Uma cena de costumes da época?
Representação religiosa ou condenação sócio-política?
Oficialmente o artista representa um tema religioso muito difundido na época do Barroco. Na metade inferior da pintura, vemos um nutrido grupo de aldeões que leva a cabo, com popular afã, actividades que denotam a sua precaridade: vestir pessoas nuas, dar de comer a famintos, visitar doentes...em suma, misérias quotidianas. Na metade superior do quadro, vemos construções simples, divididas em dois grupos na rua principal. Essas construções denunciam a pobreza de quem lá vive.Para mostrar o interior da casa Brueghel utiliza um habitual recurso da pintura de quatrocentos: as casas aberta, como vemos nos quadros das Anunciações da Virgem. Só que no seu interior não há uma jovem Maria, nem aquele que entra é um anjo anunciador da vida. A imagem do anjo que cruza o umbral sugere...a morte!
Ao fundo, uma paisagem...desoladora.O artista povoa este quadro de todo um conjunto de minúcias, que preenche com cores viva, sobre fundos em tons terra, realçados pelo frio azul do céu. Centrada no meio da composição a velha mais andrajosa dá a mão a uma criança.Enfatiza-se também nesta obra o patético de um paralítico que se arrasta para chegar à comida existente nuns delicados cestos de pão, através dos quais Brueghel, não parece ter outra intenção, senão a de executar uma magnífica natureza morta!
É uma imagem do patético social.
Num mundo presidido por tamanha mendicidade, a solução não parece estar na misericórdia pontual. Sob uma aparência de costumes e de um título religioso, Pieter Brueghel denuncia mais a miséria do que anuncia a caridade!
Um quadro magnífico.
Esta obra de Pieter Brueghel, denominada de "Obras de Misericórdia", tem 41,5x56cm é Óleo sobre madeira e pode ser vista no Museu de Arte Antiga em Lisboa.
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