Realizado por Abderrahmane Sissako (franco mauritano) e com as prestações fabulosas de Abel Jafri, Hichem Yacoubi, Kettly Noël, Pino Desperado, Toulou Kiki entre outros este Timbuktu é decididamente um dos melhores filmes do ano em cartaz.
Com vários prémios em carteira entre os quais O César de Melhor Filme, Realizador, Melhor Música Original, Melhor Roteiro Original, Melhor Som,Melhor Montagem e Melhor Fotografia, dominando assim os Prémios Césares e também indicado para o Óscar de Melhor filme Estrangeiro (perdeu para Ida), Timbuktu leva-nos a uma pacata aldeia do Malique vê a sua vida virada do avesso quando por ela entra um grupo de fundamentalistas islâmicos impondo as suas absurdas leis e regras de conduta sem terem a racionalidade de ver o quão ridículas as mesmas são.
O realizador mostra-nos de uma forma muito irónica e por vezes até trágico-cómica como de facto impor que peixeiras arranjem o seu peixe de luvas de lã negras até ao cotovelo, fumar, ou proibir o canto a menos que o mesmo seja em louvor a Alá, ou proibir jogos de bola se tornam leis perfeitamente absurdas e ao arrepio de qualquer racionalidade. Até o riso é proibido, já não falando da dança e de outras demonstrações de júbilo e alegria.
O jogo de futebol realizado pelos miúdos da aldeia em que não existe uma bola mas em que a coreografia é perfeita e completamente entendível e os jovens que à noite se reúnem para cantar e tocar são das cenas de cinemas mais incríveis que vi nos últimos tempos.
Tudo é proibido pelas leis fundamentalistas, tudo é imposto por um grupo de homens que escondem as suas muitas fraquezas e total ignorância atrás das armas. Os vícios privados , a concupiscência a cobiça à mulher do próximo não deixam de dominar estes homens que impõem as suas leis, mostrando que o ser humano é todo igual, só que uns são mais iguais que os outros.
Kidane vive com a sua amada Satima, a filha Toya e tem como filho adotivo Issan um pastor de 12 anos que guarda as suas oito vacas entre as quais está GPS a sua preferida. Um dia alguém que julga que o rio é só seu mata-lhe a sua vaca preferida e de um momento para o outro a vida idílica de Kidane é mudada radicalmente.
Este universo de Kidane nada mais é do que uma alegoria ao universo das muitas terras ocupados por gente que de arma em punho chega para impôr aquilo que acham ser o mais acertado sem ter qualquer racionalidade sobre essas mesmas leis a não ser a leitura deturpada de um livro. Ver este Timbuktu é literalmente entrar num universo perfeitamente kafkiano em que os mais fracos se têm de sujeitar aos mais fortes sem questionar nada, apenas e só entrando num túnel absolutamente escuro e onde tantas vezes muitas destas populações que estavam perfeitamente integradas no seu meio ambiente acabam mortas ou em dantescos campos de refugiados.
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