Há dias estavas a falar com um amigo meu, que se me queixava de dores de cabeça e um certo mau estar porque tinha estado várias horas numa sala de reuniões em que às páginas tantas estava toda a gente a fumar.
Sendo ele um não fumador e com a agravante de se sentir pessimamente em ambientes de fumo, eu perguntei-lhe o porquê de não se ter insurgido contra as pessoas que não se importaram minimamente de estar a acender cigarro após cigarro sabendo que ele não fumava e com a agravante de os tinha advertido para esse facto.
Ele deu-me a resposta que eu no fundo já esperava. Como ele era o único que não fumava e tendo advertido uma vez, (não tendo sido "ouvido"), acabou por se Conformar, levantando-se e abrindo a janela, apesar do frio que ali se instalou, frio esse que pareceu não incomodar grandemente os fumadores.
Ele deu-me a resposta que eu no fundo já esperava. Como ele era o único que não fumava e tendo advertido uma vez, (não tendo sido "ouvido"), acabou por se Conformar, levantando-se e abrindo a janela, apesar do frio que ali se instalou, frio esse que pareceu não incomodar grandemente os fumadores.
Essa conversa e o tom de infelicidade demonstrado por esse meu amigo, fez-me pensar sobre as inúmeras vezes que ao longo da nossa vida nos conformamos quando estamos em minoria como era aqui o caso em apreço.
De facto,aquilo que designamos por conformismo, remete-nos para o simples acomodar do indivíduo perante tomadas de decisão dos outros, sejam elas em palavras, gestos ou atitudes, como era aqui o caso do meu amigo.
Infelizmente,
nos dias de hoje e talvez desde sempre, as pessoas tendem muito a seguir o caminho que lhes é mais
cómodo, aquele em que atingem o seu objetivo, de modo mais rápido, mas nem
todas as vezes, mais produtivo e esclarecedor intelectualmente.
O conformismo
surge assim e precisamente, tanto como um modo de facilitarmos o nosso processo
intelectual e de tomada de decisão, mas também como um vínculo à integração no
grupo em que nos encontramos inseridos. O desejo de aceitação do ser humano é muito poderoso e condutor de atitudes que talvez, numa outra situação, não seriam tomadas, tal como a omissão da mera opinião ou a cedência a uma ideia comum.
Talvez que se nessa sala onde o meu amigo se encontrava, estivesse apenas ele e uma outra pessoa, ele não se conformaria tão facilmente, mas estando muitas mais, ele acabou por ceder ao desejo do grupo minoritário (Stanley Milgran explica isso maravilhosamente) sofrendo as consequências desse seu acto conformista.
Talvez que se nessa sala onde o meu amigo se encontrava, estivesse apenas ele e uma outra pessoa, ele não se conformaria tão facilmente, mas estando muitas mais, ele acabou por ceder ao desejo do grupo minoritário (Stanley Milgran explica isso maravilhosamente) sofrendo as consequências desse seu acto conformista.
Todos nós, em alguma altura da nossa vida, já tivemos de nos conformar com algo, que pode ir da comida disponível para o jantar, seja na nossa casa seja na casa de pessoas amigas ou conhecidas para os quais tenhamos sido convidados, seja ao resultado das eleições do nosso país, seja numa sala de aula, numa reunião, entre múltiplas situações. A vida é pois feita disso mesmo de conformismos aceitáveis a desconformismos rebeldes.
Temos pois que ter sempre em atenção que esse conformismo aceitável por nós, não tem ser necessariamente isento de espírito
crítico, uma vez que aceitar uma determinada ideia ou situação não implica que
esta passe a ser aquela com concordemos ou que aceitamos plenamente. Aliás, se
todas as pessoas se conformassem com tudo o que a vida lhes impõem, ainda hoje
viveríamos em regimes ditatoriais (já há bastantes por esse mundo fora) ou não teríamos qualquer ideia critica daquilo que nos é dado a conhecer. A divergência de ideias não só é extremamente importante como é crucial ao
desenvolvimento da sociedade e do nosso enriquecimento intelectual.
Recorrendo à minha experiência
pessoal, posso admitir que houve já inúmeras situações em que me conformei perante uma
ideia ou em que não expressei a minha opinião como gostaria de o ter feito, mas
tento habitualmente, fazê-lo, pois acredito que a discussão de opiniões é
essencial ao meu crescimento como indivíduo e como membro da sociedade.
Foi isso que eu disse a esse meu amigo, mas no fundo eu sabia que eu naquela situação também se calhar agiria como ele, calar-me-ia, abriria a janela para arejar a sala e e como também não sou fumadora, amaldiçoaria interiormente os fumadores, tentando em outra ocasião ser bem mais precavida para esse tipo de situações tão desagradáveis.
Contudo, admito no entanto, que é-nos mais propício desencadear estas discussões em ambientes em
que nos sinto mais confortáveis e nos quais estamos certos da sua produtividade.
Neste
sentido, sinto que o conformismo apesar de permitir uma certa harmonia entre os indivíduos,posto que sem ele as discussões seriam constantes e a infelicidade imperaria, deve mesmo assim ser bem deliberado, por cada um de nós, e a sua utilização não nos deve fazer cair numa espécie de apatia silenciosa em que aceitemos tudo o que nos é imposto por medo de expressar as nossas opiniões.
Sem comentários:
Enviar um comentário