Com realização de Emmanuelle Bercot e com as magníficas prestações de Catherine Deneuve e um fantástico Rod Paradot ( seu primeiro filme), Benoit Magimel, Sara Forestier,Diane Rouxel, está em exibição em Portugal desde há uns tempos o imperdível filme francês, "De Cabeça Erguida".
Filme de Abertura do Festival de Cannes em 2015 e vencedor de alguns prémios como é o caso do César (2015) traça o retrato de Mallony Ferrando um adolescente que desde os seis anos é institucionalizado, ficando a cargo do Estado mais concretamente de uma juíza, papel desempenhado magistralmente por Catherine Deneuve.
Durante duas horas o que ali vemos é a lento e desesperante trabalho de um conjunto de pessoas para trazer este jovem para o seio da sociedade.
Não há facilitismo, pois o que aqui se procurar mostrar é que este percurso é extremamente duro, penoso, violento, doloroso ,muito desesperante e com constantes recaídas por parte de quem vive mergulhado numa raiva quase surda em relação a uma sociedade que os não aceita e isso perpassa por todos os jovens que vemos naquele centro de detenção juvenil onde a violência irrompe constantemente por "dá cá aquela palha".
Ali há negros, árabes, asiáticos, europeus, jovens rapazes que vivem constantemente no fio da navalha e a um passo da prisão e quando esta se dá muitos deles acabam por mergulhar num poço sem fundo terminando nesse sítio a sua aprendizagem marginal. Quando finalmente saem, passam infelizmente a engrossar as estatísticas de delinquentes que pululam as sociedades dos nossos dias.
Em De Cabeça Erguida assistimos ao drama bastante penoso de Mallory que está em conflito com toda a gente e principiante com ele próprio.
Vive permanentemente em fúria.
Parece que odeia tudo e todos e odeia-se principiante a sim próprio.
Perdeu-se o número de tutores que já teve. Vemos no início que os agride e só ganha amizade e respeito por um ( o magnifico Benoit Magimel) que o irá enfrentar pois também ele já foi um "Mallony " e conseguiu sair de cabeça erguida.
Perdeu-se o número de tutores que já teve. Vemos no início que os agride e só ganha amizade e respeito por um ( o magnifico Benoit Magimel) que o irá enfrentar pois também ele já foi um "Mallony " e conseguiu sair de cabeça erguida.
A própria relação que mantém, com a mãe (uma mulher totalmente desestruturada) é conflituosa, uma mistura de amor/ódio.
Ama o irmão mais novo e parece-nos que a única pessoa que respeita no mundo é a juíza que o institucionalizou quando foi abandonado pela mãe.
Respeita-a porque sabe ela é a única que sempre se interessou por ele. Manda-lhe postais ilustrados do centro de detenções e alegra-se quando vê na sua secretária a pedra que ele lhe ofereceu.
É semi analfabeto, pois abandonou sempre a escola. Ensiná-lo a ler e escrever é um trabalho hercúleo, só digno de ser feito por quem tem uma paciência de santo.
A sua raiva não o deixa atinar. Não relaxa, as mãos estão sempre fechadas.Os actos sexuais que tem com a namorada são sempre violentos e tumultuosas por mais carinhosa que ela tente ser.
Parece que de um momento para o outro vai sair da tela e esmurrar-nos.
O pontapé que dá na mesa e atinge a educadora grávida atinge-nos também como espectadores.
Incrível tudo o que faz e o pouco que diz.
Pouco fala porque traduz o que sente em actos. Rouba carros, guia como um louco e espatifa-os.
Quer ser tatuador mas não sabe desenhar. Há a anotar que ali naquele centro de detenção juvenil ninguém quer trabalhos humildes. Todos querem ser grandiosos mas quase todos não sabem ler e escrever. Mallory também quer ser grandioso mas nada faz para isso.
Quer ser tatuador mas não sabe desenhar. Há a anotar que ali naquele centro de detenção juvenil ninguém quer trabalhos humildes. Todos querem ser grandiosos mas quase todos não sabem ler e escrever. Mallory também quer ser grandioso mas nada faz para isso.
Quase no fim do filme quando está a ser massajado pela terapeuta é aí que pela primeira vez o vemos baixar a guarda, abrir as mão e relaxar quase totalmente.
Contudo, os actos de violência não o largam e a juíza manda-o para a prisão. Aí acalma e começa a criar objectivos de vida.
Ao contrario da maioria dos filmes americanos que abordam o problema da delinquência, aqui não há happy end. Mesmo quando o vemos percorrer o Palácio da Justiça finalmente livre e com o filho ao colo, interrogamo-nos se de facto ele está apto a viver em sociedade ou se aquele ciclo de violência não se perpetuará sempre...
A cena de despedida entre ele e a juíza onde esta diz que se vai reformar é sintomática do desgaste de todo um sistema pedagógico e judicial que trabalha dia após dia e sem grandes meios para trazer centenas de jovens marginais a uma sociedade que pouco ou nada lhes diz.
Um filme soberbo, que nos faz pensar nesta sociedade em que vivemos e que no fim nos deixa com um sabor amargo na boca.
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