segunda-feira, abril 21, 2014

The Act of Killing

Gosto muito de ver documentários e por isso fui ver este The Act of Killing. Confesso que não estava preparada para tal documentário/filme. Eu já tinha lido muito acerca do mesmo  e até sabia que o mesmo se tinha batido taco a taco com o documentário "A Dois Passos do Estrelato", que também está em cartaz e tinha saído perdedor. É pena, porque sem ainda ter visto este último, asseguro-vos que este O Acto de Matar é para mim e para muitos um dos melhores documentários/filme que se fez até hoje.
 É um murro no estômago e talvez por isso na bilheteira o funcionário optou por me alertar sobre a natureza violenta do mesmo e digo-vos já aqui que a violência não passa pelos actos (também os há mas em encenação) mas mais  pelas palavras que ali são proferidas, visto que o que aqui se trata é a condição humana e como seres que se dizem humanos podem perpetrar actos da mais completa barbárie em defesa de um país e contra gente que "supostamente" era comunista, chinesa ou que simplesmente estava a viver no país errado.
 De facto, neste documentário que vemos são senhores da guerra (se é que à essas pessoas se pode colar tal designação) que imbuídos de uma pseudo verdade e em nome da defesa da sua pátria praticam durante anos as mais completas atrocidades, sem que o resto do mundo fizesse o que quer que fosse para pôr fim a tais actos.
 Estamos  em 1901 e Sukamo  era um nacionalista empenhado na independência da Indonésia em relação à Holanda, algo que conseguiu em 1945, tornando-se o primeiro presidente do seu país. Com o passar dos anos, a sua administração foi forjando alianças com os comunistas.
 Quando, em 1965, Suharto (1921-2008) liderou o golpe de Estado que conduziria à deposição de Sukarno, foi inaugurada uma era de repressão sem precedentes. Sob as novas ordens de Suharto, foram criados esquadrões da morte cujo objectivo era o total extermínio de comunistas, activistas de esquerda, chineses e todos aqueles que se opusessem ao regime. Os números apontam para cerca de um milhão e meio de mortos e desaparecidos durante esse período. Os autores de tal violência nunca foram responsabilizados e hoje são promovidos pelo Governo e vistos como uma espécie de heróis nacionais.
Décadas depois destes trágicos eventos, o documentarista norte-americano Joshua Oppenheimer chega à Indonésia determinado a fazer um filme sobre os sobreviventes e familiares das vítimas. Quando lhe é impossibilitado o livre contacto com essas pessoas, percebe que, por outro lado, tem acesso privilegiado a alguns membros dos esquadrões da morte. Para sua surpresa, estes homens, orgulhosos do seu papel na História do seu país, estão interessados em colaborar com as filmagens. Assim, Oppenheimer e os seus co-realizadores, a britânica Christine Cynn e um indonésio que quis manter o anonimato, filmam os protagonistas, que se assumem dando rosto e voz às suas histórias e encenando para as câmaras os terríveis eventos de que fizeram parte..
Quando o documentário acaba o genérico vai passando lentamente e sem música e o que ali vemos é o maior numero de anónimos que alguma vez uma ficha técnica teve, isto porque o terror infundido por esta gente é de tal ordem que ninguém que colaborou na realização do documentário quer-se expor,  até porque essa famigerada juventude "Pancasilha" ainda hoje existe e está bem activa nos seus actos de extorsão, violações, corrupção, roubos generalizados, etc, etc.
São donos e senhores de uma Indonésia, muito longe de algum dia poder ser uma democracia.
Chega a ser demencial ver aqueles homens simularem para as câmaras de filmar actos ( que os mesmos perpetraram com grande regozijo, satisfação e ao som de trombetas) que nem nos nossos pesadelos mais terríveis podemos julgar existir.
 Este documentário, que conta com Werner Herzog, Errol Morris, Joram ten Brink e Andre Singer na equipa de produção, tem feito carreira em vários festivais internacionais, tendo recebido o Bafta para Melhor Documentário e a tal  nomeação para o Óscar na mesma categoria., que infelizmente perdeu, pois se o tivesse ganho tinha talvez
 alertado mais as pessoas para o horror do que ali se passou e que de alguma forma ainda hoje continua a existir se bem que bem menos visível.
Um documentário imperdível.

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