Pastora a Tecer |
Na primeira obra que aqui surge denominada de "Pastora a Tecer", (realizada por volta de 1858/1860), J.F.Millet aborda o tema da pastora no campo.Contudo, nesta tela, a pastora está a tecer um casaco, não estando, por isso, atenta ao seu rebanho.A jovem está vestida com uma capa tradicional de camponesa, que faz conjunto com o lenço que cobre a cabeça, e com socas de madeira, vestimenta que começou a ser substituída pelas capas de soldado, algo que perturbou profundamente o artista. Junto à pastora, podemos ver o seu cajado, que está pousado no chão. O local onde se passa esta cena é uma floresta densa, cujas árvores parecem proteger a pastora, deixando-as numa tranquilidade absoluta.Tal como na obra que abordarei mais a baixo,"Pastora com seu Rebanho", Millet utiliza aqui uma cor diferente à que impera em toda a sua pintura, (isso é visível na saia azul da pastora), conseguindo deste modo, cortar a monotonia cromática do resto da composição. O rosto da jovem, levemente corado, reflecte a concentração na tarefa que exerce, como que esquecida das suas funções e do local onde se encontra.Não vemos o rebanho, supomo-lo pelo cajado e pela vestimenta da jovem e é esse factor, aliado ao alheamento da pastora, que torna esta obra tão interessante e ao mesmo tempo solitária,triste e melancólica.
Pastora com o seu Rebanho |
Na segunda obra que aqui podemos ver denominada de "Pastora com o seu Rebanho" (realizada por volta de 1863/64),Millet mostra-nos mais uma vez uma pastora cuidando do seu rebanho, sob um céu banhado por uma luz amarelada, característica do entardecer. Aqui, e ao contrário do que acontecia na obra anterior, a pastora cuida atentamente das suas ovelhas, enquanto dirige o olhar concentrado para o chão. A postura da jovem assemelha-se, pela meditação profunda, à da mulher que protagoniza a obra "Angelus" que aparece na terceira obra aqui exposta.Parece absorta nos seus pensamentos mais profundos, enquanto o rebanho e o próprio cão, estruturado com numa zona triangular, está em consonância com os seus pensamentos permanecendo em silêncio.As ovelhas como que pastam silenciosamente e o cão limita-se a olhar para elas.O tempo parece suspenso e todo o quadro parece concentrar-se no rosto desta jovem oculto na sombra.No fundo ele é apenas mais um exemplo da tranquilidade que emana do resto da composição.É interessante observar como o lenço vermelho que cobre a sua cabeça é no fundo a única mancha de cor presente na obra.Por sua vez o céu, embora completamente nublado, está iluminado por uma luz branca que deixa-nos ver uma pequena zona de azul.
Nesta terceira e última obra denominada de "O Angelius" (1857/59), Millet apresenta-nos dois camponeses rezando na hora do Angelus.A luz crespular enche toda a composição, conferindo uma atmosfera de mistério a toda a pintura. O homem e a mulher pararam a sua actividade no campo para louvar a Deus. Não se trata de uma cena comum e, talvez por isso, Salvador Dalí pensou que a obra possuía um significado oculto que ele próprio desvendou, graças à invenção e ao desenvolvimento do chamado método paranóico-crítico.Este método foi acolhido com um grande entusiasmo pelos membros do grupo surrealista de Paris, especialmente pelo seu ideólogo André Breton.O significado da obra relaciona-se,segundo Dalí, com o conteúdo fortemente sexual da mesma!.A cena decorre no campo e os camponeses encontram-se de pé, em primeiro plano, enquanto que, ao longe, distingue-se perfeitamente a linha do horizonte.O carrinho de mão carregado de sacos, mesmo atrás da mulher, alude segundo a famosa interpretação de Dalí ao movimento do próprio acto sexual.Perante a insistência de Dalí, o Museu do Louvre, onde se encontrava esta obra,(está agora no Museu D'Orsay), decidiu fazer uma radiografia ao quadro, comprovando-se que por baixo do cesto, está uma mancha preta quadrada que poderia corresponder a um pequeno caixão que poderia conter o corpo, sem vida do filho dos camponeses.Tirando estas considerações exotéricas acerca desta pintura, vemos que Millet não foge aqui ao seu estilo, realizando mais uma vez uma obra singela mas ao mesmo tempo extremamente densa na sua quietude, paz e silêncio.Todas estas magníficas obras são óleo sobre tela e podem ser apreciadas no Museu D'Orsay em Paris.
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