Há dias passou na RTP 1, às tantas da madrugada um filme que quando esteve em cartaz eu não tive oportunidade de ver com grande pena minha. O filme denominado
Eu Sou o Amor é do realizador italiano
Luca Guadagnino e a única coisa que posso dizer é que o filme é belíssimo, daquelas obras que vou guardar no meu coração e que irei ver se o mesmo está à venda porque procurarei revê-lo algumas vezes. Tem a grande Tilda Swinton ( que eu amo de coração) como protagonista principal coadjuvada por Alba Rohrwacher, Edoardo Gabbriellini, Flavio Parenti, Pippo Delbono e a grande Marisa Berenson.
Assistir a este filme é para mim como assistir a uma Ópera, uma ópera de cariz puramente familiar, em que Tilda Swinton, é o pilar básico e que quando desmorona, vai levando atrás dela o resto da família. Ela aqui é uma russa, que apenas dialoga em russo com o seu filho do meio e é através deste e da sua filha mais nova (nunca através do marido, que a vê apenas e só como figura decorativa) que vamos descobrindo um pouco do pensar desta mulher que sendo a matriarca de uma abastadíssima família milanesa, os Recchi é também o seu elemento mais opaco, quase transparente para o marido, ('tu não existes'!) diz ele a páginas tantas, e que contudo é o elemento mais apaixonado e mais vivo deles todos!
O realizador consegue desde o primeiro momento que vemos esta mulher Emma de seu nome, dar-nos a ver uma mulher que reprime continuamente as suas paixões, sendo uma delas pela culinária e não deixa de ser espantoso e quase antológico vê-la degustar gulosamente o prato de marisco cozinhado por António, a sua grande paixão! E é ao dar-se o encontro entre ela e António, o melhor amigo do filho, ambos amantes da comida que se inflamam as paixões e se dá início ao desmoronar da frieza desta matriarca, arrastada sem freio para uma paixão incomensurável por um homem que desde o primeiro momento vemos que ele é tudo aquilo que o filho mais novo queria ser e não pode, arreigado que tem de estar aos valores familiares.
Vemos também aqui ao desmembramento de uma família através do seu tecido empresarial, quando o patriarca decide vender a fábrica que deu nome a esta família e os unia como fios entrelaçados numa tela e não é sem razão que vemos que o que sempre fez a grandeza da família foi a produção de tecidos, agora vendidos a terceiros sem grandes remorsos e pruridos por parte do patriarca mas com grande dor por parte de Edo, o filho mais velho que procura manter a tradição familiar. E não é sem razão que Edo vai ser o elemento trágico, aquele que vai fazer Emma dar o passo definitivo rumo a uma outra vida.
O filme tem uma fotografia linda, imagens fabulosas, Milão é quase sempre visto de cima através das cúpulas das catedrais, elementos artísticos muito presentes em toda a história.
A própria homossexualidade da filha mais nova , o elemento artístico da família e que por isso se distancia dela procurando outras vivências, é-nos mostrada de um ponto de vista extremamente sensível e tocante e através da sua transformação física . Não podemos esquecer Ida a governanta que assiste silenciosamente toda a família, sofrendo por ela e que no fim faz as malas à matriarca e sendo quem mais chora por ela.
Tilda Swinton, despe-se sem preconceitos, mostra o seu corpo sem qualquer pudor, não há retoques de imagem, aquilo que ela mostra, é aquilo que ela é, vemos, cada sinal e cada pequena rugosidade do seu corpo, e o mais espantoso para mim é a imagem final, em que despojada de riquezas, maquilhagem, cabelos cortados ela finalmente mostra toda a sua paixão e então não hesita e sai! Caí o pano sobre o filme e termina a "ópera".
A música é também aqui um elemento chave, e o título do filme o realizador vai busca-lo à cena capital e espantosa do filme Filadélfia em que Tom Hanks já quase no fim da vida ouve Maria Callas e o seu Io sono l'amore, perante um Denzel Washington perfeitamente estarrecido.
Se há algumas dúvidas que Tilda Swinton é uma atriz divina, elas aqui são perfeitamente confirmadas, e para mim este é um filme sublime!