quarta-feira, dezembro 05, 2012

Sísifo e Cassandra

Se há duas personalidades na mitologia grega que eu gosto  são as de Sísifo e de Cassandra. Gosto delas pela tragédia que  os impregna e pela quantidade de teorias, filmes, livros, peças de teatro, ensaios,obras de arte, etc, que ambas sempre proporcionaram até aos dias de hoje. Há coisa de uns dias aluguei um filme e todo ele girava em torno de Sísifo e via-se que o realizador tinha um carinho especial por essa personagem, conseguindo transpor a  desgraça deste personagem, para o filme, colocando na sua 'pele' uma personagem feminina condenada ad eternum a realizar sempre a mesma viagem, vezes sem conta , visto ter tido a ousadia de enganar/fintar a morte. O filme era terrível na sua essência e no fim, tudo recomeçava, posto que aquela mulher estava condenada para sempre sem que contudo no eterno reinicio da sua eterna viagem, não ter a capacidade de perceber que iria repeti-la pela enésima vez. Castigo terrível!
Mas quem foi Sísifo?
Sísifo, rei da Tessália e de Enarete, era o filho de Éolo. Fundador da cidade de Éfira, que mais tarde veio a chamar-se Corinto, e também dos jogos de Ístmia (ou Ístmicos). Sísifo tinha a reputação de ser o mais habilidoso e esperto dos homens e por esta razão dizia-se que era pai de Ulisses. Sísifo despertou a ira de Zeus quando contou ao deus dos rios, Asopo, que Zeus tinha sequestrado a sua filha Egina. Zeus mandou o deus da morte, Tanatos, perseguir Sísifo, mas este conseguiu enganá-lo e prender Tanatos.
A prisão de Tanatos impedia que os mortos pudessem alcançar o Reino das Trevas, tendo sido necessário que fosse libertado por Ares. Foi então que Sísifo, não podendo escapar ao seu destino de morte, instruiu a sua mulher a não lhe prestar exéquias fúnebres.
Quando chegou ao mundo dos mortos, queixou-se a Hades, soberano do reino das sombras, da negligência da sua mulher e pediu-lhe para voltar ao mundo dos vivos apenas por um curto período, para a castigar. Hades deu-lhe permissão para regressar, mas quando Sísifo voltou ao mundo dos vivos, não quis mais voltar ao mundo dos mortos. Hermes, o Deus mensageiro e condutor das almas para o Além, decidiu então castigá-lo pessoalmente, infligindo-lhe um duro castigo, pior do que a morte. Sísifo foi condenado para todo o sempre a empurrar uma pedra até ao cimo de um monte, caindo a pedra invariavelmente da montanha sempre que o topo era atingido. Este processo seria sempre repetido até à eternidade.Há imagens, pequenos filmes, cartoons, etc, que ilustram a imagem deste ser carregando com grande esforço a sua pedra montanha acima. bem que a tenta manter lá, mas inexoravelmente ela rola montanha abaixo e ele terá que recomeçar a sua tarefa novamente. Dar-se-á ele conta de que o faz para toda a eternidade'?Não sei!Esperemos que não. Esperemos que entregue a esta tarefa insana viva alheado de tudo e de todos. Que  apenas viva para a sua maldição, punição e agonia.
 
Cassandra é uma desgraçada. Reza a história que esta personagem tinha um irmão gémeo, de seu nome Heleno. Ambos quando eram crianças foram para o templo  de Apolo brincar. Distraídos que estavam não deram conta que tinha anoitecido. Passaram então a noite nesse local.De manhã quando deram conta que ambas as crianças estavam perdidas, toda a gente os procurou e quando os encontraram depararam-se com ambos deitados sobre serpentes que passavam as suas línguas dentro dos seus ouvidos. Como resultado disso ambas as crianças tornaram-se tão sensíveis a nível auditivo que isso lhes permitia ouvir as vozes dos deuses. Cassandra foi crescendo tornando-se uma jovem de beleza estonteante e devota servidora do Deus Apolo. Este deslumbrado com  a sua beleza ensinou-lhe os dons da profecia e Cassandra tornou-se  uma profetisa. Contudo, há um senão. Casta que era ela recusa-se a dormir com Apolo. Este despeitado lança-lhe uma maldição, a de que ninguém jamais viria a acreditar nas suas previsões ou profecias. Assim, Cassandra passa a ser considerada louca ao tentar comunicar a população troiana as previsões de desgraça a que a cidade estava fadada nomeadamente a tomada da cidade de Tróia, e nem as suas advertências ao rei Príamo sobre o embuste do cavalo que os gregos introduziram na cidade tiveram qualquer credibilidade. Como resultado disso a cidade foi tomada. Cassandra refugia-se no templo de Atena onde é descoberta pelo brutal Ájax e violada. Há histórias que a dão como vendida a Agamenon, que a leva para Micenas onde mais tarde, devido à sua beleza, acaba por provocar ciúmes à rainha Clitemnesta que a manda assassinar. Há outras versões que não são tão trágicas sobre o fim desta mulher, nomeadamente o arrependimento de Ájax sobre a infâmia que tinha cometido sobre ela, doando  uma cidade  à mesma e um templo onde seria adorada.
Cassandra é  a personificação da desgraça.É aquela figura do mau agoiro, aquela que tenta avisar para futuros funestos mas que ninguém liga, aquela que prevê o nosso  próximo passo que ninguém escuta.  Ela sofre com o horror da adivinhação do futuro de todos aqueles que a rodeiam, juntando-se a isso a agonia  de não ser ouvida. Um dom  maravilhoso, que acaba por ser uma maldição, posto que por mais que ela possa saber aquilo que o futuro  espera  aos que a rodeiam depara-se com o muro da total descrença nesse mesmo futuro. De facto a adivinhação do nosso futuro é um dom que aos humanos não é concedido e ao ser, surge a maldição de não se  ser ouvido.Os deuses sabem fazer as coisas!

Sem comentários: