quinta-feira, abril 08, 2010

Tintoretto - 'Caim e Abel' e 'Paraíso'


Jacopo Comin, mais conhecido por Tintoretto nasceu em Veneza em 1518 e morreu na mesma cidade em Maio de 1594. Foi um dos pintores mais radicais do Maneirismo. Devido à sua energia fenomenal em pintar, foi chamado Il Furioso, e a sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. O seu pai, Battista Comin, era tintore (tingia seda), o que lhe valeu o apelido. Também era conhecido como Jacopo Robusti.
Na infância, Jacopo, um pintor nato, começou a decorar as paredes da tinturaria do seu pai. Vendo seu talento, o pai levou-o à oficina de Ticiano, na época com mais de cinquenta anos, para o filho aprender o ofício. Dizem que o mestre ficou pouco tempo com ele, por ter percebido o talento e a independência do garoto, o que faria dele um pintor, mas não um bom aprendiz. Tintoretto estudou então por conta própria, observando as obras dos grandes mestres. Foi sempre um grande admirador da obra de Ticiano, e mais tarde adotou como lema no seu estúdio a frase 'O desenho de Michelangelo e a cor de Ticiano'.Os seus dois primeiros trabalhos foram murais descritos como 'A Festa de Balthasar' e 'Carga de Cavalaria'. O seu primeiro trabalho a ter repercussão foi um retrato dele e seu irmão com um efeito noturno, e tal como aconteceu com os seus primeiros trabalhos também este se perdeu com o tempo. Uma das pinturas iniciais ainda existentes está na igreja de Carmine, em Veneza, a 'Apresentação de Jesus no Templo'. Em São Benedito estão 'A Anunciação' e 'Cristo e a Mulher de Samaria'. Para a Escola da Trindade (na verdade um hospital e asilo em Veneza) ele pintou quatro passagens do Gênesis, duas delas, 'Adão e Eva' e 'Caim e Abel', actualmente na Academia Veneziana, mostram um trabalho nobre e de alta maestria, que não deixam dúvidas que Tintoretto nessa época já era um pintor consumado, um dos poucos que conseguiram reconhecimento sem uma aprendizagem formal . Durante o ano de 1546, Tintoretto pintou para a igreja da 'Madona do Horto' três de seus melhores trabalhos, 'A Confecção do Calf Dourado', 'Apresentação da Virgem no Templo' e 'Último Julgamento'. Esta igreja em estilo gótico em Fondamenta dei Mori, próxima a Murano, Veneza, existe ainda. Em 1548 recebeu a encomenda de quatro quadros para a Escola de São Marcos onde pintou 'Encontrando o Corpo de São Marcos em Alexandria' (actualmente em Murano), 'O Corpo do Santo trazido a Veneza e Votos do Santo' (ambos em Veneza, na biblioteca do palácio real) e finalmente 'O Milagre do Escravo', celebrada obra que é uma das glórias da Academia Veneziana, representa a lenda de um escravo cristão torturado em punição por devoção ao santo e salvo por um milagre. Estes quatro trabalhos foram recebidos com grande entusiasmo pelos seus pares e não só.Com esses trabalhos terminaram para Tintoretto os seus tempos de de obscuridade . Era conhecido e abastado, o suficiente para casar com Faustina de Vescovi, filha de um nobre veneziano. Ela foi uma boa esposa, que conseguia aturar o seu gênio intratável e deu-lhe dois filhos e cinco filhas. A próxima encomenda foi pintar as paredes e tectos da Escola de São Marcos, obra de enorme esforço e auto-aprendizado para Tintoretto, que pode ainda ser vista como uma homenagem brilhante a seu próprio gênio. O edifício foi iniciado em 1525 e era deficiente em iluminação. A pintura começou em 1560, após vários pintores, incluindo Veronese terem sido consultados. Tintoretto assegurou a obra doando um quadro, 'São Rocco recebido no Céu'. Completou então a primeira sala. Em 1565 reiniciou os trabalhos com 'Crucificação', 'A Praga das Serpentes', 'Festividades da Páscoa' e 'Moisés quebrando as Tábuas da Lei'.
Contudo, a obra que coroaria o seu trabalho denominou-a de 'Paraíso' considerada a maior pintura jamais feita sobre uma tela, pelo seu enorme tamanho. É estupenda pela escala, pela pureza da inspiração da alma, com apaixonada imaginação visual e uma mão mágica para as formas e cores que desafiou os especialistas por três séculos. Tintoretto trabalhou na obra em estúdio, levando-a para o local definitivo e dando os retoques finais com a ajuda de seu filho Domenico. Toda Veneza o aplaudiu, foi considerada uma obra prima até hoje inigualável em tamanho,pormenor, cor e grandiosidade! Depois de completar o 'Paraiso', Jacopo Robusti começou uma vida mais descansada, não realizando mais nenhum trabalho relevante, e passou a sua velhice descansando.Sabe-se que teve pouco pupílos. Morreu em 31 de Maio de 1594 de uma doença que começou como uma dor de estômago, seguida de febre. Foi enterrado na igreja da madona do Horto, ao lado de sua filha Marietta, ela mesma retratista e música, que trabalhou como assistente do pai vestida como um menino. Em 1866 a tumba dos Vescovi e Robusti foi exumada e encontrados restos de nove membros da família. Além dos filhos, teve poucos pupilos. Existem influências de Tintoretto na obra do contemporâneo Veronese e na do espanhol El Greco, que conheceu sua obra numa viagem a Veneza.Para além da obra 'Paraíso', ilustro também aqui a obra 'Caim e Abel' ,na qual Tintoretto abordou o tema dos filhos de Adão e Eva. Este episódio é narrado no Génesis. Ambos os jovens fazem oferendas a Deus, enquanto Caim lhe dá produtos da terra, Abel oferece-lhe um dos animais do seu rebanho. Deus aceita com benevolência a oferta de Abel, tendo rejeitado a de Caim, enfurecendo-o enormemente. Caim, furioso, com a atitude de Deus, revolta-se levando o seu irmão Abel para o campo, matando-o. Desconhece-se com que arma cometeu o crime, pensa-se que o matou com uma pedra.O momento que Tintoretto ilustra é precisamente o momento do fraticídio. Parece que utiliza uma enxada, podadeira ou uma marreta para levar a cabo o seu crime tão assombroso. A cena, de uma grande agressividade, apresenta a figura de Abel iluminada, enquanto Caim aparece representado envolto numa certa penumbra.A figura de caim, inclinada sobre o seu irmão Abel, apresenta uma musculatura rígida e um rosto repleto de ira. À direita da composição encontra-se um cordeiro que dirige o seu olhar terno e inocente para a cena em que o seu fiel amo e pastor está prestes a perder a vida.Um quadro magnífico e terrífico ao mesmo tempo e que ao olharmos para ele não deixamos de sentir um certo mal estar e tristeza pelo que ali está a decorrer!.Esta obra de tintoretto denominada de "Caim e Abel", é Óleo sobre tela, foi realizada em 1550/1553, e pode ser vista na Galeria da Academia em Veneza.


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