Há dias estava a ler uma crónica de João Miguel Tavares no seu blog Pais de Quatro e na introdução ao seu texto este referia uma reflexão do prémio Nobel da Literatura recentemente falecido Gabriel García Marquez a propósito das discussões entre os casais:
"Quando nos casais as pessoas se zangam, há quem diga que devem falar um com o outro, esclarecer tudo exaustivamente, até ao fim; pois eu dou o conselho oposto: quando há um problema no casal, um mal-entendido, uma zanga, o melhor é não falar e deixar passar um tempo. A conversa só vai agravar a situação."
Fiquei a matutar neste texto, pois a meu ver o mesmo ia ao arrepio de tudo o que eu poderia pensar do autor, pois sendo um belíssimo escritor era suposto pensar que gostaria de ter sempre as coisas esclarecidas e bem argumentadas até ao mais infímo pormenor, e mandando o texto para um amigo meu ele opinou , escrevendo-me o seguinte:
"Quanto a ser o silêncio mais benéfico que a conversa, são
opiniões. Acho que depende das resistências, das imunidades.A conversa pode provocar episódios agudos, o silêncio causa
doenças degenerativas. Cada um escolhe consoante o seu feitio. Porém, ambas as
hipóteses são potencialmente letais. A vantagem do silêncio é que mata mais
lentamente e com menos alarido. A desvantagem é que, enquanto a conversa
oferece um interlocutor, mesmo que aguerrido, o silêncio acaba por nos fazer
compreender que estamos irremediavelmente sós. Há uns que se resignam, outros
não. Mas quando se chega a um certo ponto crítico, onde a vida se bifurca,
para os conversadores ainda existe uma réstia de esperança, enquanto para os
silenciosos nada haverá a dizer.Ou visto por outro ângulo: quando se briga, ainda importa o
que se diz; quando se prefere o silêncio, virá o dia em que já nem isso
importa.É uma chatice, não é? A vida é tudo menos linear. Cada
escolha tem os seus riscos. E não há nada que sirva par toda a gente".
Fiquei ainda mais confusa do que aquilo que já estava, visto que esse meu amigo também é escritor e como tal possuía outra opinião diametralmente oposta a de García Marquez. Para este último, o silêncio era a melhor forma de superar divergências, para o meu amigo o silencio era como água à solta nas paredes de um edifício. Aos poucos, vai minando os alicerces do mesmo e quando damos por nós está tudo a apodrecer lentamente e só resta das duas uma, ou deixar andar até tudo cair ou então tentar deitar tudo a baixo e reconstruir de novo, mas aquilo que se reconstrói já não é idêntico ao edifício anterior, porque nada depois de reconstruído fica igual, disse-me ele depois em palavras e já não em email, quando lhe pedi que me esclarecesse mais sobre o silêncio e as palavras.
Sendo por norma uma pessoa que fala relativamente pouco, o silêncio sempre me foi muito caro e se a tese de García Marquez é-me muito querida, reconheço que nas relações entre os casais ela talvez não seja a mais adequada porque pode acabar num...deixa andar.
Parece-me que não foi isso que acontecia com os escritor e a sua mulher, a sua única mulher em muitos anos de casamento. Cada caso é um caso, temos de o reconhecer e aqui estamos no domínio dos afectos e como cada ser humano pode e deve lidar da melhor forma possível com os seu companheiro/a.
Quando as pessoas optam por viverem juntas, devem fazer cedências de parte a parte e parece-me que este é o segredo de uma boa relação. Sem cedências nada feito com silêncio ou discussões.
Saber viver em conjunto é uma arte e viver quotidianamente esta arte requer esforços supremos e por isso não deixo de ficar agradavelmente surpreendida por saber que há quem consiga viver meio século com outra pessoa sempre amando-a como foi o caso do casal Gabriel Garcia Marquez e Mercedes Barcha.
E que vivas para sempre Gabriel García Marquez na memória colectiva do teu povo e de todos os povos deste mundo.
E que vivas para sempre Gabriel García Marquez na memória colectiva do teu povo e de todos os povos deste mundo.
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