinho que este humorista tem vindo a fazer no seu quotidiano programa "Melhor que Falecer".
Evidentemente que tal como expus mais acima, toda a gente tenta inovar nos seus grandes, médios e pequenos negócios e quando alguém faz isso e ganha alguma projecção, há uma tendência para o copianço e quem tem algumas massas investe rapidamente no mesmo conceito e o resultado é a proliferação até à náusea de restaurantes todos iguais e é isso mesmo que vem acontecendo com as ditas hamburguerias guormet.
Contudo, há outros negócios também no campo da restauração que ainda tentam ( e por vezes conseguem-no bem, sem que saibamos bem como) não seguir a via do copianço mas a via da renovação de um conceito já existente.
Então fazem assim. Abrem um restaurante em que o que é servido é do mais banalíssimo que se pode comer, conseguem por via de conhecimentos vários que o mesmo seja bem conhecido na praça e como a nossa "praça" é bem pequenina rapidamente a coisa torna-se conhecida, chamam uns jornalistas para publicitar a chafarica, aparecem tias e tios de tudo o que é canto para a inauguração e a dita "boca livre", e passar a palavra aos restantes indígenas, para compor o ramalhete e correr com gente indesejável os preços são exageradamente altos, mandam vir do estrangeiro os matérias essenciais para o funcionamento do negócio, plantam-no num sitio onde ainda há alguns resquícios de gente com algum dinheiro na carteira, contratam umas pobres coitadas de um modo geral gente de leste que é do melhor para trabalhar e estar calado, metem num espaço mínimo o máximo de mesas, decoram a coisa de uma forma minimalista, (no mínimo está o máximo) colocam a lista toda em bilingue, dão um nome que fica no ouvido e...voilá, temos restaurante sempre a bombar.
Num belo dia, cheia de curiosidade, resolvo lá ir. Mesa? Espera por uma e não bufes!
Há livro de marcações como aqueles que se vê nas séries americanas e depois do adequadíssimo tempo de espera, aparece então alguém que nos acompanha à nossa mesa.
Vem a lista, com a particularidade acima descrita e passando os olhos por toda ela vemos que os preços não são para o Portugal de hoje, mas como ninguém me obrigou a lá ir...alma até almeida, já dizia a minha avô.
Bem, depois de fazer os pedidos, e tendo sempre o cuidadinho de não pedir nada que me faça ficar depenada para o resto do mês, espero uns tempos vendo o panorama geral e quando vem a comida...bem aí a desilusão começa a assentar os seus arrais, pois se o que vemos é pouco o que comemos é do mais banal e pobrezinho que se pode imaginar.
Nada na comida é inovador, nada faz com que a experiência seja repetível, não há uma centelha de vida e ânimo nos alimentos, tudo é vazio e desinteressante. No fim...bem no fim...é pedir a contona e zarpar dali para fora o mais rapidamente possível.
Que haja gente empreendedora bato palminhas, mas na restauração a inovação do espaço deve (na minha modesta opinião) vir sempre acompanhada da inovação gastronómica e quando esta não existe, então que se faça boa comida e que a mesma venha em consonância com aquilo que se vai pagar no fim. Em muitos desses novos negócios de restauração isso não acontece e é uma pena. Pagamos muito comemos mal e em muitos sítios é-se mal servido.
Muitos deles ficam imediatamente condenados a ver os seus dias contados, outros vão sobrevivendo a custa de conhecimentos vários, típicos de um país muito pequeno e onde quase toda a gente se conhece e os favores são pagos com outros favores.
No fim e a caminho de casa só pensava que o lema de muitos desses negócios é:
"Cria fama e deita-te na cama a dormir", o que não deixa de ser um desconsolo.
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