Imaginemos um mundo onde nas cidades toda a gente tem que estar casada e de preferência com filhos...e se não os conseguirem ter, que os arranjem por adopções e outras coisas que tal. Nesses acasalamentos impostos pelas regras de tal sociedade o amor pode passar perfeitamente ao lado!
Imaginem as pessoas que não consigam esse acasalamento rigidamente imposto e que tem que ser concretizado ao fim de quarenta e tal dias,serem transformados num animal à sua escolha.
Para apimentar ainda mais a coisa, imaginem uma floresta onde solteiros sempre vestido com bizarras capas plásticas contra a chuva, vivam em permanente fuga dos que os tentam caçar para o matrimónio, sendo que aqui e ao contrário das cidades, as leis proíbem qualquer relação afectiva/amorosa e onde um simples abraço, beijo ou outra qualquer manifestação de carinho é punido com penas de tal forma severas que nomeá-las é quase impossível. Por último imaginem dois seres apaixonarem-se e terem que fugir a tais tão duras penas.
É mais ou menos é esta a premissa (aqui bastante soft como é óbvio) do último filme do genial e muito jovem realizador grego Yorgos Lanthimos denominada de A Lagosta, que se encontra em cartaz em Portugal e que eu aconselho vivamente a todos os amantes de filmes a roçarem a genialidade mais kafkiana que a mente humana pode imaginar.
De facto, Lanthimos, partindo de situações banais na vida de um ser humano, o casamento ou a opção de se ser solteiro, transforma essas mesmas opções quotidianas no mais puro horror, mesclado da mais absurda insensibilidade e onde as regras mais bizarras que a mente humana pode criar imperam sem que alguém as questione e quando alguém o faz é obrigado a proceder às acções mais trágico/absurdas que me foi dado a ver há muitos anos a esta parte, para puder escapar à punição e viver livremente.
Contudo, esse viver livremente acaba também por ter algo de assustador e é aqui que vemos que o realizador cria uma sociedade onde fugir a qualquer uma das regras é assustadoramente impossível. Genial nas suas premissas!
Ver este The Lobster é entrar um pouco pelos livros de Kafka e como amante que sou deste escritor foi com genuína boa vontade que me predispus a ver esta obra de um realizador que já nos tinha dado em 2009 Canino e em 2011 Alpeis e que com esta sua última obra ganhou em 2015 o Prémio do Júri no Festival de Cannes.No elenco temos um surpreendente Colin Farell quase irreconhecível de tão gordo que está e que mostra até que ponto este é um bom actor quando é bem dirigido, a sempre genial Raquel Weltz, os seguros Ben Whishaw e John C.Reilly, e a assustadora Léa Seydoux, porque sempre que a vejo em overating fico com um friozinho no estômago.
Aconselho vivamente este A Lagosta quanto mais não seja para nos sentir-mos atirados para um mundo tão semelhante ao nosso e ao mesmo tempo tão diferente e tão assustadoramente absurdo.
1 comentário:
Já vi o filme, como não sabia bem do que se tratava quando fui ver, primeiro pareceu-me sobretudo estranho, mas fixei algumas cenas - fazem-nos pensar e gostei desta crítica.
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