segunda-feira, setembro 09, 2013

Two Mothers

Este filme que vos vou falar hoje  já está em exibição há algum tempo. Não me despertava muito interesse em o ir ver e mesmo dando uma espreitadela no youtube o trailer não me incendiava a alma cinematográfica. Estou a referir-me ao  Two Mothers que em Portugal recebeu a denominação de Paixões Proibidas. Contudo, há pouco tempo fui jantar com duas amigas e as mesmas que já o tinham visto, puseram-se a dissertar sobre o mesmo com tanto entusiasmo e com tanta paixão, tirando cada uma delas ilações tão interessantes que o raio do filme começou a despertar o meu interesse. O guião deste filme é tirado de um livro de Doris Lessing, escritora laureada com o prémio Nobel de literatura, o  filme é  australiano, realizado por uma mulher, Anne Fontaine de seu nome, e que por mais estranho que pareça, ou talvez não, a mesma viveu durante muitos anos em Portugal, sabe falar português e é uma pessoa simpatiquíssima, para além de ter sido bailarina aqui e em França. Abandonou a dança para se dedicar ao cinema mais concretamente à realização.
 O filme, parte de uma história verídica que a escritora Doris Lessing quis passar para o papel, situado num recanto quase isolado da vasta Austrália, um lugar quase intocado pela sociedade e por isso sem o julgamento dessa mesma sociedade. É aqui que essas duas mães do título  do filme 'pecam' e fazem-no com o filho de cada uma delas, num quarteto muito fechado, de uma dimensão claustrofóbica e que no fim sabemos que nunca terá fim, será um eterno 'never end' que nos faz sair do cinema extremamente ,pois num só plano visto de cima e conforme a câmara de filmar se vai afastando vemos o que será o quotidiano daquelas pessoas e nada mais haverá  a não ser o eterno retorno.
 No fim a mim só me apetecia apanhar ar fresco, sair desse mundo claustrofóbico e circular, e foi isso mesmo que fiz logo que saí da sala. Apesar de ser um filme muito tumultuoso a nível das emoções em jogo, quem for ver este Duas Paixões deparar-se-á com uma obra  estranhamente  serena e nessa serenidade está escondido algo que já não é amor, é talvez paixão no seu sentido mais puro, mas essa paixão não explica muito do que ali se passa, pois perpassa por ali uma grande complexidade de sentimentos.
Nos papéis dessas duas mães, temos uma Naomi Watts, uns pontos abaixo daquilo que a actriz é capaz, contracenando com uma fabulosa Robin Wright, esta sim, em perfeito estado de graça. Robin Wright está perfeita num papel, muito difícil tanto para uma como para a outra, posto que em grandes planos, frente ao espelho as rugas a pele flácida, é posta a cru, numa prova cabal que a idade não perdoa e se o corpo ainda clama por grandes paixões, há sempre duas ninfetas para dois deuses (assim elas denominam os seus filhos) e contudo...essas mulheres maduras e unidas numa amizade para o bem e para o mal possuem algo, que fazem com que nos sintamos unidas a elas, compreendemo-las e o pior é que aqueles filhos também as compreendem e as amam ao ponto de expulsar do seu lado as suas legitimas esposas, num desfecho final que só poderia ser aquele e mais nenhum. Para além dessas duas mulheres temos também aqueles dois filhos, irmanados numa amizade idêntica à das mães, surfando, brincando na praia, dois meninos que crescendo no corpo mas não na mente, vivem uma homossexualidade sempre latente e que num futuro acabará por ser assumida como destino final.
 Naquelas casas, e naquela praia ficam encerrados segredos e sabemos que  aquela plataforma colocada a uns duzentos metros da praia é o mais longe que algum dia eles poderão ir. Estão enraizados ali e ali ficarão para sempre, quais deuses satisfeitos com a sua promiscuidade, falta de juízo moral e isolamento. E nós saímos dali, não os condenando, apenas precisando de respirar algum ar puro.Um filme fantástico.

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