História de um Quadro:Napoleão Cruzando os Alpes

Jacques-Louis David autor da obra qui presente, nasceu numa próspera família parisiense. Quando tinha nove anos o seu pai foi morto num duelo, e a sua mãe entregou-o aos cuidados de uns tios abastados, que providenciaram para que J.L.David tivesse uma educação primorosa no Collège des Quatre-Nations, mas ele jamais foi um bom aluno pois sofria de um tumor na face que afectava a sua fala, passando então o seu o tempo a desenhar. Desejava ser pintor, contrariando os planos da sua mãe e tios, que queriam que fosse arquitecto. Vencendo a oposição, tornou-se aluno de François Boucher, e o principal pintor de sua geração, que era também seu parente distante. Mas Boucher, em vez de aceitá-lo como discípulo, enviou-o para aprender com Joseph-Marie Vien.Mais tarde sob influência desse seu mentor,J.L.David entra para a Academia Real das Artes Francesas. Tentou o Prêmio de Roma por quatro vezes, sendo em todas preterido. Depois do quarto fracasso iniciou uma greve de fome, mas não a levou até ao fim por manifesta falta de vontade. Finalmente em 1774 teve o sucesso tão esperado,pois conseguiu ingressar na Academia de Roma. A ajuda do professor Vien poupou-o de um estágio preliminar em outra escola, o que era uma praxe. Lá executou inúmeros desenhos e esboços das ruínas da cidade histórica, material que o auxiliou para as arquitecturas das suas telas ao longo de toda a vida. Estudando os antigos mestres, sentia uma predilecção especial pelo grande pintor italiano Rafael. Depois destas impressões tão fortes decidiu adoptar nos seus trabalhos um estilo de acordo com os conceitos do classicismo.
O quadro que aqui surge conhecido como "Napoleão no Saint-Bernard Pass" ou "Bonaparte cruzando os Alpes" é o título dado às cinco versões de um óleo sobre tela pintado por J.L.David. Retrato equestre de Napoleão Bonaparte, pintado pelo artista entre 1811 e 1815 foi inicialmente, encomendado pelo rei da Espanha. A composição mostra uma visão fortemente idealizada da verdadeira passagem de Napoleão e seu exército feito através dos Alpes em 1800. Tendo tomado o poder em França Napoleão decidiu voltar para a Itália para reforçar as tropas francesas no país e retomar o território tomado pelos austríacos nos anos anteriores. Na primavera de 1800 ele levou o Exército de Reserva nos Alpes por meio do Grande São Bernardo, feito esse que leva posteriormente à realização da obra aqui presente.A instalação de Napoleão como primeiro cônsul e da vitória francesa em Itália, permitiu uma aproximação com Carlos IV de Espanha . Enquanto as negociações estavam em curso para restabelecer as relações diplomáticas, a tradicional troca de presentes aconteceu. Carlos IV recebeu 2 pistolas fabricadas em Versailles, vestidos dos melhores costureiros de Paris, jóias para a sua rainha . A Napoleão foi oferecido dezesseis cavalos espanhóis das cavalariças reais, retratos do rei e da rainha, pintados por por Goya , e o retrato que estava a ser encomendado a J .L. David. O embaixador francês em Espanha, Charles-Jean-Marie Alquier , solicitou a pintura original a J.L. David em nome de Carlos IV.O retrato era para ser colocado no Palácio Real de Madrid, como um símbolo da nova relação entre os dois países. J.L. David, que tinha sido um fervoroso apoiante da revolução francesa,ficou bastante sensibilizado com o convite. Ficou ainda mais sensibilizado ao saber do pedido de Napoleão para produzir mais três versões: uma para o Château de Saint-Cloud , uma para a biblioteca de Les Invalides , e um terceiro para o palácio da República Cisalpina em Milão. A quinta versão foi produzida por David e permaneceu consigo, até à sua morte. A pintura original permaneceu em Madrid até 1812, quando foi adquirido por Joseph Bonaparte depois de sua abdicação como Rei de Espanha. Mais tarde levou o quadro com ele, quando foi para o exílio nos Estados Unidos.No fim da sua vida, a sua sobrinha-neta Eugenie Bonaparte , legou a obra ao Museu do Château de Malmaison onde permanece até hoje .
A versão produzida para o Château de Saint-Cloud de 1801 foi removida do local em 1814. Agora,está patente ao público no Palácio de Charlottenburg em Berlim .
O exemplar de 1802 para Les Invalides foi retirado de lá permaneceu guardado nas caves do palácio até que em 1837 foi levado para o Palácio de Versalhes , onde permanece os dias de hoje.
A versão 1803 que foi entregue ao Palácio Cisalpina em Milão foi confiscado em 1816 pelos austríacos. No entanto, o povo do Milão recusou-se a entregá-lo e o quadro permaneceu na cidade até 1825. Finalmente, foi instalado no Palácio Belvedere , em Viena , em 1834. Continua lá até hoje, fazendo parte da colecção da Österreichische Galerie Belvedere .
A versão mantida por J.L.David até à sua morte em 1825 foi exibido no Bazar Bonne-Nouvelle , em 1846 .Em 1850, foi oferecido para o futuro Napoleão III pela filha de David, Pauline Jeanin, e instalado no Palácio das Tulherias . Em 1979, foi ofercido ao museu do Palácio de Versailles.
Aquando da realização deste quadro foi pedido a J.L.David que retratasse Napoleãode pé no uniforme do Primeiro Cônsul , provavelmente, no espírito dos retratos que mais tarde foram produzidos por Antoine-Jean Gros , Robert Lefèvre ( Coroação de Napoleão) e Jean Auguste Dominique Ingres ( Napoleão I no seu Trono Imperial ).Contudo J.L.David fez questão de pintar Napoleão num cenário equestre. Consta que o embaixador espanhol, Ignacio Muzquiz, informou Napoleão da intenção de J.L.David e perguntou se ele gostaria de ser representado desse modo. Napoleão terá ficado indeciso entre ser representado passando revista às tropas ou num cenário equestre, optando por este último. Esta obra acabou por servir de propaganda aos feitos Napoliónicos tendo o próprio Bonaparte pedido a David que o retratasse "calmamente montado num cavalo de fogo" (Calme fougueux sur un cheval). Poucos projectos e estudos preparatórios foram realizados,para a realização desta obra contrariamente à prática habitual de J.L.David. Gros, aluno de J.L. David, produziu um pequeno esboço a óleo de um cavalo a ser refreado, que era um estudo provável para a montagem de Napoleão em cima do cavalo. A falta de estudos iniciais pode em parte ser explicada pela recusa de Bonaparte para sentar-se para o retrato. Ele tinha sentado para Gros em 1796 por insistência de Joséphine de Beauharnais , mas Gros queixou-se de que ele não tinha tido tempo suficiente para que a sessão fosse bem realizada, devido à lendária impaciência do próprio Napoleão. Então, incapaz de convencer Napoleão a sentar-se para a foto, J.L.David teve um busto como ponto de partida para suas características, e colocou o seu filho em cima de uma escada como modelo para a postura equestre de Napopeão. Dois dos cavalos de Napoleão foram utilizados como modelos para o cavalo de fogo ": a égua" La Belle ", que aparece na versão realizada em Charlottenburg, e o famoso "cinza Marengo" que aparece na versão realizada para Versailles e Viena. Gravuras da obra"Voyage pittoresque de la Suisse" serviram como modelos para a paisagem. O primeiro dos cinco retratos foi pintado em quatro meses, a partir de Outubro 1800 a Janeiro de 1801. Após a conclusão da versão inicial, J.L.David começou imediatamente a trabalhar na segunda versão, que foi concluída em 25 de Maio, data da inspecção de Bonaparte dos retratos na oficina de J.L.David no Palácio do Louvre. Dois dos alunos de J.L.David ajudaram na produção de diferentes versões: Jerome Martin Langlois, que trabalhou principalmente nos dois primeiros retratos, e George Rouget que produziu a cópia para o palácio de Les Invalides. O quadro original encontra-se no Museu Nacional de Malmaison, Paris, França .É óleo sobre tela e tem 260x221 cm.