Foi com muito agrado e alguma perplexidade que vi esta última obra do realizador italiano Paolo Sorrentino, intitulada de "A Grande Beleza", filme que para além de já ter ganho o Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro, está também bem cotado na corrida aos Oscares na mesma categoria e penso que irá ganhar esse prémio merecidamente.
O filme é um objecto estranho, daqueles que ou 'amámos' ou 'odiamos'. Não há meio termo, porque durante 3 horas o que ali vemos é em primeiro lugar uma belíssima cidade de Roma cuja panorâmica inicial da cidade vai ser vista pelos olhos de japoneses o que não deixa de ser paradigmático , posto que Roma é visitada todos os anos por milhões de asiáticos.
Depois é-nos dado a conhecer um dos seus cidadãos, o personagem principal, neste caso em apreço um escritor, Jap Gambardella ( um extraordinário Toni Servilho) que num quente verão e sem qualquer ideia para um novo livro, posto que apenas escreveu um, e sendo jornalista free lancer, passa os dias entre o ócio, festas e raves loucas, e a procura de notícias estranhas para a sua crónica semanal, refletindo sobre sua vida, vazia de qualquer sentido.
De facto, este Jap, tem 65 anos de idade, e desde o grande sucesso do romance "O Aparelho Humano", escrito décadas atrás, ele não concluiu nenhum outro livro. Desde então, a sua vida é passada entre as festas da alta sociedade, os luxos e privilégios da fama que lhe advém do livro. Quando se lembra de um amor inocente da sua juventude, Jap cria forças para mudar sua vida, e talvez voltar a escrever...talvez..... No fim do filme saímos do cinema convencidos( ou talvez não) que irá escrever um novo livro baseado nesses dias de reflexão deste quente Agosto, ou na pior da hipóteses limitar-se a mergulhar de novo nestas festas tão à italiana em que velhos se comportam como garotos de 16/18 anos e os ricos e poderosos, limitam a fazer uma pura ostentação da sua vida desafogada sem pensar no amanhã. Talvez essa segunda hipótese seja a mais viável, porque o que ali há é uma desesperança total, por parte não só de Jap, mas dos que com ele convivem. Quando todos se sentam naquela varanda com vistas para o monumental coliseu romano, o que ali vemos é um grupo de gente rica, que bebendo, comendo e fumando sem fim, nada já têm a dizer, limitando-se a falar da vida alheia, rindo dos infortúnios dos outros, e lamentando aquilo que não fizeram no passado. Roma ali está sempre como pano de fundo, os seus monumentos, as igrejas, conventos, fontes, pontes, padres, freiras, e toda uma fauna de gente que passa os dias procurando algum sentido para as suas vidas. Perpassa por todos os diálogos uma fina ironia do qual Jap é a figura maior.
Umas vezes rimos, outras ficamos pesarosos. É um vazio sempre palpável e no fim quando a câmara de Paolo Sorrentino navega pelo rio nada mais há a dizer ou a fazer. Os dias continuarão sempre iguais e Jap e a sua trupe de gente rica e ociosa ali ficará até que a morte os reclame. Um filme belíssimo.
1 comentário:
Já está na minha lista, nem a música da Raffaella Carrà falta.
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