domingo, julho 28, 2013

Só Deus Perdoa

Um dos meus filmes preferidos e sobre o qual eu já aqui escrevi um post é o filme  "Disponível para Amar" do realizador  Kar Wai Wong. A estética deste filme, a sua história, envolvência, cenários, planos, história, diálogos, são para mim únicos dentro do panorama cinematográfico e não raras vezes dei por mim a pensar o quão difícil qualquer outro realizador criar uma obra que se assemelhasse a esta, visto que Disponível para Amar é um objecto, único, irrepetível, e mesmo quando vi o outro filme do realizador "2046" e apesar de vermos ali a mão do mesmo, senti que este último não era uma continuação do Disponível para Amar, como é voz corrente, mas sim um objecto muito...Kar Wai Wong,. sem a beleza (a meu ver) do Disponível para Amar.
 Eis então, que  surge agora nas salas de cinema o filme Only God Forgives, "Só Deus Perdoa", do realizador Nicolas Winding Refn, o mesmo do belíssimo filme Drive e de Valhalla Rissing.
A estética de Só Deus Perdoa,vai completamente ao encontro do da estética de Kar Wai Wong e do seu Disponível para Amar, só que aqui se quisermos ser mauzinhos estamos perante um disponível para matar, disponível para estropiar, disponível para derramar todo o sangue do mundo!
 Penso que ao realizar este estranho objecto cinematográfico que é Só Deus Perdoa Nicolas Winding Refn, quis talvez homenagear o realizador chinês, pois só assim se compreende aqueles planos, aquela ausência de diálogos, aqueles olhares, aqueles cenários. Aqui, no lugar de dois casais trocados e onde o amor anda por caminhos trocados, colocou uma mãe...e que mãe... uma magnifica Kristin Scott Thomas, que perto de Lady Macbeth, transforma esta última  numa santa de altar. Colocou como seu par um filho, o excelente Ryan Gosling, que percorre o filme assombrado pelo peso de ter nascido de um dos ventres mais negros que a história do cinema já nos mostrou.
Nada neste filme é fácil, é delicado, é frágil. À excepção das frágeis crianças que ali aparecem e que tudo observam com olhos esbugalhados, o que vemos são anjos vingadores, caídos uns em desgraça, amarrados a um eterno destino  sangrento e onde o clube de boxe acaba por ser  metáfora desse permanente estado de violência. Outros de espada na mão, deambulam pela cidade  de Banguecoque imbuídos de uma missão redentora e nesse aspecto a figura maior é de Vithaya Pansringarm, soberbo no seu papel, anjo redentor, anjo vingador que de um golpe só decepa vidas e com a mesma delicadeza com que chega a casa e aconchega a filha na cama.
Um filme estranho, magnífico, terrífico, com  actores em estado de graça. Está de parabéns o realizador, assim como a grande Kristin Scott Thomas, que paulatinamente se vai afirmando como uma das figuras grandes do panorama cinematográfico.
Como sempre adorei Ryan Gosling.
Um filme a ver. Eis o trailer.

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