As mensagens de telemóveis são os diálogos mais estranhos, mais estapafúrdios e mais kafkianos que os seres humanos conseguem hoje em dia manter entre si. São também perigosas, ridículas, fazem com que amigos se zanguem, namoros se desfaçam, casais se divorciem, e isto tudo porque...são descontextualizadas.Utilizo uma palavra que hoje em dia se usa muito: o Contexto. O contexto é algo que ninguém sabe muito bem o que é mas que faz com que as coisas da nossa vida façam alguma sentido porque têm que permanecer dentro de um contexto, qualquer que ele seja...e as mensagens de telemóveis são tudo menos coisas contextualizadas. São conhecidas as chamadas "fúrias do telemóvel", porque precisamente as palavras são escritas num momento qualquer em que o raciocínio está ...descontextualizado...e tal como as pedras atiradas...também aqui as palavras não voltam atrás. Hoje, uma amiga minha esteve a trocar mensagens com o namorado, e a páginas tantas, as palavras trocadas foram deixando aos poucos de fazer sentido e num rápido crescendo as mensagens trocadas entre ambos começaram a resvalar para um campo, de desconfiança, fúria, zanga e ciumeira despropositada, quando o que ela queria dizer e explicar ao namorado era que estava inocentemente sentada numa esplanada a apanhar sol estando rodeada de "gajos bons"! As palavras "gajos bons" fizeram com que qualquer campainha de alarme retinisse no cérebro do desconfiado do namorado que estava a dezenas de quilómetros e o levasse a julgar que o que ela estava a fazer era a tentar "comer" um desses gajos bons, enquanto ele estava a trabalhar num domingo, e super aborrecido por não poder estar também na dita esplanada perto dela e também a ver "gajas boas".Assim, o que começou com uma troca de mensagens explicativas das andanças dela, acabou ao fim do dia, no término de um namoro de alguns meses, porque cada um tentava explicar por mensagem o seu ponto de vista sem que o outro conseguisse lê-las e perceber o sentido das palavras ali escritas. Espectadora (surpreendida e curiosa) daquele duelo de palavras escritas, e farta de ouvir aquelas lamúrias, coloquei a hipótese, de que talvez fosse melhor ela ligar para ele e explicar o que se estava a passar, pois parecia-me ser o mais lógico a ser feito.Para grande espanto meu, descobri que ela não iria telefonar (não por uma questão de orgulho, o que seria normal, dentro da anormalidade da cena!) mas sim ele porque o telemóvel dela era um 96 e ele era 91!, e que por mensagem acabava o tarifário por ser mais em conta...ou coisa assim, que nem cheguei a perceber muito bem!Afinal, todo aquela fúria de palavras escritas entre ambos tinha como ponto de partida e ponto final (penso eu!) um problema de números e de tarifários, o que me leva a crer que hoje em dia, para qualquer relação dar certo ( se é que alguma coisa dá certo nos dias que correm!) temos primeiro que perguntar ao nosso putativo parceiro amoroso qual a rede que ele usa antes sequer de perguntar pelo nome ou por qualquer outra informação relevante para uma possível aventura amorosa!
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