A ingenuidade e a bondade humana sempre me fascinaram, assim como a inocência das pessoas adultas.Digo pessoas adultas, porque criou-se a ideia, que os adultos devem ter a 'pestana' sempre aberta e a não acreditar em de metade daquilo que ouvem.Nos dias que correm é idieia 'sine quo non' ninguém acreditar em ninguém!No que se refere às crianças e até aos adolescentes é-lhes permitido uma atitude de ingenuidade, que em adulto não 'cola' com a vida que levamos no nosso quotidiano.Exige-se que estejamos sempre alerta em relação aos demais, e esse estar sempre alerta, inclui uma série de esquemas, como não acreditar,desacreditar, duvidar, pensar que metade do que o outro diz pode e talvez seja mentira,a mais pura efabulação, produto da imaginação, fanfarronice, gabarolice, enfim...por tudo o que nos é dito devemos partir sempre do princípio que metade pode ser uma grande aldrabice.Os factores a que levam o ser humano a agir desta forma, são inúmeros, e o facto de 'meio mundo andar a enganar o outro meio' não é alheio a isso.Então, o que acontece, é que no local de trabalho, nas relações circunstanciais (ou não tão circunstancias assim) com colegas, nas relações de amizade, somos quase que 'obrigados ' a desconfiar daquilo que nos é dito. Penso que até nem é tão mau assim (desde que não seja levado ao exagero) pensarmos que o que os outros dizem pode não ser bem assim, mas o mais trágico é quando essa desconfiança entra portas adentro nas relações de amizade e nas relações amorosas.Quando uma mulher ou um homem, desconfiam sistematicamente do outro, e essa desconfiança passa até pelas mais simples palavras que ambos trocam constantemente, penso que entramos no campo da esquizofrenia pura, contudo, é isso que actualmente se está a passar.Ninguém acredita em ninguém, homens deixaram de acreditar em mulheres, mulheres em homens e ambos os sexos não acreditam no que amigos, conhecidos e demais seres vivos e racionais que os rodeiam possam dizer ou até fazer.É a desconfiança total. Obviamente e inevitavelmente essa desconfiança passou a ser extensível aos nossos superiores hierárquicos porque, " o que agora é verdade, amanhã já é mentira", e assim vamos vivendo de uma forma mais ou menos confortável e nem nos apercebemos o quanto isso é trágico. Cada um vive pensando que aquilo que o outro diz pode nem ser verdade, sem que contudo haja indícios que assim o seja, apenas porque, o melhor é desconfiar para depois não ser apanhado de surpresa.Também, o facto de nenhum de nós querer ser surpreendido por algo de desagradável, faz com que dentro da rotina esteja sempre omnipresente a dúvida e a hipotética mentira.A ingenuidade desapareceu das relações sociais, porque parte-se sempre do princípio que pode nem ser verdade, pode ser exagero e as coisas não são assim como eu estou a contar ou como eu ouvi contar. Chegou-se ao ponto de estarmos a contar algo que ouvimos contar de um amigo e o nosso ouvinte não acreditar que aquilo que estamos a contar do nosso amigo é verdade, porque é impossível que assim seja, ninguém procede assim, ninguém age dessa forma, e surge o inevitável conselho...'olha abre bem a pestana..porque senão vais é ter muitos desgostos...estou a avisar-te, como amiga/o'!Que fazer então? Talvez viver tendo sempre como lema que aquilo que eu digo e aquilo que eu oiço, faz parte de uma pequenina parcela de verdade, resquícios de uma ingenuidade e inocência a que todos nos devemos apegar, sob pena de de pensarmos que vivemos uma trágico-comédia sem fim à vista e que no fundo é representativa das nossas vidas rotineiras.
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