Numa visita ao Museu do Prado, chamou-me a atenção uma tela do pintor espanhol, Juan Carreño de Miranda com um título absolutamente horroroso de, "A Monstra Eugenia Martinez Vallejo". Para além do nome da tela o que me impressionou foi a quantidade de gente que tecia comentários de muito mau gosto acerca da personagem ali retratada. Um grupo de miúdos que pareciam estar ali em visita de estudo riam-se e diziam parvoíces completamente alarves , típicas da idade, mas ao mesmo tempo não 'desgrudavam' dali, posto que a tela parecia exercer sobre eles e sobre quem a via uma espécie de magnetismo quase que doentio.
Procurei saber mais sobre a mesma e o que descobri foi que para além de deste pintor gostar muito de usar uma paleta de cores em que o vermelho predomina sempre e em que aqui nesta em especial esta cor domina toda a tela, era também um admirador da obra de Rubens e Van Dick pelas formas arredondadas de alguns dos personagens que retratou em que aqui vemos o expoente máximo.
Era costume os infantes de Espanha estarem rodeados de uma série de personagens que os acompanhavam nos jogos da Corte. De uma maneira geral eram anões e de outros indivíduos com deficiências várias. Esses seres acabavam por fazer parte da corte e acompanhar as figuras reais ao longo das suas vidas. Eram também motivo por vezes de grande admiração e como a deficiência ainda não era vista como é hoje em dia estas pessoas e as suas deficiências acabavam por ser vistas como algo quase sobrenatural e dignas de serem observadas e mostradas na Corte.
No caso em apreço Juan Miranda retrata Eugénia Martinez Vallejo, mais conhecida como "A Monstra, devido à sua avantajada figura e baixa estatura. Eugénia fazia então parte da Corte governada por Carlos II. Ora o que faz o pintor para a retratar?
Evitando o máximo as cores sóbrias que caracterizavam de uma forma geral as figuras da Corte ,vai retratá-la com total opulência por meio de um vermelho incrivelmente garrido, sobressaindo essa cor através de pinceladas muito bem executadas e em que vemos o luxo do brocado do vestido.
É através desse mesmo vestido, que vemos o apreço que na Corte se chegava a ter por essas pessoas Não bastando isso ainda coloca dois laços vermelhos na cabeça e carrega na cor das suas gordas faces. Até a peculiar forma arredondada dão seu rosto é um ponto bastante atractivo ao nosso olhar.
A única nota sóbria é o olhar da personagem retratada que olha para nós com uma altivez absolutamente irresistível.
Acresce a isso que esta personagem foi também retratada nua pelo mesmo pintor, com uma parra de videira a tapar-lhe o sexo e possui uma escultura em bronze na cidade de Avillés, criada pelo artista Amado Gonzalez Hevia, (1997) pretendendo assim homenagear o pintor J.Carreño de Miranda nascido nesta cidade de Espanha.
A tela acima indicada é um óleo sobre tela e pode ser observado no Museu do Prado em Madrid.
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