quarta-feira, julho 25, 2012

Abraham Lincoln

Há coisa de uma semanas atrás fui ver o filme Abraham Lincoln-Caçador de Vampiros. O filme  retirado da obra de Seth Grahame-Smith ( o mesmo autor da obra Orgulho e Preconceito e Zombies) não tem nada de especial e conta-nos as aventuras/lutas que paulativamente o presidente Lincoln teria travado  na sua juventude contra um bando de vampiros que aproveitando-se da guerra civil que dilacerou os E.U.A. teriam como intenção a tomada do poder. O filme começa com a meninice de Lincoln e acaba com a sua saída de casa em direcção ao teatro onde seria assassinado. Obviamente que no filme tudo aponta para que esse assassinato teria a ver com a guerra contra esses seres  travada pelo jovem Lincoln e não com questões rácicas. Não desgostei do filme, considero que o mesmo estava razoavelmente bem realizado, e julgo que quem vai ver esse tipo de filme tem de estar preparado  para muita fantasia, violência, muitos efeitos especiais e grande dose de originalidade. Consta que o próprio Seth Grahame-Smith escreveu o guião e foi o consultor do filme assim como Tim Burton foi o produtor. A realização ficou a cargo de Timur Bekmambetov.
Contudo, o que pretendo aqui escrever não é tanto sobre o filme mas sobre este presidente norte americano. No filme o actor que faz o jovem Lincoln, vai progressivamente sendo caracterizado até chegar à imagem quase icónica que temos deste presidente.
Senti necessidade de fazer esta introdução para abordar aqui a minha admiração por este presidente norte americano, posto que neste filme é-nos dado a conhecer um pouco a juventude de Lincoln e sabendo (penso eu!) que o homem não andou a matar vampiros com um tremendo machado, gostei de ver o modo como este  pautou a sua vida e no fim relembrar aqui aquele que para mim é dos mais belos discursos que algum presidente algum dia proferiu. 
Mas quem foi na verdade A.Lincoln?
Abraham Lincoln, nasceu no Kentuchy o seu pai era agricultor de ascendência inglesa. Lincoln passou a maior parte da sua infância no território de Indiana, para onde a família se tinha deslocado em finais de 1816, devido a um processo judicial de contestação da propriedade que o pai possuía. A mãe morreu no Outono de 1818, tendo Lincoln e a irmã sido educados pela madrasta, Sarah Bush Johnston, mãe de 2 raparigas e um rapaz, com quem o pai se casou no princípio do Inverno de 1819. Lincoln, filho de pais iletrados, teve uma educação muito pouco cuidada, frequentando a escola muito esporadicamente. Em 1842 casou com Mary Todd, mulher com uma sólida educação, pertencente a uma família distinta do Kentucky, e cujos familiares em Springfield faziam parte da elite local. Do casamento nasceram quatro filhos, tendo só o filho mais velho chegado à idade adulta. Com o casamento Lincoln começou a frequentar a igreja Presbiterana local. Sendo considerado um céptico em questões religiosas e um livre-pensador, era um conhecedor profundo da Bíblia, tendo acabado por defender que toda a história era obra de Deus. Paulatinamente Lincoln vai-se integrando na politica e em 1858 tentou ser nomeado para o Senado. A campanha eleitoral deu origem a um conjunto de debates, que abordaram sobretudo o tema da escravatura. Foi nessa época que proferiu o célebre discurso Uma Casa Dividida, em que afirmou que uma «casa dividida não se pode manter», insistindo no tema de que as liberdades civis, tanto dos brancos como dos negros, estavam em causa no problema da escravatura. Os debates não conseguiram fazer com que Lincoln fosse eleito, mas tornaram-no uma figura nacional, e fizeram com que, em 1860, fosse pensado para a Presidência dos Estados Unidos. Na verdade, acabou por ser escolhido como candidato do Partido Republicano, ao fim de três votações, na convenção desse ano. Durante a Guerra Civil a política de Lincoln em relação à escravatura foi-se modificando. Começando por defender a manutenção do statu-quo, isto é, a manutenção da escravatura nos estados em que ela existia, e a proibição da sua expansão para outros estados a posição de Lincoln tornou-se, no fim da guerra, abertamente abolicionista. Com o decreto presidencial de 1 de Janeiro de 1863, que pôs em prática de acordo com o que considerava serem os poderes do Presidente em tempo de Guerra, e que ficou conhecido como a Proclamação da Emancipação, os escravos nos territórios do Sul sob domínio confederado eram libertos. A medida só libertou 200.000 negros até ao fim da guerra, mas mostrou definitivamente que a abolição da escravatura se tinha tornado um dos objectivos da guerra, para além da manutenção da unidade política. A medida, de duvidosa legalidade, foi seguida por uma Emenda Constitucional, a 13.ª, que proibiu a escravatura nos Estados Unidos da América. A emenda tinha sido prevista no programa político do Partido Republicano, durante a preparação das eleições de 1864.
Em 19 de Novembro de 1863, na cerimónia de inauguração do Cemitério Militar de Gettysburg, no local onde se tinha dado a batalha do mesmo nome, Abraham Lincoln profere aquele que, como já o referi mais acima, é para mim um dos  mais bem  elaborados discursos que me foi dado a ler e é esse discurso que eu quero relembrar aqui.
 O discurso foi feito numa carruagem de comboio, precisamente quando o presidente se dirigia a esse lugar de carnificina onde soldados do sul e do norte se encontram enterrados, irmanados na morte, quando não o tinham sido em vida. O orador que procedeu Lincoln falou durante duas horas e no fim, o presidente  (que tinha elaborado o seu discurso nas costas de um envelope ) levanta-se e diz:
"Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais.
Encontramo-nos actualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar.
Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos.
Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes. O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram.
Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra".

O discurso durou 20 minutos, mas perdurará para sempre na memória daqueles que amam o poder das palavras e admiram a  capacidade que alguns seres têm de conseguir manterem-se para sempre na memória colectiva da humanidade.
Na noite de 14 de Abril de 1865, uma 6.ª feira Santa, o actor John Wilkes Booth, defensor da escravatura e com ligações fortes ao Sul, membro de uma família famosa de actores, assassina Abraham Lincoln no Teatro Ford, em Washington.
Morre aquele que ainda é hoje um dos mais amados presidentes dos E.U.A.



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