Há pouco tempo estava a ver noite adentro (insónias) um filme que já apanhei a meio e que não quis voltar para trás para ver desde o inicio porque estava chateada por não conseguir dormir que quedei-me a vê-lo a partir do ponto em que o mesmo ia.
Lentamente fui-me deixando absorver pelo mesmo, porque o que ali estava era o tema das viagens no tempo e em que a páginas tantas o personagem principal , dava por si a retornar ao seu passado, para emendar o que tinha feito no futuro, num processo tão repetidamente esquizofrénico, que a sua identidade passado, presente e futuro, ia-se diluindo sem que o mesmo já soubesse identificar o seu Eu, procurando por isso encontrar através das suas memórias algo a que se pudesse agarrar, mas duvidando continuamente das mesmas, num looping eternamente repetitivo.
No dia seguinte enquanto ia para o trabalho comecei a pensar naquilo a que chamamos Eu e se o mesmo é apenas e só uma construção linguística ou vai mais além disso.
De facto, penso que este Eu consiste na opinião que formamos acerca de nós mesmos, que é, em grande medida,
definida pela educação, e pela sociedade onde nos inserimos.
Criamos, sobre o Eu natural e inconsciente, um Eu
discursivo, que nasce da confrontação com o que conhecemos de nós próprios.
Conhecemo-nos através de memórias e de conceitos
anteriormente imbuídos na nossa mente,e é através dela que damos uma resposta, seja emocional,
intelectual, etc., que contribuirá, postumamente, para outras análises.
Construímos, pouco a pouco, uma individualidade linguística, e quanto maior for o grau
de imparcialidade de que formos capazes, tanto mais independente se torna este
novo Eu, a ponto de pormos em causa, eventualmente, a responsabilidade pelos
nossos próprios actos, tal como acontecia no filme, visto esses atos poderem ser anulados numa viagem ao passado.
Com efeito, as experiências passam a valer pelo que revelam
de nós mesmos, e, regressando a elas, podemos sentir a cisão entre aquele que
olha, e aquele que é olhado. Podemos não nos reconhecer no que fazemos, em
geral porque o que fazemos pode estar em desacordo com os ideais que se vão
formando, em segredo (ou não), ao longo de toda a educação e interacção com o meio
socio-cultural.
Nasce, aqui, o esforço supremo do homem, definido por Nietzsche
como a “vontade de vontade”.Assim o meu Eu, acaba por ser aquilo que eu penso que sou, mas formatada por aquilo que os outros querem que eu seja, num processo contínuo de vivência social.
1 comentário:
E como se chamava o filme?
(parece-me que o meu "eu" entra na categoria do que não encontro palavras para definir - também não procurei propriamente fazê-lo - mas vejo-o ou sinto-o como algo que reconheço para além da forma como reajo ou represento perante os outros)
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