sexta-feira, junho 24, 2011

Capela Sixtina-Miguel Ângelo


"Estou a viver em grande preocupação, submetido aos maiores esforços corporais, sem ter um amigo, embora não queira nenhum, e sem tempo sequer para comer o essencial".Este foi o angustiante relato da sua situação que Miguel Ângelo apresentou ao seu irmão em 1509.No ano anterior tinha começado a trabalhar na Capela Sixtina, capela essa que foi mandada construir pelo Papa Sixto IV de quem herda o nome.Esse local servia para as reuniões dos cardeais, para a celebração de missas solenes e para a eleição dos Papas. A abóbada da sala de reuniões dos cardeais , com uma área superior a 500m2, estava ornamentada com a pintura de um céu estrelado que Miguel Ângelo deveria substituir por uma decoração com modelos geométricos e com os doze apóstolos.Contudo, o artista não se contentou com este projecto, que segundo palavras suas se tornaria "numa coisa miserável", e apresentou ao Papa um programa totalmente diferente, com mais de trezentas figuras!Em vez dos apóstolos, Miguel Ângelo representou sete profetas e cinco sibilas ladeados por um grande número de outras personagens retiradas de nove livros do Antigo Testamento.Os profetas e profetisas estão sentados em tronos de pedra, a ler pergaminhos e a registar as suas previsões.A sequência das cenas nos painéis principais tem início do lado do altar, com a Criação; porém, Miguel Ângelo começou o trabalho do lado oposto.Ele pintou, por assim dizer, no sentido inverso à ordem cronológica dos acontecimentos representados.É impressionante o modo como as dimensões da personagens se transformaram, com o avanço do trabalho. Quanto mais ele se aproximava do altar, maiores e mais dinâmicas e robustas se tornavam as figuras.Ao fim de três anos e meio passados solitariamente sobre o andaime por ele construído, e após intensas e calorosas disputas com o  Júlio II (de quem a capela herda o nome)  por causa das suas pressões e impaciências, Miguel Ângelo apresentou oficialmente a grande obra à contemplação do clero, no dia 31 de Outubro de 1512.Refere-se que O Juízo Final, na parede do altar, foi pintado entre 1536-1541, segundo uma encomenda do Papa Paulo III.Esta obra de Miguel Ângelo tem particularidades notáveis. Por exemplo, o artista caracterizou a imponente figura de Joel, um dos sete profetas, com uma mestria tal, que a tensão interior da personagem ao ler o pergaminho parece ser sentida fisicamente.Na cena da Separação da Terra e da Água, um fresco com uma dimensão de 395x200cm, Deus aparece no céu cheio de dinamismo, como um turbilhão e ordena com gestos imponentes a separação da terra e da água.O forte efeito de profundidade é produzido porque  a figura está representada em esforço.Outras figuras são também magnificas como é o caso da Criação do Sol e da Lua, assim como as incrível cenas da Criação de Adão, o Pecado Original e a Expulsão do Paraíso.
Mas entremos um pouco mais na técnica dos frescos.







Em Florença, Miguel Ângelo aprendeu a técnica do fresco com o seu primeiro mestre Domenico Ghirlandaio e, tal como o recente restauro da Capela Sixtina (1990-1994) o demonstrou, o artista levou-a, segundo as palavras do restaurador principal, ao auge da perfeição. O termo "fresco" deriva da palavra italiana fresco.O pintor do fresco tem de trabalhar sobre o reboco fresco. Só enquanto este estiver húmido é que se produz uma ligação química com a tinta para que a pintura adira de modo indissolúvel à parede após a secagem.Para pintar um revestimento húmido, que seca com rapidez, o pintor tem de trabalhar ininterruptamente e com muita precisão. Para além disso, só deve preparar a superfície de reboco que consiga pintar num dia. Se olharmos atentamente estes trabalhos diários, chamados de giornate, são perceptíveis no traçado deixado sob a pintura pelos sucessivos rebordos de argamassa. Pelas grandes superfícies de giornate, na pintura da Capela Sixtina, pode reconhecer-se a espantosa velocidade com que Miguel Ângelo trabalhava.Contudo, antes de se pôr em prática a pintura de parede, é necessário efectuar as respectivas reparações. Primeiro reveste-se a parede com várias camadas de argamassa. Geralmente, dá-se em seguida uma camada de reboco áspero e sobre esta um revestimento mais delicado e liso.É esta camada lisa que será finalmente pintada. O artista transpõe para a superfície húmida o desenho previamente feito, em tamanho original, num cartão.Coloca-o sobre a parede e polvilhado traçado perfurado do desenho com pó de carvão para copiar sobre a parede os contornos da sua composição.Os pigmentos têm de ser inteiramente triturados e misturados com a quantidade certa de água.Esta tarefa é, na maioria dos casos desempenhada por ajudantes ou aprendizes. Os retoques e os aperfeiçoamentos nas pinturas só podem ser efectuados sobre a argamassa al secco/seco.A pintura a seco é, no entanto, menos duradoura.O restauro mais recente dos frescos de Miguel Ângelo tornou-se imprescindível uma vez que a pintura se foi alterando ao longo dos séculos por acção do pó e partículas gordurosas.Isso ficou a dever-se não só ao uso de velas e candeeiros a óleo na capela papal, como também á poluição do ar, resultante do trânsito de automóveis em Roma. Para além disso, os frescos forma no século XVIII revestidos com uma forte camada de cola, que lhes deveria garantir uma boa conservação. A camada de sujidade instalou-se sobre o revestimento de cola encobrindo a pintura como se fosse um vidro de janela embaciado. Após a limpeza, as pinturas recuperaram a cor viva original para que o observador possa ter novamente uma ideia do esplendor da cor com que Miguel Ângelo decorou a Capela Sixtina.Para proteger futuramente os frescos,equipou-se a Capela Sixtina com ar condicionado que renova o ar em intervalos de menos de uma hora e filtra o ar poluído vindo de fora.H´+a a referir que no restauro dos frescos, o processo de limpeza é iniciado com água. Em seguida, coloca-se aos poucos bicabornato de amónio sobre as várias camadas de papel japonês, colado em retalhos pequenos. Por fim, o fresco é tratado com água destilada.
Estes magníficos frescos de Miguel Ângelo podem ser apreciados no Palácio do Vaticano em Roma. 


Link para uma visita virtual a esta excepcional capela:http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html

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